“O Brasil deve zelar pela manutenção da narrativa espontânea dos povos árabes e defender a busca autônoma pela resolução das questões internas”, disse o Ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, sobre o papel do país nas atuais transformações do mundo árabe.
Para ele, a intervenção de países ocidentais na Líbia pode mudar o curso da história das mobilizações populares que tem ocorrido desde o início do ano no mundo árabe. O mesmo argumento, segundo o diplomata, poderia ser usado em casos como os do Iêmen e do Bahrein.
“A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira passada (17/03) chega a dar medo” afirmou Patriota em uma conferência realizada nesta terça-feira (22/03) na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo). “Temo todas essas ‘medidas necessárias que podem ser tomadas‘ pelo Conselho de Segurança de acordo com o texto aprovado”, afirmou.
Além disso, o Ministro de Relações Exteriores se mostrou receoso com o número de civis mortos que as ofensivas internacionais podem provocar. “O objetivo não é exacerbar as tensões, ao contrário”, argumentou.
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Segundo o chanceler, o principal ponto de descontentamento com o texto é o trecho que autoriza a utilização de "todas as medidas necessárias para proteger os civis”, já que isso inclui a realização de ataques aéreos como vem acontecendo há quatro dias.
“Primeiramente, a resolução submetia Kadafi ao TPI (Tribunal Penal Internacional), embargava as armas no país, limitava o movimento do governo e congelava os bens do líder líbio no plano internacional, o que até então era um consenso entre os membros do Conselho de Segurança”, relembrou.
Em um segundo momento, porém, o parágrafo que dava o aval para a ONU realizar as intervenções na Líbia conforme a necessidade determinada pelo próprio órgão causou discórdia entre os países, segundo Patriota.
“Não acredito que, se a resolução previsse apenas a zona de exclusão aérea, um consenso total seria fácil, nem que essa seja a solução. Mas acredito que o texto aprovado dá brecha para modificações e intervenções ocidentais maquiadas pelo pretexto de um motivo nobre: a proteção dos civis”, argumentou.
Questionado sobre a abstenção do Brasil na votação do Conselho, Patriota preferiu não se manifestar se teria optado por um voto contra.
O chanceler, porém, garantiu que o Brasil trabalhará para que as intervenções internacionais não interfiram no desenrolar das questões internas líbias, como foi defendido pela representante do Brasil nas Nações Unidas, Maria Luiza Viotti, durante a conferência que decisiu pela medida.
Ao justificar a abstenção, Viotti afirmou que a opção brasileira não deve ser interpretada como “endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência”. Segundo ela, o governo brasileiro “não está convencido” de que o uso da força, como definido na resolução aprovada, levará ao fim da violência e garantirá a proteção aos civis.
Na ocasião, a embaixadora disse que o Brasil é solidário às manifestações populares, que ocorrem no Norte da África e também no Oriente Médio. Para ela, são movimentos que expressam “reivindicações legítimas por melhor governança".
O Ministro das Relações Exteriores, por sua vez, classificou como “legítima e necessária” a busca pelo progresso econômico, social e político reivindicado pelos manifestantes dos países árabes, mas alertou a importância do respeito aos direitos humanos e à realização de transições de poder pacíficas.
Governo Dilma
Durante a Conferência, que foi organizada em uma parceria entre o Itamaraty, a USP e a Bibliaspa, Patriota falou também sobre a política externa da atual gestão.
Para ele, a busca de “multipolaridade benigna” caracteriza o governo de Dilma Rousseff. “Estamos procurando amenizar cada vez mais as assimetrias do passado e dar voz a novos atores políticos, como o próprio Brasil”, disse.
Patriota acredita que, desta forma, processos multilaterais mais inclusivos possam se tornar fórmulas, ou pelo menos boas alternativas, para solucionar conflitos e caminhar no sentido de processos de paz, tanto nos países árabes quanto em todo o mundo.
Pensando nisso, o chanceler chegou a dizer que o Brasil poderia se colocar como um importante ator político no caso da Líbia e posteriormente do Bahrein e do Iêmen. “Considerando a importante posição que conquistamos com a política externa do governo Lula e com o crescimento econômico que o Brasil tem registrado, passamos a ter a oportunidade de exercer nossa interlocução em cenários conflituosos. No caso da Líbia, por exemplo, temos a vantagem de sermos autossuficientes na questão petrolífera, principal motivo de disputas na região, o que nos torna imparciais”, justificou.
O Ministro das Relações Exteriores citou o fato de o Brasil possuir a maior comunidade árabe fora da região como outro ponto vantajoso em uma possível interlocução nos conflitos atuais. Além disso, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a tornar-se observador da Liga Árabe e tem estreitado laços comerciais com a região.
“Chega a parecer que o Brasil se antecipou em fortalecer os laços com o mundo árabe pouco antes de sua sublevação. Nos últimos tempos abrimos embaixadas em países daquela região, estabelecemos relações diplomáticas e intensificamos o comércio”, afirmou.
Para 2011, segundo ele, está previsto o estabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com os 192 países membros da ONU. Restam, até o momento, apenas dez para que a meta seja atingida.
Para ele, a intervenção de países ocidentais na Líbia pode mudar o curso da história das mobilizações populares que tem ocorrido desde o início do ano no mundo árabe. O mesmo argumento, segundo o diplomata, poderia ser usado em casos como os do Iêmen e do Bahrein.
“A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira passada (17/03) chega a dar medo” afirmou Patriota em uma conferência realizada nesta terça-feira (22/03) na FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo). “Temo todas essas ‘medidas necessárias que podem ser tomadas‘ pelo Conselho de Segurança de acordo com o texto aprovado”, afirmou.
Além disso, o Ministro de Relações Exteriores se mostrou receoso com o número de civis mortos que as ofensivas internacionais podem provocar. “O objetivo não é exacerbar as tensões, ao contrário”, argumentou.
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Segundo o chanceler, o principal ponto de descontentamento com o texto é o trecho que autoriza a utilização de "todas as medidas necessárias para proteger os civis”, já que isso inclui a realização de ataques aéreos como vem acontecendo há quatro dias.
“Primeiramente, a resolução submetia Kadafi ao TPI (Tribunal Penal Internacional), embargava as armas no país, limitava o movimento do governo e congelava os bens do líder líbio no plano internacional, o que até então era um consenso entre os membros do Conselho de Segurança”, relembrou.
Em um segundo momento, porém, o parágrafo que dava o aval para a ONU realizar as intervenções na Líbia conforme a necessidade determinada pelo próprio órgão causou discórdia entre os países, segundo Patriota.
“Não acredito que, se a resolução previsse apenas a zona de exclusão aérea, um consenso total seria fácil, nem que essa seja a solução. Mas acredito que o texto aprovado dá brecha para modificações e intervenções ocidentais maquiadas pelo pretexto de um motivo nobre: a proteção dos civis”, argumentou.
Questionado sobre a abstenção do Brasil na votação do Conselho, Patriota preferiu não se manifestar se teria optado por um voto contra.
O chanceler, porém, garantiu que o Brasil trabalhará para que as intervenções internacionais não interfiram no desenrolar das questões internas líbias, como foi defendido pela representante do Brasil nas Nações Unidas, Maria Luiza Viotti, durante a conferência que decisiu pela medida.
Ao justificar a abstenção, Viotti afirmou que a opção brasileira não deve ser interpretada como “endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência”. Segundo ela, o governo brasileiro “não está convencido” de que o uso da força, como definido na resolução aprovada, levará ao fim da violência e garantirá a proteção aos civis.
Na ocasião, a embaixadora disse que o Brasil é solidário às manifestações populares, que ocorrem no Norte da África e também no Oriente Médio. Para ela, são movimentos que expressam “reivindicações legítimas por melhor governança".
O Ministro das Relações Exteriores, por sua vez, classificou como “legítima e necessária” a busca pelo progresso econômico, social e político reivindicado pelos manifestantes dos países árabes, mas alertou a importância do respeito aos direitos humanos e à realização de transições de poder pacíficas.
Governo Dilma
Durante a Conferência, que foi organizada em uma parceria entre o Itamaraty, a USP e a Bibliaspa, Patriota falou também sobre a política externa da atual gestão.
Para ele, a busca de “multipolaridade benigna” caracteriza o governo de Dilma Rousseff. “Estamos procurando amenizar cada vez mais as assimetrias do passado e dar voz a novos atores políticos, como o próprio Brasil”, disse.
Patriota acredita que, desta forma, processos multilaterais mais inclusivos possam se tornar fórmulas, ou pelo menos boas alternativas, para solucionar conflitos e caminhar no sentido de processos de paz, tanto nos países árabes quanto em todo o mundo.
Pensando nisso, o chanceler chegou a dizer que o Brasil poderia se colocar como um importante ator político no caso da Líbia e posteriormente do Bahrein e do Iêmen. “Considerando a importante posição que conquistamos com a política externa do governo Lula e com o crescimento econômico que o Brasil tem registrado, passamos a ter a oportunidade de exercer nossa interlocução em cenários conflituosos. No caso da Líbia, por exemplo, temos a vantagem de sermos autossuficientes na questão petrolífera, principal motivo de disputas na região, o que nos torna imparciais”, justificou.
O Ministro das Relações Exteriores citou o fato de o Brasil possuir a maior comunidade árabe fora da região como outro ponto vantajoso em uma possível interlocução nos conflitos atuais. Além disso, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a tornar-se observador da Liga Árabe e tem estreitado laços comerciais com a região.
“Chega a parecer que o Brasil se antecipou em fortalecer os laços com o mundo árabe pouco antes de sua sublevação. Nos últimos tempos abrimos embaixadas em países daquela região, estabelecemos relações diplomáticas e intensificamos o comércio”, afirmou.
Para 2011, segundo ele, está previsto o estabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com os 192 países membros da ONU. Restam, até o momento, apenas dez para que a meta seja atingida.
-http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/RESOLUCAO+APROVADA+PELO+CONSELHO+DE+SEGURANCA+CHEGA+A+DAR+MEDO+DIZ+PATRIOTA_10655.shtml
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