CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

terça-feira, 31 de março de 2009

Brizola sem retoque, extraído do blog http://blog.controversia.com.br

Assessor de Leonel Brizola a partir da década de 80, o jornalista cearense Francisco das Chagas Leite Filho, FC Leite Filho, como é conhecido, extraiu, dessa convivência e de inúmeras entrevistas que realizou inclusive no exterior, as histórias para a biografia El Caudillo. Recém-lançada na Câmara dos Deputados, em Brasília, onde o jornalista é assessor da liderança do PDT, aborda em detalhes o período em que Brizola foi eleito governador do Rio Grande do Sul, aos 37 anos, quando viveria sua fase heróica. E seus dois mandatos de governador do Rio de Janeiro, marcados pelo enfrentamento com a mídia, de modo geral, e com a Globo, em especial.

CartaCapital: Brizola nasceu no meio rural, mais tarde foi fazendeiro no Uruguai. Em que medida o mundo rural o influencia?
Francisco das Chagas Leite Filho: Não sou sociólogo nem antropólogo, por isso optei por fazer um perfil biográfico. É apenas um lado da biografia que está no livro. Mas é possível pegar o exemplo dos irmãos dele. Brizola foi o único cara que sobressaiu entre os irmãos. Era um cara muito inteligente, muito esperto na verdade, sempre muito ligado à mãe, dona Oniva, professora primária. Todos receberam a mesma educação. Dos cinco irmãos, alguns meios-irmãos do segundo casamento de dona Oniva, um é motorista de caminhão, outro, pequeno produtor rural, e outro, advogado. A irmã mais velha, Francisca, a Quica Brizola, também teve importância na família. Essa história da influência do meio é muito relativa. Não concordo com aqueles que apresentavam Brizola como uma figura ressentida por ter vindo do meio rural, onde seu pai foi assassinado. (O pai foi morto pela brigada militar gaúcha, em 1923, quando Brizola tinha menos de 2 anos, após a assinatura de um acordo de paz firmado entre os maragatos, grupo de José Brizola, e os chimangos, governistas. José participava de um regimento guerrilheiro cujo comandante se chamava Leonel, de onde o menino batizado Itagiba tiraria o nome com o qual ficou famoso.) Quando olhamos para a figura do Brizola, vemos que não existe nada disso, ao contrário. Quando perdia uma eleição, nunca apelava para golpes ou ameaças. A linguagem do Brizola, esta, sim, era uma linguagem toda campesina, com aquelas parábolas que ele criava.
CC: Na fase inicial, ainda nos anos 40, Brizola entra para a política na esteira do getulismo. Qual a importância da relação dele com Getúlio Vargas?
FCLF: No começo, Brizola forma a chamada ala moça do PTB. Como era um cara muito atirado, vê-se ainda muito jovem deputado estadual. Mas cogitou de uma composição orgânica. Para compor a ala moça, pega alguns líderes operários, líderes estudantis, do comércio… era muito jovem e muito esperto, tinha vivido na pobreza e visto muita coisa. E faz um conjunto que era de fato um autêntico partido político, um partido na sua essência. Não tinha essa representatividade dos partidos atuais, desfigurados, a enganar o eleitor. Com Brizola não foi assim, mesmo porque naquele momento o Rio Grande do Sul era um estado muito politizado. Então eles estudavam a situação do ferroviário, do estudante, do operário, e organizavam programas. Não consegui saber como se deu essa aproximação, mas de repente está lá Brizola, então um jovem deputado estadual, virando quase confidente de Vargas. O velho, que também era muito esperto, tinha dois pombos-correios, como dizia Batista Luzardo, inclusive para operações internacionais. O Brizola, um dos dois, então muito novinho, estava com 23 ou 24 anos, o outro era o futuro presidente João Goulart, então colega de Brizola na Assembléia Legislativa. Quando Vargas era presidente, o Itamaraty foi chefiado por um cara do PSD, depois demitido por Vargas, o Neves da Fontoura, um sujeito terrível. Então Vargas não confiava no Itamaraty e tinha os seus próprios emissários durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, para mandar recados a Perón. (Alinhado aos EUA, Neves da Fontoura foi um dos líderes do PSD a apoiar Vargas na eleição de 50, contra o candidato do partido, Cristiano Machado. Com o apoio, foi convidado a voltar ao Itamaraty, posto que ocupara no governo Dutra.)
CC: Como o senhor definiria o estilo Brizola de administrar?
FCLF: Essa é uma coisa muito interessante de observar. Veja que ele fazia tudo na base da mobilização. Hoje os grandes planos de educação, por exemplo, não funcionam, porque a população não está engajada naquilo, não está participando. No Rio Grande do Sul, por exemplo, ele construiu escolas pequenas, mas bem organizadas. Chegou a fazer 6,3 mil escolas no primeiro mandato de governador. Mas não foi só educação. Trouxe uma refinaria para o Rio Grande do Sul, criou uma siderúrgica, o banco de desenvolvimento regional, abrangendo os três estados do Sul do País. Uma das minhas fontes, radialista, me disse que quando queria debater seriamente a situação da categoria tinha de ir para o Rio Grande do Sul, onde havia liberdade para o debate político. O mesmo acontecia com os estudantes. E lembremos que o restante do Brasil era conservador, reacionário.
CC: Nesse primeiro mandato como governador, Brizola encampou as concessionárias de energia e telefonia do estado, ambas multinacionais de capital norte-americano. Como se deu esse episódio?
FCLF: Brizola dizia que a decisão viera de um estalo. Ele não era uma pessoa lida, culta, e sim vivida. Dizia que aprendia tudo no fazer, na experiência. E, de repente, vê Porto Alegre e o estado todo praticamente sem energia ou telefone. Quando verifica o que está acontecendo, encontra as duas empresas querendo aumento nas tarifas e deixando de investir, utilizando equipamentos antigos, alguns caindo aos pedaços. Chama os detentores das concessões, diz que essa situação é insustentável. As empresas eram muito poderosas, inclusive porque contribuíam para as campanhas eleitorais, desconfio que até mesmo para a campanha do Brizola. Ele propôs a criação de uma empresa mista, mas só topariam se houvesse o aumento da tarifa. Então decidiu, numa operação supercomplexa, encampar as duas. A essa altura, Fidel Castro já estava há mais de um ano no poder e ainda não tinha feito isso, e Brizola manda ver… É nesse momento que Brizola sela o destino da vida dele. Todas as multinacionais e todo o sistema econômico voltam-se contra ele.
CC: Pouco depois há o caso da encampação feita por João Goulart, mediante uma régia indenização…
FCLF: Jango encampa, mas elas queriam uma indenização absurda, muito alta. E Brizola denuncia na imprensa e o Jango acaba não pagando. Quem vai pagar é Castello Branco, depois do golpe. Foi uma das primeiras coisas que os militares fizeram.
CC: Brizola não contava com a virulência da reação?
FCLF: Ele foi transformado na ovelha negra do País pela mídia norte-americana. Todos os documentos e relatórios eram contra ele. Mas, para ele, a operação não passava de um ato administrativo. Não imaginava a repercussão violentíssima. Em seguida, já em 1961, vem a Campanha da Legalidade, quando ele se afirma como líder de projeção nacional. E como um grande general também, é preciso ver isso. (Brizola articulou o movimento para garantir a posse de João Goulart. Vice-presidente de Jânio Quadros, eleitos por partidos distintos, conforme a legislação da época, Jango encontra-se em viagem à China quando Jânio renuncia. Os ministros militares se insurgem contra a posse de Jango e negocia-se a adoção do regime parlamentarista, de modo a esvaziar o poder de Jango, também presidente do PTB, o partido de Brizola.) Com 38 anos, Brizola foi um verdadeiro Napoleão, cercou o Exército, assumiu todas as comunicações, colocou a rádio e o Última Hora no Palácio Piratini, foi o grande líder da mobilização. O discurso dele, quando ameaçam bombardear Porto Alegre, é coisa que passou para a história. Às vezes, a gente pensa que o Brasil não tem heróis, mas tem, sim.
CC: Nesse episódio, o fato de Jango ter aceitado a saída parlamentarista, apesar da resistência orquestrada por Brizola, deve ter sido uma grande frustração, não?
FCLF: Aí acontece a primeira briga dos dois cunhados, já que Brizola foi casado a vida toda com dona Neusa Goulart, irmã de Jango. Depois, já no exílio, eles passariam 12 anos sem se falar. Quando Jango decide não resistir, Brizola fica louco da vida… Brizola era um homem da confrontação e sabia que Jango era um contemporizador, um homem da conciliação. Quando foi deposto pelos militares, em 1964, Jango achava que voltaria em seis meses. Ele ficaria afastado, como ficou Getúlio, depois reascenderia. Mas acabou morrendo de desgosto.
CC: Brizola chega a denunciar o acordo que Jango fazia por baixo dos panos para indenizar as empresas norte-americanas com o pagamento de valores exorbitantes. Qual foi o impacto dessa denúncia?
FCLF: O impacto foi violento. João Goulart ia viajar para os Estados Unidos em seguida… caiu ministro, caiu o diabo, foi um escândalo enorme. Isso é muito próprio dos governos, que sempre têm responsabilidades de sustentação, e Jango não queria ficar mal com os Estados Unidos, achou melhor ceder. Qualquer outro governo faria o mesmo, provavelmente. Brizola, nunca. Ele tinha um corte transformador, revolucionário, se bem que no fim da vida ele se definiria reformista em lugar de revolucionário. E não tinha coisa nenhuma de reformista, talvez ele fosse um Hugo Chávez, mais cauteloso, mais sábio.
CC: Em 1982, a Globo e militares reformados tentaram fraudar as eleições e tirar a vitória de Brizola. O sistema de informática para totalização, administrado pela empresa Proconsult, incluía o nome de Moreira Franco nos votos brancos, enquanto a Globo preparava a opinião pública apresentando as parciais vindas do interior, onde Brizola perdia. A tentativa não vingou, porque foi denunciada por Brizola à imprensa internacional.
FCLF: Não era só a Globo. No fim da vida, ele esclarecia que, apesar de a Globo pegar muito no pé dele, era todo o sistema econômico… eram Globo, Bandeirantes, Manchete… todos contra ele.

CC: A relação de Brizola com a educação, no caso dos Cieps, passa pelo contato dele com Darcy Ribeiro. Como se deu esse encontro?
FCLF: Com Darcy e Niemeyer. Darcy era muito ligado ao Jango e se aproximou de Brizola já no exílio, quando Jango morre. Então, Darcy volta depois de ter passado dez anos exilado. Aí a aproximação foi grande, a ponto de Darcy ser o vice-governador de Brizola, e passar a pôr em prática o programa de Anísio Teixeira, aquele projeto de uma escola em período integral, que era um velho projeto de Brizola também. Eu sei que Brizola dizia que a educação estava acima de tudo, a favor da educação ele não se preocupava com quanto iria gastar, com o orçamento. No último ano do governo carioca de Brizola, 55% do orçamento do estado vai para a educação. No caso dos Cieps, vê-se de que forma a mídia trabalhava. A mídia, braço direito do poder econômico, colocava a classe média contra Brizola, dizendo que os Cieps iriam ameaçar as escolas burguesas, inclusive a particular. Os Cieps eram escolas fenomenais, mas para o estudante pobre. E a mídia envenenando, atiçando os professores do ensino tradicional contra os professores dos Cieps. O professor do Ciep tinha de ser muito especial, ganhava o dobro, era mais jovem e bem mais motivado.
CC: Durante o mandato como governador no Rio, Brizola também foi um dos últimos a deixar de apoiar Fernando Collor, que havia sido eleito sustentado pela mídia contra Lula. Não era contraditório?
FCLF: Brizola dizia que se aliava até com o diabo, desde que fosse em benefício da população. Em outros tempos, aliou-se até com Plínio Salgado, líder do integralismo. Antes de Brizola assumir, o governo federal estadualiza a dívida da construção do Metrô do Rio, e o novo governador fica sem dinheiro para gastar em outras obras. Tem de pagar o Metrô e outras dívidas, já que o estado, como sempre, tinha muitas dívidas deixadas pelo governo anterior. Com o tempo, ele inaugura as obras dele, a Linha Vermelha. E tem os Ciacs, que são a versão federal dos Cieps. Quando Collor decide fazer 4,5 mil Ciacs, passa a ter um projeto, porque até então não tivera nenhum.
CC: E a relação dele com o PT e Lula?
FCLF: Brizola nunca falou isso, mas sempre senti pelos seus movimentos que ele queria que Lula fosse o vice dele. Mas Lula já estava envenenado contra Brizola, isso quando ele chegou do exílio. Tenta várias vezes e leva várias portas na cara de Lula e do pessoal que o cerca. As coisas vão se encrespando, se encrespando, e chegam a um rompimento. Mas como são ambos homens do campo popular, sempre se unem no segundo turno, tanto é que Brizola, na eleição de 1989, transferiu todos os votos para Lula. No primeiro turno, a votação de Brizola foi de 400 mil votos a menos que Lula, mas já estava na cara que era tudo feito para Lula ir para o segundo turno.

CC: Por que Brizola perde a eleição de 1989? Ao que consta, ele não se empenhou devidamente.

FCLF: Brizola estava muito ressabiado com o aparato midiático, não só as tevês, as revistas e os jornais, mas também os institutos de pesquisa, respaldados pelos grandes grupos. Dizia sentir que uma mão o puxava para trás, não deixava ele fazer uma boa campanha. Referia-se também ao quadro internacional: a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética e até a queda do Daniel Ortega na Nicarágua. Todos os governos militares substituídos por civis eram ligados ao neoliberalismo, que no Brasil começou com Sarney. Brizola sofreu perseguição do governo Sarney, a mídia inteira o achacava. Ele passou oito ou nove dias sem participar do programa eleitoral, um verdadeiro suicídio político. Quase não viajava, passava a maior parte do tempo no Rio. Antes mesmo do resultado do primeiro turno, quando ainda estava à frente de Lula, já dizia que aquela eleição não era para ele, que achava que não teria vez naquela eleição, diante da violência da mídia contra ele. Dizia que o momento era do neoliberalismo. Apontava para o que chamava de onda collorida que atingia a mídia, a “narcotizar as pessoas”. E que, nesse contexto, na opinião dele sua mensagem dificilmente chegaria ao povão. Entendia também que os empresários jamais permitiriam o desenvolvimento autônomo do País, sem dependência externa. Além disso, enquanto Collor fazia cinco ou seis comícios por dia pronunciando meia dúzia de chavões e viajando em jatinhos e com um grande aparato, Brizola era um pregador. Compreendeu que não teria como enfrentar todo o marketing de Collor.
Carta Capital"
extraído do blog http://blog.controversia.com.br em 31/03/09

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