CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

sábado, 16 de janeiro de 2010

O HAITI, A TERRA, ESSAS COISAS, por Mateus Alves da Silva

-em 15/01/10
Na verdade, tomei conhecimento da tragédia ontem à noite, 14/01/10, quando regressava do meio dos pataxós no Sul da Bahia, onde estive sem rádio e sem TV certo tempo. Desconfiava que se tratava da Sra. Arns, embora as referências do grande Jonguinha, taxista e gente boa pataxó que me informava, sejam aquelas de que prá baixo é tudo Sul. Ele dizia que se tratava de uma mulher brasileira, do Sul, que ali, ironicamente, estava ajudando os outros e que levava a vida nesse sublime trabalho. Os nomes que me vieram à cabeça foram os da Dra. Arns, da pastoral e do Cardeal.
Na Tv, já em casa, hoje pela manhã, vi aquele caos.
E confirmei a morte da Dra Arns.
A vida esvai-se, e não sei se dormirei hoje apesar da noite em aeroporto ruim.
Tentei achar uma explicação para aquilo.
Não achei.
Lembrei-me do que li recentemente sobre a Filosofia Oriental Chinesa e sua visão sobre os seres e a criação.
Para ela, todos os seres são por assim dizer vivos.
Assim como tu e eu somos vivos, temos personalidades etc, os seres criados são vivos. O Sol é um ser vivo. A terra é um ser vivo. Aliás, um é yang, a outra é yin.
Fiquei imaginando o seguinte.
Assim sendo, sendo eles vivos, a terra há de ter vontade, há de ter a vontade mínima que seja, a vontade mínima de continuar a existir, de perdurar, de cumprir seu destino, não é mesmo?
Ora, se é capaz de ter vontade de existir, há de querer ao menos defender-se, fazendo, por conseguinte, o que lhe estiver ao alcance fazer para isso.
Imaginei mais: ora, a Terra há de querer fazer o que lhe estiver ao alcance fazer para sua defesa, como qualquer ser vivente faria...
Se é assim, posso admitir também que uma manifestação como essa a que se chamou terremoto não seja um ato de fatalidade, um resultado de posicionamento de placa tectônica etc e tal ou mesmo um resultado de situação climática; em suma, um resultado causado por fator externo. Posso admitir simplesmente que tenha sido um ato de vontade da Terra direcionado, objetivo.
A Terra teria atirado contra os homens violentamente.
As questões restantes seriam: o porquê desse contra-ataque e o porquê da escolha do Haiti ou mais especificamente da sua Capital.
As respostas que imaginei para a primeira questão foram as seguintes: a Terra se defendia de algo relacionado ao homem, que ela julgara realmente grave do ponto de vista da sua perpetuação.
Qual seria?
A existência dos haitianos que ela escolheu levar para o reino da Morte?
A existência dos "gringos" que ali estavam, incluindo a Dra. Arns, igualmente levados?
Pouco provável, pensei.
A própria existência humana sobre a sua face?
Não faz sentido, conclui.
Caso assim fosse, bastar-lhe-ia sacolejar-se como faz um cão, quando lhe incomodam as pulgas. Vale lembrar que as pulgas poderiam viver perfeitamente no cão, caso não o incomodassem com suas picadas. Um sacolejo só e seríamos varridos, ou melhor, lavados para as profundezas abissais do mar e de um mar de fogo e enxofre (Credo).
Não foi isso o que se viu.
Evidente, portanto, que não era o caso de destruir o homem.
Resta, portanto, a hipótese de que fosse destruir algo que cerca este.
O que e como?
Como - já vimos - foram atingidos duramente o Haiti e todos nós, de tabela, senão por mais nada pelo simples pavor de que aquilo também nos colha.
Para extinguir o quê, qual fator humano, foi o que tentei imaginar.
Não creio em alterações climáticas, em interferência no macro-sistema climático capaz de ser feita pelo homem de modo a colocar a Terra em perigo, salvo, é claro, por via de hecatombe, como, por exemplo, a do poder que se atribui à Bomba “h”.
Aliás, não creio em alteração climática, gerada por interferências em micros sistemas, capaz de colocar o próprio homem em perigo. Este, de certo modo, já se ajustou a tantos ciclos e há de continuar se ajustando.
Sou, no momento, adepto das teorias que falam das variações climáticas cíclicas e independentes da atuação humana e dos fatores novos que esta possa ter produzido.
Imaginei, portanto, que o perigo contra o qual se defendia a Terra é de outra ordem ou, se preferirem, de outra natureza. Mais profunda, aliás, diga-se.
Qual?
Qual perigo o homem traz, em si, para a Terra?
Disse, pela manhã à minha mulher, ambos com os olhos pesados de sono da noite em claro, o seguinte:
"A Terra tolera tudo, a Terra tolera o bem e o mal desde o início do homem. O que ela parece não tolerar é o desequilíbrio na nossa relação com ela e suas consequências.
E o que eu vejo como desequilíbrio terrível nessa confusão toda, como pai e mãe do desequilíbrio dessa merda toda, não é nada dessa bobagem que chamam de questão ecológica etc e tal. É o desequilíbrio das relações humanas e, por conseguintes, destas com a própria Terra. E vou procurar dar-te uma explicação: vivemos e tocamos a vida em geral, hoje em dia, em boa parte do globo terrestre, pautados pela filosofia e pela ética neoliberal que resumo como sendo essa coisa do cada um por si. Tu e eu, por exemplo, podemos dizer que levamos a vida da forma mais correta segundo tal padrão de pensamento vigorante. Vivemos politicamente corretos, por assim dizer, quando cuidamos de nós mesmos e de nossos filhos e família (nossas limitadas extensões) de acordo com esse mesmo padrão. Mas e se essa droga de padrão estiver errada do ponto de vista da continuação da espécie humana, componente aliás, ilustre da Terra?!... Não estaríamos agindo politicamente corretos do ponto de vista do padrão humano atual, mas de forma errada sob o prisma da defesa da Terra.
Em outras palavras, estaríamos certos e errados ao mesmo tempo, como creio que estamos nesse desequilíbrio causado pelo modo de pensar (e consequentemente de agir) ditado pelo padrão neoconservador que nos impôs (e admitimos a até sem perceber) a desmedida preocupação com o "eu próprio" em detrimento da preocupação com o outro e o todo. Um desequilíbrio. Um desequilíbrio que ultrapassa o conceito de bem e mal.”
Pois é, resumi minha conclusão, diante da minha mulher e de seus olhos pesados de tristeza e sono:“O que a Terra fez foi cuspir violentamente sobre o Haiti, para que esse nosso desequilíbrio não a afetasse tanto, como fatalmente ela seria afetada pela nossa extinção, cada vez mais próxima, como consequência inevitável desse desajuste.
Restou no ar a pergunta do "porquê o Haiti"?
Sei lá...
Deve ser porque a Terra o julgou capaz de sacrifícios tremendos. Assim como julgou capaz de sacrifícios tremendos a Dra. Arns e os demais voluntários que ela recolheu ao sono.

-para o Blog "Coletivo Brasil 3000" (coletivobrasil3000@blogspot.com) em 15/01/10

Um comentário:

  1. HAITI.

    Percebi o paradoxo em que você se encontrou ao receber a notícia do terremoto no Haiti. Vocêl, vindo de merecidas férias na Bahia, depara-se com a triste informação, o que lhe deixa altamente triste. Isto mostra a sua sensibilidade aos acontecimentos alheios. Aliás, não alheios. Diz respeito à natureza como o todo.

    Os comentários ambientais que você citou me remonta a 1993, quando DAVID GILMOR, do Pink Floyd lançou a música "TAKE IT BACK". Nessa canção, GILMOR explora incessantemente o nosso descaso para com o meio-ambiente. A degradação constante, os enganos que cometemos, nossas imprudências e as falsas promessas de contribuição para a qualidade de vida do planeta. "TAKE IT BACK" significa "tomar de volta". Ele quer dizer que a terra vai tomar de volta tudo que retiramos dela.

    Foi o que aconteceu e vem acontecendo = a terra vem tomando de volta os desrespeitos contra ela.
    Alguns exemplos recentes= El Ninõ, Terremoto em Kobe - Japão em 1996, Tsunami na Indonésia em 2004, ciclones que vem aumentando pouco a pouco até se tornar um Katrina, enchentes nos quatro cantos do mundo, terremoto da China há poucos anos atrás e por último (último até quando?) o episódio no Haiti.

    Digo episódio porque haverão novos acontecimentos. Não sou desejoso disso, mas ciente de que é uma realidade e não devemos escapar.

    Já ouvi e creio que você, Mateus, já tenha ouvido também o seguinte jargão= "Somos felizes porque no Brasil não tem terremotos, vulcões ou furacões". Mas não temos por enquanto. A ausência dos acidentes citados é suprimida pelas fortes ondas de calor e enchentes que castigam o Brasil. Alguns sinais foram dados= pequenos tremores de terra em João Câmara RN e outas cidades do Brasil, pequenos ciclones no Sul do país. Lembre-se= tudo que é pequeno pode crescer.

    O Haiti foi mais uma cena do que infelizmente acontecerá no mundo daqui por diante.

    Alternativas para se evitar tais problemas nós temos, mas nem mesmo nas grandes conferências como em Copenhagem não se chegaram a um consenso.

    As suas considerações sobre o Haiti reforçam a música de Gilmor= Ela (A terra), vem vingando-se passo a passo da humanidade através das tragédias. Esperamos que aquele sofrimento dos nossos irmãos caribenhos nos sensibilize cada vez mais e também a comunidade internacional sobre a cilada em que estamos entrando por não respeitar o ambiente.

    Alessandro Ferreira dos Santos

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