Cineastas independentes, reunidos durante a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, redigiram belo documento sobre a situação do cinema no Brasil que merece ser lido. Com precisão fazem retrato da situação do cinema hoje no Brasil e apresentam propostas para uma política pública para o setor. Vale lembrar que, entre as grandes realizações do governo popular do presidente Lula, e de Gilberto Gil, o Ministro da Cultura dele, esteve fomentar dezenas de projetos que colocaram o Brasil nas telas, como nunca antes se viu na história do país. Trabalhos assinados por geração de artistas que, como se vê na Carta de Tirandentes, está disposto a fazer avançar tanto a proposta de arte criativa, original e com compromisso social, quanto na democratização do setor.
Eis o texto, extraído de http://www.mostratiradentes.com.br/noticia-detalhe.php?menu=not&codNot=151
Recomendamos divulgação.
CARTA
DE
TIRADENTES
Amanhece
um
novo
tempo
no
horizonte.
Novas
paisagens,
novas
questões,
novos
agentes,
novas
imagens
e
sons
se
multiplicam
por
todas
as
regiões
do
país,
refletindo
a
imensa
diversidade
cultural
do
Brasil.
A
construção
de
políticas
públicas
inclusivas,
descentralizadas
e
transparentes
–
aliadas
às
facilidades
trazidas
pelas
novas
tecnologias
de
produção
audiovisual
–
favoreceram
o
surgimento
dessa
nova
realidade
do
cinema
brasileiro.
Moradores
de
municípios
de
menos
de
20
mil
habitantes
passaram
a
fazer
filmes
através
do
programa
Revelando
os
Brasis.
Estivemos
nas
telas
dos
grandes
festivais
do
mundo.
Um
filme
brasileiro
liderou
as
bilheterias
e
bateu
recorde
de
público.
Todas
as
vitórias
pertencem
ao
conjunto
da
atividade
cinematográfica
e
às
iniciativas
do
poder
público.
Entretanto,
é
preciso
reconhecer
que,
apesar
das
elevadas
somas
investidas
através
de
políticas
de
renúncia
fiscal,
a
indústria
cinematográfica
nacional
ainda
não
conquistou
sua
independência
do
fomento
público;
que
a
maior
parte
desses
recursos
continuam
concentrados
nas
mãos
de
poucos
agentes;
que
nossa
presença
no
mercado
internacional
é
tímida
frente
ao
potencial
do
setor
e
aos
montantes
investidos.
Sabemos
do
lugar
estratégico
do
cinema
para
o
futuro
do
país
e
para
sua
afirmação
como
nação
soberana.
As
palavras
da
presidenta
Dilma
Rousseff
em
seu
discurso
de
posse
apontam
para
esse
avanço:
“o
caminho
para
uma
nação
desenvolvida
não
está
somente
no
campo
econômico
ou
no
campo
do
desenvolvimento
econômico
pura
e
simplesmente.
Ele
pressupõe
o
avanço
social
e
a
valorização
da
nossa
imensa
diversidade
cultural.
A
cultura
é
a
alma
de
um
povo,
essência
de
sua
identidade.
Vamos
investir
em
cultura,
ampliando
a
produção
e
o
consumo
de
nossos
bens
culturais
em
todas
as
regiões
e
expandindo
a
exportação
de
nossa
música,
cinema
e
literatura,
signos
vivos
de
nossa
presença
no
mundo.”
O
Brasil
resolveu,
afinal,
trilhar
um
caminho
original
e
independente
de
desenvolvimento
e
soberania
–
um
caminho
fundado
no
crescimento
econômico
com
distribuição
de
renda
e
inclusão
social.
O
Brasil
vive
um
momento
histórico
de
ampliação
de
cidadania
e
participação
democrática.
Setores
até
então
excluídos
ganharam
imagem
e
voz
na
cena
política,
tornando‐
se
protagonista
de
importantes
mudanças
na
realidade
social.
No
campo
do
audiovisual,
surgiram
novos
realizadores,
muitos
produzindo
de
forma
absolutamente
independente.
A
produção
cinematográfica
brasileira
nunca
foi
tão
diversa
e
plural
como
hoje.
A
maior
parte
desses
filmes,
no
entanto,
e
apesar
da
enorme
atenção
que
vem
recebendo
de
prestigiados
espaços
da
atividade
cinematográfica
no
Brasil
e
no
mundo
–
como
os
festivais
de
Tiradentes,
Brasília,
Cannes,
Berlim,
Veneza,
Locarno
e
Rotterdam
–,
permanece
alijada
dos
grandes
lançamentos
e
das
salas
do
circuito
comercial.
Felizmente,
com
o
digital
e
uma
gigantesca
pulverização
das
formas
de
acesso
aos
filmes,
essas
obras
ganharam
muitas
outras
maneiras
de
existir
fora
do
grande
circuito
de
exibição
convencional.
Elas
estão
nos
festivais,
mostras,
cineclubes,
salas
de
aula,
computadores,
camelôs
–
em
lugares
que
nem
salas
de
cinema
possuem
(afinal,
apenas
8%
dos
municípios
brasileiros
possuem
salas
de
exibição).
Este
cinema,
agora,
precisa
ser
entendido
em
sua
importância
democratizante
e
simbólica.
É
urgente
ultrapassar
o
bloqueio
imposto
por
estruturas
historicamente
consagradas
à
manutenção
de
privilégios
no
acesso
à
produção
e
ao
consumo
dos
bens
culturais.
Estes
novos
filmes
já
funcionam
como
farol
da
nossa
cultura
no
intercâmbio
simbólico
entre
os
povos.
Eles
afirmam
nosso
lugar
no
mundo.
Compreendem
novos
modelos
de
produção
–
muitas
vezes,
mais
baratos.
São
filmes
inovadores
que
não
podem
mais
ser
ignorados.
É
chegada
a
hora
de
questionar
privilégios
cristalizados
e
de
se
criar
mecanismos
de
inclusão
para
que
a
novidade,
a
invenção,
novos
agentes
e
novas
paisagens
possam
emergir
no
cenário
audiovisual
nacional.
É
hora
de
pensar
a
cadeia
da
produção
e
consumo
cinematográficos
em
seu
conjunto,
de
entender
a
rede
de
relações
e
a
interdependência
entre
os
diversos
formatos
audiovisuais.
Não
há
como
pensar
o
mercado
cinematográfico
apostando
na
falsa
contradição
entre
um
cinema
dito
comercial
e
outro
de
vocação
autoral.
Parte
das
reconhecidas
dificuldades
enfrentadas
atualmente
pela
indústria
audiovisual
brasileira
têm
sua
origem
em
dicotomias
artificiais
como
essa.
Queremos
uma
política
pública
que
reconheça
os
novos
modelos
de
produção,
que
distribua
melhor
os
recursos
já
existentes
de
modo
a
ampliar
o
escopo
do
fomento,
que
desenvolva
políticas
efetivas
de
distribuição
e
exibição,
que
avance
na
estruturação
comercial
do
setor,
na
democratização
da
produção
e
do
consumo
dos
bens
culturais,
e
que
aposte
no
cinema
como
janela
privilegiada
para
o
desenvolvimento
e
a
soberania.
Para
isso,
propomos
as
seguintes
ações:
1) Criar
linhas
específicas
de
fomento
para
formatos
de
produção
que
primem
pela
inovação
técnica
e
artística,
com
orçamentos
de
menor
porte.
Que
estas
linhas
específicas,
já
sinalizadas
pelos
Editais
de
Baixo
Orçamento
da
Secretaria
do
Audiovisual,
possam
também
ser
aplicadas
de
maneira
comprometida
e
responsável
em
outras
ações
de
fomento
como
o
Fundo
Setorial
do
Audiovisual
e
as
políticas
de
fomento
direto
da
ANCINE
para
empresas
de
produção,
distribuição
e
exibição,
como
forma
de
estimular
e
testar
alternativas
para
a
estruturação
comercial
do
setor.
2) Desenvolver
uma
política
de
fomento
específica
para
a
distribuição
e
exibição
de
filmes
de
baixo
orçamento,
incentivando
a
estruturação
comercial
de
empresas
distribuidoras
que
se
dediquem
a
este
segmento.
É
preciso
fazer
experiências
de
mercado
com
estes
filmes
sem
subestimar
seu
potencial
comercial.
Fortalecer
o
circuito
alternativo
de
cineclubes
como
o
Cine
Mais
Cultura
e
apostar
em
programas
de
expansão
do
parque
exibidor
como
o
Cinema
Perto
de
Você.
Investir
na
comercialização
dessa
produção
é
uma
maneira
de
formar
novas
platéias
com
filmes
que
têm
recebido
grande
atenção
dos
principais
festivais
de
cinema
do
Brasil
e
do
mundo.
3) Valorizar
e
ampliar
as
instâncias
formuladoras
de
políticas
para
o
setor,
que
reconheçam
a
pluralidade
dos
modos
de
produção
e
contemplem
uma
maior
representatividade
de
todos
os
agentes.
4) Fortalecer
e
equipar
os
espaços
de
produção
inclusiva
e
democrática,
dos
Pontos
de
Cultura
aos
CTAv’s.
Acreditamos
na
necessidade
urgente
de
fazer
do
CTAv
um
grande
espaço
para
a
profissionalização
da
finalização
que
agregue
valor
e
diminua
custos
para
conteúdos
realizados
à
margem
das
principais
políticas
de
fomento.5) Construir
uma
política
unificada
e
ousada
de
internacionalização
de
nossa
produção,
que
aproveite
as
boas
experiências
dos
programas
de
apoio
da
ANCINE,
da
SAV
e
do
MRE,
articulando
um
conjunto
de
ações
para
consolidar
a
presença
internacional
de
nosso
cinema
de
modo
planejado
e
integrado,
desde
o
desenvolvimento
dos
projetos
–
com
o
incremento
dos
acordos
de
co‐produção
–
até
o
posicionamento
do
filme
no
mercado
mundial.
Ainda
em
seu
discurso
de
posse,
nossa
presidenta
lembrou
o
escritor
Guimarães
Rosa:
“O
correr
da
vida
embrulha
tudo.
A
vida
é
assim:
esquenta
e
esfria,
aperta
e
daí
afrouxa,
sossega
e
depois
desinquieta.
O
que
ela
quer
da
gente
é
coragem”.
Coragem
para
reconhecer
que
existem
alternativas
já
em
curso,
cuja
viabilidade
muitas
vezes
se
dá
à
margem
das
principais
políticas
de
fomento,
e
que,
apesar
disso,
encontram
seu
espaço
nos
grandes
eventos
internacionais
e
conquistam
seu
público.
Coragem
para
assumir
a
necessidade
de
distribuir
de
forma
conseqüente
os
recursos
do
setor,
permitindo
ampliar
o
número
de
agentes.
Coragem
para
encarar
os
privilégios
e
não
se
deixar
seduzir
por
suas
promessas
historicamente
não
cumpridas.
Coragem
para
promover
a
inclusão
e
valorizar
a
diferença.
Coragem
para
saber
que
aqui
a
produção
mais
plural
e
independente
está
regulada
por
uma
agência
nacional
e
que
o
grande
capital
privado
opera
sem
uma
política
séria,
integrada
e
socialmente
construída
de
regulação,
como
é
o
caso
da
TV
e
da
publicidade.
Coragem
para
saber
que
o
caminho
é
longo,
mas
passos
importantes
já
foram
dados.
Coragem
como
quer
o
Brasil
e
requer
seus
Brasis.
Sergio
Borges
(realizador
‐
MG),
Felipe
Bragança
(realizador
‐
RJ),
Gabriel
Mascaro
(realizador
‐
PE),
Bruno
Safadi
(realizador
‐
RJ),
Ricardo
Targino
(realizador
‐
MG),
Eryk
Rocha
(realizador
‐
RJ),
Tiago
Mata
Machado
(realizador
‐
MG),
Maya
Da‐Rin
(realizadora
‐
RJ),
Marília
Rocha
(realizadora
‐
MG),
Marina
Meliande
(realizadora
‐
RJ),
Pedro
Urano
(realizador
e
diretor
de
fotografia
‐
RJ),
Pablo
Lobato
(realizador
‐
MG),
Clarissa
Campolina
(realizadora
‐
MG),
Helvécio
Marins
Jr.
(realizador
‐
MG),
Gustavo
Spolidoro
(realizador
‐
RS),
Eduardo
Valente
(realizador,
crítico
e
curador
‐
RJ),
Flávia
Castro
(realizadora
‐
RJ),
Renata
Pinheiro
(realizadora
e
diretora
de
arte
‐
PE),
Hilton
Lacerda
(realizador
e
roteirista
‐
PE),
Ricardo
Pretti
(realizador
e
montador
‐
CE),
Fellipe
Barbosa
(realizador
e
roteirista
‐
RJ),
Leonardo
Barcellos
(realizador
‐
MG),
Ricardo
Alves
Junior
(realizador
‐
MG),
Lara
Frigotto
(produtora
‐
RJ),
Sergio
Oliveira
(realizador
e
roteirista
‐
PE),
Alê
Castañeda
(produtora
‐
RJ),
Marcelo
Pedroso
(realizador
‐
PE),
Karen
Black
(realizadora
e
cineclubista
–
RJ),
Evandro
Dunoyer
(realizador
‐
PE),
Felipe
Peres
Calheiros
(realizador
‐
PE),
Marcelo
Ikeda
(realizador
e
crítico
‐
CE),
Andrea
Capella
(realizadora
e
diretora
de
fotografia
‐
RJ),
Gustavo
Beck
(realizador
‐
RJ),
Silvia
Cruz
(distribuidora
‐
SP),
Allan
Ribeiro
(realizador
‐
RJ),
Douglas
Soares
(realizador
‐
RJ),
Carol
Durão
(realizadora
‐
RJ),
Lis
Kogan
(curadora
‐
RJ),
Ângelo
Defanti
(realizador
e
produtor
–
RJ),
Francis
Vogner
dos
Reis
(crítico
‐
SP),
Marcelo
Caetano
(realizador
‐
SP),
Marcelo
Toledo
(realizador
‐
SP),
Paolo
Gregori
(realizador
‐ SP),
Andre
Brasil
(professor
e
pesquisador
–
MG),
Patricia
Moran
(realizadora,
pesquisadora
e
professora
‐
MG),
Marina
Fraga
(realizadora
–
RJ),
Zeca
Ferreira
(realizador
‐
RJ),
Alonso
Pafyeze
(realizador
e
diretor
de
arte
–
MG),
Sergio
Jose
de
Andrade
(realizador
–
AM),
Juliano
Dornelles
(realizador
–
PE),
Eduardo
Raccah
(agente
de
vendas
internacional
–
RJ),
Emilie
Lesclaux
(produtora
–
PE),
Ava
Rocha
(realizadora
e
montadora
–
RJ),
Frederico
Benevides
(realizador
e
montador
–
CE),
Luiz
Pretti
(realizador
–
CE),
Daniel
Queiroz
(curador
–
MG),
Claudio
Marques
(realizador
–
BA),
Marília
Hughes
(realizadora
–
BA),
Eva
Randolph
(realizadora
e
montadora
–
RJ),
Dellani
Lima
(realizador
–
MG),
Gustavo
Pizzi
(realizador
–
RJ),
Cavi
Borges
(realizador
–
RJ),
Leonardo
Sette
(realizador
–
PE),
Ivo
Lopes
Araujo
(realizador
e
diretor
de
fotografia
–
CE),
,
Philipi
Bandeira
(realizador
–
CE),
Guilherme
Withaker
(produtor
–
RJ),
Alisson
Ávila
(produtor
‐
RS),
Jaqueline
Beltrame
(produtor
–
RS),
Morgana
Rissinger
(produtor
–
RS),
Ramiro
Azevedo
(produtor
–
RS),
Débora
Butruce
(cineclubista
e
preservadora
audiovisual),
Gabriela
Amaral
Almeida
(realizadora
‐
BA),
Michael
Wahrmann
(realizador
–
SP),
Matheus
Rocha
(realizador
e
diretor
de
fotografia
–
BA),
André
Lavaquial
(realizador
–
RJ),
Andre
Novais
(realizador
–
MG),
Maurílio
Martins
(realizador
–
MG),
Gabriel
Martins
(realizador
–
MG),
Paula
Gaitán
(realizadora
–
RJ),
Daniel
Lisboa
(realizador
–
BA),
Fabiano
de
Souza
(realizador
–
RS),
Milton
do
Prado
(produtor
–
RS),
Karen
Akerman
(realizadora
e
montadora
–
RJ),
Carla
Maia
(produtora
–
MG),
Guto
Parente
(realizador
–
CE),
Pedro
Diógenes
(realizador
–
CE),
Max
Eluard
(realizador),
Anna
Azevedo
(realizadora
–
RJ),
Tião
(realizador
–
PE),
Marcelo
Lordello
(realizador
–
PE),
Consuelo
Lins
(realizadora,
professora
e
pesquisadora
–
RJ),
Cezar
Migliorin
(realizador,
professor
e
pesquisador
–
RJ),
Ivana
Bentes
(professora
e
pesquisadora
–
RJ),
João
Junior
(produtor
–
PE),
Vania
Catani
(produtora),
Karin
Ainouz
(realizador
–
CE).
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