CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

BLOG DA PETROBRÁS. Um susto na grande imprensa, por João José Forni

em 16/6/2009
Reproduzido do blog do autor; 12/6/2009; título original "Blog dá um susto na grande imprensa"
Muito se fala sobre blog da Petrobras criado para responder a perguntas enviadas pela imprensa e defender-se de pautas negativas, por conta da CPI no Congresso. O Fatos e Dados foi lançado no início de junho para "manter um canal de comunicação rápida e direta com o público, dedicado a apresentar fatos e dados recentes da Petrobras, o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e esclarecimentos solicitados pela imprensa".
A grande polêmica gerada pelo blog decorre da iniciativa da Petrobras publicar as pautas (perguntas) dos jornalistas, com as respostas da empresa, antes da publicação da matéria. Para a grande imprensa e jornalistas de redação, essa iniciativa estaria ferindo o princípio da exclusividade. Para advogados e professores de comunicação, embora não seja ilegal, a iniciativa pode ser incorreta e até autoritária. Segundo a Petrobras, a publicação visa dar transparência ao seu relacionamento com a imprensa.
Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Trata-se de um bom case de comunicação. Essa provocação à grande mídia, se aparenta uma ousadia, desafia a empresa a ser mais transparente e enfrentar uma pressão maior da imprensa. Não há dúvida de que estamos em outros tempos. Os blogs e demais redes sociais representam um avanço em relação ao atraso da imprensa tradicional. Por isso chega a ser patética, para não dizer ridícula, a manchete da Folha de S.Paulo do dia 2 de junho: "Avião com 228 a bordo some no mar no trajeto Rio-Paris". Qualquer criança no uso da razão já conhecia essa notícia um dia antes da manchete.
Mas voltemos à polêmica. Nos primeiros dias o centro das críticas foi a iniciativa da Petrobras de antecipar no blog as respostas de pautas, mesmo as exclusivas. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) reagiu, pela "prática contrária aos princípios universais da liberdade de imprensa". A grande imprensa acusou a Petrobras de atentar contra a ética, por adiantar no blog temas exclusivos do jornalista. É verdade que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) considerou legítima a iniciativa, em nota de conteúdo mais político do que técnico. Jornalistas se dividiram em críticas e elogios à tentativa ousada de intimidar ou de enfrentar o poder da imprensa. Nada mais do que o jus sperneandi.
Diante da escorregada da Petrobras, em querer reinventar o jornalismo, publicando antecipadamente as perguntas e respostas das pautas, até mesmo exclusivas, houve pressão para que a empresa voltasse atrás. Isso aconteceu em 10 de junho, quando o blog admitiu que "dará publicidade ao conjunto de perguntas e respostas (...) a partir da zero hora do dia em que está prevista a publicação da reportagem". Daria assim tempo de os veículos de comunicação trabalharem o tema antes da divulgação pelo blog.
Apesar do recuo, a logística burocrática para controlar essa divulgação deverá ser tão complicada, que até mesmo para a Petrobras, com 1.150 funcionários na área de comunicação, não será fácil. A questão suscitada por alguns órgãos de imprensa é a Petrobras querer determinar quando a matéria deverá sair, decisão, naturalmente, que só compete ao veículo. Como se sabe, muitas vezes uma matéria programada para sair amanhã, cai na hora do fechamento, por conta de outras mais importantes que entram na última hora. E aí? Como ajustar quem publica o quê?
A Petrobras tem apregoado nas suas justificativas o compromisso de publicar os esclarecimentos com o máximo de transparência. Depende. As fontes oficiais gostam muito dessa palavra. Aliás, transparência é uma das palavras mais ouvidas e usadas em Brasília. Mas, em contraposição, é a que menos se pratica. A resposta da Petrobras sempre vai representar o viés da empresa. Mas é importante que a opinião pública, incluídos funcionários, acionistas, clientes, fornecedores, investidores internacionais e tantos outros conheçam a explicação que ela deu à imprensa.
O fim do furo
A Petrobras, desde o início da polêmica, descartou que a publicação das perguntas dos jornalistas caracterizasse quebra do sigilo, por considerar que as informações prestadas pertencem à empresa. Esse argumento não resistiu, pela completa insensatez. A Petrobras diz que não há quebra de sigilo, porque "a relação entre a Petrobras e os veículos de comunicação que a interpelam é essencialmente pública (...) Tanto as respostas da Petrobras são públicas quanto as perguntas dos repórteres também o são, ou deveriam ser".
Outra polêmica suscitada. As perguntas de um repórter não são públicas, até o momento em que ele as publiciza, ao divulgar a reportagem. A não ser que a Petrobras esteja decretando o fim do furo e da exclusividade, um diferencial que continua sendo perseguido por todos os jornalistas em qualquer lugar do planeta. Na relação entre imprensa e fonte, o problema não é de confidencialidade, como também alegaram alguns editoriais da grande imprensa. Existe, apenas um acordo tácito de confiança de que a pauta é exclusiva e deve ser preservada, ainda que seja um tema indigesto para a corporação. Pelo menos sempre foi assim.
Um outra pergunta. A Petrobras aboliu a prática de dar entrevista ou informação exclusiva para algum jornalista ou colunista, outra rotina nas relações entre fontes e jornalistas? Ela vai publicar as exclusivas antes ou depois da entrevista? Como diz Cláudio Weber Abramo, "o princípio deveria ser o mesmo – se a ideia é comunicar-se com o público sem a intermediação dos veículos de comunicação, então essas notícias `plantadas´ precisariam também ser divulgadas no blog da empresa assim que formuladas por sua assessoria de imprensa" (ver "Quando a fonte abre o jogo").
Sem dúvida, a ideia do blog pode ter sido uma boa sacada para enfrentar a arrogância da imprensa e para preservar a fidelidade às informações fornecidas aos jornalistas. O único perigo é associar a criação do blog, legítima e oportuna, à defesa de temas relacionados com a CPI. Pode passar a ideia de que a Petrobras quer apenas se defender dos ataques por conta das investigações. E mais: se o blog nasceu em função CPI, o seu tempo de vida útil é só enquanto durar a Comissão?
Como fica o consumidor ou leitor
Permeou bastante nessa discussão o direito da Petrobras publicar quando e onde quiser as informações que lhe dizem respeito. Tudo bem. Vamos refletir sobre isso. Um acionista da Petrobras, aqui e no exterior, gostaria de saber notícias da empresa unicamente por uma única fonte, ou seja, a própria Petrobras? Certamente não. A imprensa – num conceito elástico que incluiria qualquer tipo de publicação – tem um papel importante na fiscalização e acompanhamento do poder público. Isso inclui empresas de comunicação, jornalistas autônomos, blogueiros e comentaristas de todos os matizes, que fazem parte dessa teia. É extremamente salutar para a sociedade que as instituições e governos sejam acompanhados por opiniões diversificadas, não importando se a grande mídia ou as redes sociais.
A Petrobras não pode pretender ser a única fonte das próprias notícias. Até pelos múltiplos interesses em que está envolvida. Tem todo o direito de editar e responder como bem entende, mas os consumidores e acionistas precisam também ter o contraponto, que só pode vir de outras fontes. O problema está em que os jornalistas das redações transformaram a notícia em debate, criando um antagonismo entre a versão e a pauta, uma brigando com a outra. De tanto distorcer, acabaram com a boca torta. Agora reclamam. Essa reação, por mais polêmica que seja, resulta de anos de arrogância e edição de reportagens com o objetivo mais de emplacar a primeira página do que informar. Afrouxaram os controles, permitiu-se um tipo de jornalismo investigativo que beira, em muitos casos, a apuração policial, dando pouca margem ao contraditório.
Mas um blog não vai resolver esse impasse. Ao se admitir que um blog resolveria por si só o dilema da transparência das organizações, alguém acreditaria que o Congresso Nacional divulgaria no seu blog todos os contratos de "fantasmas" que assinou nos últimos anos, incluindo os secretos, que contratam neto de Senador ou esposas de parlamentares? Será que esse blog publicaria todos os gastos com passagens, incluindo roteiros, de suas excelências, tudo pago com o dinheiro público, ainda que pautado por jornalistas? Claro que não. Esse é um papel que cabe a outras forças da sociedade, como a imprensa, as redes sociais, as universidades, agências independentes, ONGs e tantas outras surgidas nos últimos anos.
Embora a idéia do blog seja um avanço nas relações entre fonte e imprensa, para ser transparente, existem também outros mecanismos. Por que não utilizar o site da instituição? É o endereço natural para quem deseja saber o que acontece na organização. O problema é que os sites estão mais voltados hoje para fazer pirotecnia mercadológica do que em esclarecer e informar. Basta dar uma olhada nos sites das telefônicas. Em resumo, mesmo com o compromisso da transparência, não há nenhuma garantia para a sociedade de que a simples criação de um blog vai torná-la mais transparente.
Por que a grande mídia esperneou?
A grande mídia está numa encruzilhada. Nos países desenvolvidos, jornais e revistas perdem receita e leitores. Os jornais lutam com dificuldades para manter o padrão do jornalismo de 30 anos atrás, pelo menos. Reduziram os quadros e caiu a qualidade. Ao mesmo tempo, a "revolução das fontes", faz cada vez mais o jornalismo se auto-referenciar. A mídia, mesmo nos portais da internet, se repete e as coberturas são pasteurizadas e comoditizadas. As diferenças são muito pequenas. Com isso, a concorrência da internet, principalmente de sites e blogs independentes, conduzidos por jornalistas experientes e consagrados, é uma ameaça real ao futuro da mídia tradicional.
Além disso, no Brasil, principalmente após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, a imprensa arvorou-se em promotor, juiz e algoz. Valendo-se do denuncismo fácil, até os órgãos fiscalizadores embarcaram nesse jornalismo de vazamentos. Deu no que deu. Os grandes jornais e revistas passaram a pautar o Congresso, CPIs, Polícia Federal, TCU e outros órgãos de fiscalização. Ou seja, pautam o país. Documentos incompletos ou ainda em apuração vazam com a mesma velocidade com que somem da mídia, diante das evasivas, inconsistências ou explicações dos envolvidos.
Quando a imprensa reclama de "quebra de confidencialidade", certamente isso só vale quando ela prova do próprio veneno. Apenas um exemplo. A quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico nas CPIs, significa transferir essas informações sigilosas às Comissões. Elas não podem, portanto, ser vazadas. O sigilo é transferido, não aberto. O que fazem os jornalistas, auxiliados por fontes inescrupulosas e que gostam de fazer média com a mídia? Expõem todos os dados confidenciais de qualquer pessoa, sem qualquer escrúpulo, assim como gravações, muitas vezes integrantes de processos que correm em sigilo. Criou-se o jornalismo do menor esforço, a indústria do dossiê.
Durante a CPI dos Correios, em 2005 e 2006, foram produzidas manchetes infladas por fontes interessadas, que acabavam murchando no dia seguinte, porque as reportagens não tinham qualquer sustentação técnica ou comprovação em documentos ou fatos. Eram rapidamente desmontadas pelas fontes. Elas simplesmente saíam da cabeça do jornalista, pautado por políticos, empresários, desafetos, concorrentes, candidatos a cargos no governo, com factóides que não duravam 24 horas. Revistas semanais disputavam uma verdadeira gincana para ver quem dava o furo da semana. Resultado, apareciam matérias surrealistas, com erros de apuração e sem qualquer fundamentação. Mas, e daí? A sociedade seria melhor sem essa imprensa, ainda que com imperfeições e interesses? Ninguém acredita.
Malgrado todos esses defeitos, a grande imprensa continua sendo o principal meio de informação da sociedade. É óbvio que o leitor, telespectador, ouvinte quer saber o que acontece no país pela imprensa. É onde se digladiam as diversas forças que compõem a sociedade. E não pelos blogs ou jornais internos. É só fazer uma pesquisa. Em que você acredita mais? Nas informações publicadas pela Petrobras ou nas notícias divulgadas sobre ela na imprensa? A resposta é óbvia. Nenhuma empresa, mesmo na iniciativa privada, por mais transparente que seja, vai esquentar informações para se questionar, levantando mazelas, suspeitas, questionando atos de gestão ou denunciando funcionários. São assuntos internos conduzidos pelas auditorias, sempre em segredo.
Posto isto, o papel da imprensa como ombudsman da sociedade continua intocável e inatacável. Os modos de fazer é que estão mudando. Os grandes furos de reportagem estão acabando, porque qualquer pessoa pode ser um editor de informação. Ninguém quer tirar o poder de edição da imprensa. Foi a força da internet e das redes sociais que tirou. Quem deu a notícia do atentado na Universidade Virgina Tech, nos EUA, em 2007, foram os alunos por meio de torpedos enviados aos pais, amigos e parentes. A mídia só chegou depois. Na Alemanha, em maio, um candidato ficou sabendo do resultado da eleição pelo twitter, antes de ser publicado o resultado oficial.
A imprensa continua ainda a ser o vetor natural de informações sobre o que acontece na sociedade. O problema de um blog em nome da empresa, feito sob o viés do pensamento único e da autoproteção, é que nem sempre ele conta tudo. No caso do Fatos e Dados, até mesmo as centenas de comentários recebidos podem ser uma ameaça à credibilidade. Internautas que enviaram críticas ou sugestões de temas para apuração na CPI se queixam de que os comentários foram expurgados e não apareceram. Se é verdade, aí a coisa se complica. Blog no ar implica riscos, ou seja, receber comentários favoráveis ou desfavoráveis. Desde que não sejam ofensivos, desrespeitosos, devem todos ser postados. Se transparência é um propósito, vale em todos os sentidos. Como diz o professor Carlos Chaparro, "no blog, a empresa se expõe, inclusive em suas fragilidades. Uma delas, a de só dizer o que lhe convém, fazendo propaganda e não jornalismo".
BLOG DA PETROBRÁSUm susto na grande imprensa
Por João José Forni em 16/6/2009
Reproduzido do blog do autor; 12/6/2009; título original "Blog dá um susto na grande imprensa"
Muito se fala sobre blog da Petrobras criado para responder a perguntas enviadas pela imprensa e defender-se de pautas negativas, por conta da CPI no Congresso. O Fatos e Dados foi lançado no início de junho para "manter um canal de comunicação rápida e direta com o público, dedicado a apresentar fatos e dados recentes da Petrobras, o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e esclarecimentos solicitados pela imprensa".
A grande polêmica gerada pelo blog decorre da iniciativa da Petrobras publicar as pautas (perguntas) dos jornalistas, com as respostas da empresa, antes da publicação da matéria. Para a grande imprensa e jornalistas de redação, essa iniciativa estaria ferindo o princípio da exclusividade. Para advogados e professores de comunicação, embora não seja ilegal, a iniciativa pode ser incorreta e até autoritária. Segundo a Petrobras, a publicação visa dar transparência ao seu relacionamento com a imprensa.
Nem tanto ao céu, nem tanto a terra. Trata-se de um bom case de comunicação. Essa provocação à grande mídia, se aparenta uma ousadia, desafia a empresa a ser mais transparente e enfrentar uma pressão maior da imprensa. Não há dúvida de que estamos em outros tempos. Os blogs e demais redes sociais representam um avanço em relação ao atraso da imprensa tradicional. Por isso chega a ser patética, para não dizer ridícula, a manchete da Folha de S.Paulo do dia 2 de junho: "Avião com 228 a bordo some no mar no trajeto Rio-Paris". Qualquer criança no uso da razão já conhecia essa notícia um dia antes da manchete.
Mas voltemos à polêmica. Nos primeiros dias o centro das críticas foi a iniciativa da Petrobras de antecipar no blog as respostas de pautas, mesmo as exclusivas. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) reagiu, pela "prática contrária aos princípios universais da liberdade de imprensa". A grande imprensa acusou a Petrobras de atentar contra a ética, por adiantar no blog temas exclusivos do jornalista. É verdade que a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) considerou legítima a iniciativa, em nota de conteúdo mais político do que técnico. Jornalistas se dividiram em críticas e elogios à tentativa ousada de intimidar ou de enfrentar o poder da imprensa. Nada mais do que o jus sperneandi.
Diante da escorregada da Petrobras, em querer reinventar o jornalismo, publicando antecipadamente as perguntas e respostas das pautas, até mesmo exclusivas, houve pressão para que a empresa voltasse atrás. Isso aconteceu em 10 de junho, quando o blog admitiu que "dará publicidade ao conjunto de perguntas e respostas (...) a partir da zero hora do dia em que está prevista a publicação da reportagem". Daria assim tempo de os veículos de comunicação trabalharem o tema antes da divulgação pelo blog.
Apesar do recuo, a logística burocrática para controlar essa divulgação deverá ser tão complicada, que até mesmo para a Petrobras, com 1.150 funcionários na área de comunicação, não será fácil. A questão suscitada por alguns órgãos de imprensa é a Petrobras querer determinar quando a matéria deverá sair, decisão, naturalmente, que só compete ao veículo. Como se sabe, muitas vezes uma matéria programada para sair amanhã, cai na hora do fechamento, por conta de outras mais importantes que entram na última hora. E aí? Como ajustar quem publica o quê?
A Petrobras tem apregoado nas suas justificativas o compromisso de publicar os esclarecimentos com o máximo de transparência. Depende. As fontes oficiais gostam muito dessa palavra. Aliás, transparência é uma das palavras mais ouvidas e usadas em Brasília. Mas, em contraposição, é a que menos se pratica. A resposta da Petrobras sempre vai representar o viés da empresa. Mas é importante que a opinião pública, incluídos funcionários, acionistas, clientes, fornecedores, investidores internacionais e tantos outros conheçam a explicação que ela deu à imprensa.
O fim do furo
A Petrobras, desde o início da polêmica, descartou que a publicação das perguntas dos jornalistas caracterizasse quebra do sigilo, por considerar que as informações prestadas pertencem à empresa. Esse argumento não resistiu, pela completa insensatez. A Petrobras diz que não há quebra de sigilo, porque "a relação entre a Petrobras e os veículos de comunicação que a interpelam é essencialmente pública (...) Tanto as respostas da Petrobras são públicas quanto as perguntas dos repórteres também o são, ou deveriam ser".
Outra polêmica suscitada. As perguntas de um repórter não são públicas, até o momento em que ele as publiciza, ao divulgar a reportagem. A não ser que a Petrobras esteja decretando o fim do furo e da exclusividade, um diferencial que continua sendo perseguido por todos os jornalistas em qualquer lugar do planeta. Na relação entre imprensa e fonte, o problema não é de confidencialidade, como também alegaram alguns editoriais da grande imprensa. Existe, apenas um acordo tácito de confiança de que a pauta é exclusiva e deve ser preservada, ainda que seja um tema indigesto para a corporação. Pelo menos sempre foi assim.
Um outra pergunta. A Petrobras aboliu a prática de dar entrevista ou informação exclusiva para algum jornalista ou colunista, outra rotina nas relações entre fontes e jornalistas? Ela vai publicar as exclusivas antes ou depois da entrevista? Como diz Cláudio Weber Abramo, "o princípio deveria ser o mesmo – se a ideia é comunicar-se com o público sem a intermediação dos veículos de comunicação, então essas notícias `plantadas´ precisariam também ser divulgadas no blog da empresa assim que formuladas por sua assessoria de imprensa" (ver "Quando a fonte abre o jogo").
Sem dúvida, a ideia do blog pode ter sido uma boa sacada para enfrentar a arrogância da imprensa e para preservar a fidelidade às informações fornecidas aos jornalistas. O único perigo é associar a criação do blog, legítima e oportuna, à defesa de temas relacionados com a CPI. Pode passar a ideia de que a Petrobras quer apenas se defender dos ataques por conta das investigações. E mais: se o blog nasceu em função CPI, o seu tempo de vida útil é só enquanto durar a Comissão?
Como fica o consumidor ou leitor
Permeou bastante nessa discussão o direito da Petrobras publicar quando e onde quiser as informações que lhe dizem respeito. Tudo bem. Vamos refletir sobre isso. Um acionista da Petrobras, aqui e no exterior, gostaria de saber notícias da empresa unicamente por uma única fonte, ou seja, a própria Petrobras? Certamente não. A imprensa – num conceito elástico que incluiria qualquer tipo de publicação – tem um papel importante na fiscalização e acompanhamento do poder público. Isso inclui empresas de comunicação, jornalistas autônomos, blogueiros e comentaristas de todos os matizes, que fazem parte dessa teia. É extremamente salutar para a sociedade que as instituições e governos sejam acompanhados por opiniões diversificadas, não importando se a grande mídia ou as redes sociais.
A Petrobras não pode pretender ser a única fonte das próprias notícias. Até pelos múltiplos interesses em que está envolvida. Tem todo o direito de editar e responder como bem entende, mas os consumidores e acionistas precisam também ter o contraponto, que só pode vir de outras fontes. O problema está em que os jornalistas das redações transformaram a notícia em debate, criando um antagonismo entre a versão e a pauta, uma brigando com a outra. De tanto distorcer, acabaram com a boca torta. Agora reclamam. Essa reação, por mais polêmica que seja, resulta de anos de arrogância e edição de reportagens com o objetivo mais de emplacar a primeira página do que informar. Afrouxaram os controles, permitiu-se um tipo de jornalismo investigativo que beira, em muitos casos, a apuração policial, dando pouca margem ao contraditório.
Mas um blog não vai resolver esse impasse. Ao se admitir que um blog resolveria por si só o dilema da transparência das organizações, alguém acreditaria que o Congresso Nacional divulgaria no seu blog todos os contratos de "fantasmas" que assinou nos últimos anos, incluindo os secretos, que contratam neto de Senador ou esposas de parlamentares? Será que esse blog publicaria todos os gastos com passagens, incluindo roteiros, de suas excelências, tudo pago com o dinheiro público, ainda que pautado por jornalistas? Claro que não. Esse é um papel que cabe a outras forças da sociedade, como a imprensa, as redes sociais, as universidades, agências independentes, ONGs e tantas outras surgidas nos últimos anos.
Embora a idéia do blog seja um avanço nas relações entre fonte e imprensa, para ser transparente, existem também outros mecanismos. Por que não utilizar o site da instituição? É o endereço natural para quem deseja saber o que acontece na organização. O problema é que os sites estão mais voltados hoje para fazer pirotecnia mercadológica do que em esclarecer e informar. Basta dar uma olhada nos sites das telefônicas. Em resumo, mesmo com o compromisso da transparência, não há nenhuma garantia para a sociedade de que a simples criação de um blog vai torná-la mais transparente.
Por que a grande mídia esperneou?
A grande mídia está numa encruzilhada. Nos países desenvolvidos, jornais e revistas perdem receita e leitores. Os jornais lutam com dificuldades para manter o padrão do jornalismo de 30 anos atrás, pelo menos. Reduziram os quadros e caiu a qualidade. Ao mesmo tempo, a "revolução das fontes", faz cada vez mais o jornalismo se auto-referenciar. A mídia, mesmo nos portais da internet, se repete e as coberturas são pasteurizadas e comoditizadas. As diferenças são muito pequenas. Com isso, a concorrência da internet, principalmente de sites e blogs independentes, conduzidos por jornalistas experientes e consagrados, é uma ameaça real ao futuro da mídia tradicional.
Além disso, no Brasil, principalmente após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, a imprensa arvorou-se em promotor, juiz e algoz. Valendo-se do denuncismo fácil, até os órgãos fiscalizadores embarcaram nesse jornalismo de vazamentos. Deu no que deu. Os grandes jornais e revistas passaram a pautar o Congresso, CPIs, Polícia Federal, TCU e outros órgãos de fiscalização. Ou seja, pautam o país. Documentos incompletos ou ainda em apuração vazam com a mesma velocidade com que somem da mídia, diante das evasivas, inconsistências ou explicações dos envolvidos.
Quando a imprensa reclama de "quebra de confidencialidade", certamente isso só vale quando ela prova do próprio veneno. Apenas um exemplo. A quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico nas CPIs, significa transferir essas informações sigilosas às Comissões. Elas não podem, portanto, ser vazadas. O sigilo é transferido, não aberto. O que fazem os jornalistas, auxiliados por fontes inescrupulosas e que gostam de fazer média com a mídia? Expõem todos os dados confidenciais de qualquer pessoa, sem qualquer escrúpulo, assim como gravações, muitas vezes integrantes de processos que correm em sigilo. Criou-se o jornalismo do menor esforço, a indústria do dossiê.
Durante a CPI dos Correios, em 2005 e 2006, foram produzidas manchetes infladas por fontes interessadas, que acabavam murchando no dia seguinte, porque as reportagens não tinham qualquer sustentação técnica ou comprovação em documentos ou fatos. Eram rapidamente desmontadas pelas fontes. Elas simplesmente saíam da cabeça do jornalista, pautado por políticos, empresários, desafetos, concorrentes, candidatos a cargos no governo, com factóides que não duravam 24 horas. Revistas semanais disputavam uma verdadeira gincana para ver quem dava o furo da semana. Resultado, apareciam matérias surrealistas, com erros de apuração e sem qualquer fundamentação. Mas, e daí? A sociedade seria melhor sem essa imprensa, ainda que com imperfeições e interesses? Ninguém acredita.
Malgrado todos esses defeitos, a grande imprensa continua sendo o principal meio de informação da sociedade. É óbvio que o leitor, telespectador, ouvinte quer saber o que acontece no país pela imprensa. É onde se digladiam as diversas forças que compõem a sociedade. E não pelos blogs ou jornais internos. É só fazer uma pesquisa. Em que você acredita mais? Nas informações publicadas pela Petrobras ou nas notícias divulgadas sobre ela na imprensa? A resposta é óbvia. Nenhuma empresa, mesmo na iniciativa privada, por mais transparente que seja, vai esquentar informações para se questionar, levantando mazelas, suspeitas, questionando atos de gestão ou denunciando funcionários. São assuntos internos conduzidos pelas auditorias, sempre em segredo.
Posto isto, o papel da imprensa como ombudsman da sociedade continua intocável e inatacável. Os modos de fazer é que estão mudando. Os grandes furos de reportagem estão acabando, porque qualquer pessoa pode ser um editor de informação. Ninguém quer tirar o poder de edição da imprensa. Foi a força da internet e das redes sociais que tirou. Quem deu a notícia do atentado na Universidade Virgina Tech, nos EUA, em 2007, foram os alunos por meio de torpedos enviados aos pais, amigos e parentes. A mídia só chegou depois. Na Alemanha, em maio, um candidato ficou sabendo do resultado da eleição pelo twitter, antes de ser publicado o resultado oficial.
A imprensa continua ainda a ser o vetor natural de informações sobre o que acontece na sociedade. O problema de um blog em nome da empresa, feito sob o viés do pensamento único e da autoproteção, é que nem sempre ele conta tudo. No caso do Fatos e Dados, até mesmo as centenas de comentários recebidos podem ser uma ameaça à credibilidade. Internautas que enviaram críticas ou sugestões de temas para apuração na CPI se queixam de que os comentários foram expurgados e não apareceram. Se é verdade, aí a coisa se complica. Blog no ar implica riscos, ou seja, receber comentários favoráveis ou desfavoráveis. Desde que não sejam ofensivos, desrespeitosos, devem todos ser postados. Se transparência é um propósito, vale em todos os sentidos. Como diz o professor Carlos Chaparro, "no blog, a empresa se expõe, inclusive em suas fragilidades. Uma delas, a de só dizer o que lhe convém, fazendo propaganda e não jornalismo".

extraído do site Observatório da Imprensa", no endereço http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=542JDB001, em 08/10/09

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