CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

sábado, 4 de dezembro de 2010

O sombrio e repulsivo mundo do trabalho atual, por Mateus Alves da Silva

para o coletivo, em 4/12/10

Danièle Linhart, Diretora de Pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da Universidade Paris-Ouest-Nanterre-La Défense, no Le Monde Diplomatique Brasil de novembro/10, analisa o mundo do trabalho atual a partir de questionamentos aguçados na recente onda de protestos dos franceses contra as mudanças na aposentadoria, aumentando a idade mínima de 60 para 62 anos.
A autora foca as manifestações de repúdio ao trabalho em si, na forma como executado, com suas modernizações recentes, dizendo que ele se deteriora e gera a idéia de “degradação inevitável”. Como diz, boa parte dos assalariados não acredita que poderá suportar por muito tempo as exigências atuais.
Salienta a contradição entre o desenvolvimento da tecnologia do trabalho, eliminadora do esforço físico, conjugado com a presença de mais de 2/3 dos trabalhadores no setor terciário (bens e serviços), pelo tempo de 35 anos, e o nascimento de uma imagem sombria da atividade profissional, associada à morte ou à privação da vida.
Destaca que alguns slogans atuais são retornos de antigos, da greve geral de maio/68, de forma agravada. Bom exemplo, a versão atual da antiga frase “metrô, trabalho , cama!”, hoje sendo “metro, trabalho, túmulo”.
No restante do artigo, a autora busca explicar a causa dessa degradação.
Lembra que os franceses, ainda que sob uma perspectiva bastante individualista, já começam a debater de forma pública seus temores de serem submetidos a horários exigentes, esforços repetitivos, intempéries, pressão de clientes, intensificação do trabalho e de sua penosidade.
Aponta outras razões para esse receio de fracasso no enfrentamento da situação, menos abordadas, como os temores de: despreparo para o mercado do “sempre mais”; não obtenção de objetivos impostos de forma irreal, por patrões que não permanecem nos cargos nem conhecem as atividades de seus empregados; avaliações que desconsideram obstáculos encontrados e esforços feitos; obrigação de executar mal o trabalho, pelo excesso deste; desqualificação até a vulnerabilidade, com a perda do emprego e a desvalorização da própria imagem.
Salienta a desestabilização sistemática criada pelos gestores atuais, e o clima hostil que eles procuram manter no ambiente de trabalho, para que o empregado nunca se sinta em casa na empresa. E nunca, por exemplo, domine o trabalho que faz ou tenha cumplicidade suficiente para se aproximar dos colegas ou clientes, se preservando.
Reorganizações permanentes, mobilidade, mudanças periódicas, perda de referência profissional, desaprendizagem sucessiva, são aspectos que a autora coloca na lógica dessa desestabilização permanente.
Lembra que não valem mais a experiência adquirida e sua garantia. Não basta alcançar objetivos, há que ultrapassá-los, tornando-se arbitrária a avaliação. E presente, por conseguinte, a permanente sensação de estar na corda-bamba, enfrentando a situação com a mobilização ininterrupta de energia em meio a uma completa solidão, sem poder contar com outra pessoa além de si mesmos. A hierarquia serve-lhes apenas para impor-lhes a coerção, seus colegas são concorrentes.
Não lhe escapa sequer o hibridismo da lógica taylorista com o apelo ao engajamento subjetivo, mediante estabelecimento de vantagens relacionadas ao empenho pessoal. Nem a pressão da tensão entre qualidade e quantidade, que atinge indiretamente até mesmo os executivos, submetidos ao controle rígido, à prática do reporting.
Linhart salienta os efeitos maléficos e desestabilizantes da aplicação desses métodos gerenciais privados no setor público, onde vem sendo impostos com brutalidade e surpresa aos afetados, sendo que as mudanças passam a exigir atitudes contrárias ao senso de um trabalho bem feito e à ética. Enumera as exigências dos gestores modernos, cujas características diz serem predatórias: excelência, envolvimento total e incondicional, flexibilidade e disponibilidade, com sacrifício da vida pessoal e familiar.
A autora destaca, ainda, a presença dos jovens nas manifestações, sugerindo que estes, espremidos pelas piores taxas de desemprego, se conscientizaram do problema que lhes aguarda.
Conclui relacionando a constatação de pesquisa de 2008 feita em 27 países europeus, de que os franceses são os que mais esperam do trabalho, mas, ao mesmo tempo também os que mais se decepcionam com ele, com o fato de a Revolução Francesa ter estabelecido o trabalho livre como forma de emancipação e palco de lutas sociais importantes, sendo que as exigências desmedidas inquietam os cidadãos e tornam-nos desconfiados, dos outros e do jogo incompreensível.
Em suma, para a autora, o assombramento atual com os meios de sobrevivência vem levando os franceses à consciência de um destino comum, revelada no adesivo com o dizer: “Eu luta de classes”, que dubiamente reforça tanto a ação de lutar quanto a de pertencer a uma categoria social histórica.

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