CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO


CONTRA O LATROGENOCÍDIO DO POVO LÍBIO



Mantemos a recomendação do vídeo de Jean-Luc Godard, com sua reflexão sobre a cultura européia-ocidental, enquanto a agressão injusta à Nação Líbia perdurar.




Como contraponto à defesa de civis pelos americanos, alardeada em quase todas as recentes guerras de agressão que promovem, recomendamos o vídeo abaixo, obtido pelo Wikileaks e descriptografado pela Agência Reuters

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CIÚMES DO JAZZ - por Walter (republicado)

Para o final de semana, republicamos e recomendamos o texto abaixo, do Walter.
Como gosta de dizer o autor: - "divirtam-se."


"Ciúmes do jazz. Ou melhor: dos paparicos que ele recebe em pais, como o Brasil. Lugar que tanta dificuldade em reconhecer a sua música popular como alguma coisa que não seja só produto – e para que ela seja só isso, fazem de tudo. Nada contra o gênero e os grandes jazzistas. Afinal são mais uma lição, contundente, da criatividade da arte nas Américas e de sua universalidade. Mas muitas, muitas, dúvidas em relação a como o jazz é recebida por aqui. Isto é: como algo chique, esnobe, som de e para elite “esclarecida”. Contraposta à outra música, de ignorantes, que seria só batuque, primo pobre do irmão do norte.
Invejável no jazz é sem dúvida a qualidade de seus artistas. Gente pobre, que levando suas dores, almas, para os instrumentos inventou algo único. Mas não há como deixar de observar também indústria poderosa que espalhou e espalha tudo isso pelo mundo. A prova é ter toda história do jazz lançada e relançada a exaustão. E explicada e reexplicada, gravada e regravada, louvada e louvada até, no limite, soar como doutrinação de “índios” impondo devoção a palavra “elaborada” do colonizador.
Tudo bem, escrever tudo isso é puro ciúme da glória do jazz. Diante do que sinto incapacidade, nacional, de entender toda força, beleza e grandeza do samba brasileiro, do samba do Brasil. Enorme repertório de criações, artistas geniais, reconhecimento que há nele síntese cultural que produziu algo original, canções que, goste-se ou não, estão na memória de todos, nunca resulta numa coleção de discos. Que conte, para mais gente que o círculo de especialistas, de onde vem este batuque tão sedutor. Que amplie, com generosidade e rigor, de obras, autores, personagens, gêneros, estilos etc.
Recentemente ouvi de um jornalista que ainda hoje há autores, cariocas, importantes, que não tem um disco com sua obra. Considerando que o samba não é de um outro lugar, mas é nacional, praticado em todo Brasil, e considerando o tamanho do país, fico pensando quanto outros sequer são conhecidos. É carência tão impressionante que algum desavisado deve imaginar que o enorme e belíssimo repertório surgiu só por acaso, como frutos em árvores do acaso ou da inspiração. O que fica, que resiste, são fragmentos, versos, canções avulsas, lendas, memória cheia de buracos que nenhum restauro retórico apaga. Já que é matéria que não precisa de caridade, é ciência do povo que se propaga faça sol ou chuva, em tempo bom ou ruim. Mas a custa de dramas enormes.
Os 50 anos da Bossa Nova (que João Gilberto disse que é samba), recém encerrados, até ensejou comemorações, shows, espetáculos históricos. Mas sempre, até o limite do irritante, priorizando a apropriação pelas das classes médias, urbanas, do gênero. Nenhum sinal de força ou esforço para esse estado de espírito fosse além destes parâmetros. É como se não houvesse nada antes da Bossa Nova. Mesmo quando João Gilberto (sempre ele, salve!) canta e toca composição que é peça de afirmação da existência de preconceito com o samba. Diz a letra de Prá que discutir com madame?, música de Haroldo Barbosa: “Madame diz que a raça não melhora/ Que a vida piora por causa do samba/ Madame diz o que samba tem pecado/ Que o samba é coitado e devia acabar/ Madame diz que o samba tem cachaça/ mistura de raça mistura de cor/ Madame diz que o samba democrata/ é música barata sem nenhum valor./ Vamos acabar com o samba, madame não gosta que ninguém sambe./ Vive dizendo que samba é vexame/ Pra que discutir com madame.
Mais: “No carnaval que vem também concorro/ Meu bloco de morro vai cantar ópera/ E na Avenida entre mil apertos/ Vocês vão ver gente cantando concerto/ Madame tem um parafuso a menos/ Só fala veneno, meu Deus, que horror/ O samba brasileiro democrata/ Brasileiro na batata é que tem valor”. È possível romper com situação cruel de ouvir samba sem conhecer a história de seus criadores? Dá para continuar fingindo que não conhecemos seus dramas, quando cantamos todos eles? Tudo isso pode e deve se tornar história coletiva, que você encontra ali na esquina sem muita dificuldade ou que chega a sala de aula? Será que um dia o samba vai poder ser algo mais do que um dos exemplos do nosso “dom” e enorme afeição pela música? Para não ficar só no lamento segue duas dicas nem tão difíceis de serem encontradas assim, e que são ótimas em todos os aspectos: os quatro discos da coleção Casa de samba e Samba da Bahia, CD de Beth Carvalho. Mais tem que procurar, e muito.
- Walter Sebastião.

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