NIÓBIO, METAL ESTRATÉGICO
(esta é uma versão modificada e atualizada do artigo “Nióbio a Preço de Banana”, publicado em A Nova Democracia, nº 74, Ano 9, fevereiro de 2011.)
Adriano Benayon – 21.02.2011
Está em nosso País a quase totalidade das jazidas conhecidas no Planeta do nióbio, minério essencial para as indústrias aeronáutica e aeroespacial, para a indústria nuclear, inclusive armas e seus mísseis. A atual tecnologia faz o nióbio, graças à sua superioridade substituir metais, como molibdênio, vanádio, níquel, cromo, cobre e titânio, em diversas outros setores industriais.
2. Embora a maioria das pessoas nem saiba o que é nióbio ou para que serve, esse mineral mostra emblematicamente, como o País, extremamente rico em recursos naturais, permanece pobre, além de perder, sem volta, esses recursos, e de se estar desindustrializando, sobre tudo nos setores de maior conteúdo tecnológico.
3. A primarização da economia brasileira é fato confirmado até nas estatísticas oficiais. O Brasil está cada vez mais importando produtos de elevado valor agregado e exportando, com pouco ou nenhum valor agregado, seus valiosos recursos naturais.
4. Isso acarreta baixos níveis salariais no País e também a gestação de crises nas contas externas, cujo equilíbrio sempre dependeu de grandes saldos (que agora estão definhando) no balanço das mercadorias, para compensar o déficit crônico nas contas de “serviços” e de “rendas” do Balanço de Pagamento.
5. O que está por acontecer de novo já ocorreu antes, quando a oligarquia financeira mundial atirou o Brasil na crise da dívida externa de 1982/1987. Os prejuízos decorrentes dessa crise foram grandemente acrescidos com o privilegiamento do “serviço da dívida” no Orçamento Federal, instituído por meio de fraude, no texto da Constituição de 1988. Esse “serviço” já acarretou despesa, desde então, de 6 trilhões (sim, trilhões) de reais, com a dívida pública externa e interna, esta derivada daquela.
6. Tudo isso concorreu para agravamento da situação gerada pelo defeito original do modelo: ter, desde 1954, favorecido os investimentos diretos estrangeiros com subsídios e vantagens maiores que os utilizáveis por empresas de capital nacional. Estas foram sendo eliminadas em função da política econômica governamental. As que restaram tornaram-se caudatárias das transnacionais e de interesses situados no exterior. Vê-se, pois, a conexão entre os grandes vetores de empobrecimento e de primarização da economia nacional
7. O niobio é tão indispensável quanto o petróleo para as economias avançadas e provavelmente ainda mais do que ele. Além disso, do lado da oferta, é como se o Brasil pesasse mais do que todos os países da OPEP juntos, pois alguns importantes produtores não fazem parte dela.
Números
8. Cerca de 98% das reservas da Terra estão no Brasil. Delas, pois, depende o consumo mundial do nióbio. A produção, cresceu de 25,8 mil tons. em 1997 para 44,5 mil tons., em 2006. Chegou a quase 82 mil tons. em 2007, caindo para 60,7 mil tons., em 2008, com a depressão econômica (dados do Departamento Nacional de Produção Mineral). Estima-se atualmente 70 mil toneladas/ano. Mas a estatística oficial das exportações brasileiras aponta apenas 515 toneladas do minério bruto, incluindo “nióbio, tântalo ou vanádio e seus concentrados”!
9. Fontes dignas de atenção indicam que o minério de nióbio bruto era comprado no garimpo a 400 reais/quilo, cerca de U$ 255,00/quilo (à taxa de câmbio atual e atualizada a inflação do dólar).
10. Ora, se o Brasil exportasse o minério de nióbio a esse preço, o valor anual seria US$ 15.300.000 (quinze bilhões e trezentos milhões de dólares). Se confrontarmos essa cifra com a estatística oficial, ficaremos abismados ao ver que nela consta o total de US$ 16,3 milhões (0,1% daquele valor), e o peso de 515 toneladas ( menos de 1% do consumo mundial). Observadores respeitáveis consideram que o prejuízo pode chegar a US$ 100 bilhões anuais.
11. Mesmo que o nióbio puro seja cotado a somente US$ 180 por quilo, como indica o site chemicool.com, ainda assim, o valor nas exportações brasileiras do minério bruto correspondia a apenas 1/10 disso. O nióbio não é comercializado nem cotado através das bolsas de mercadorias, como a London Metal Exchange, mas, sim, por transações intra-companhias.
12. Há, ademais, um item, ligas de ferro-nióbio, em que o total oficial das exportações alcança US$ 1,6 bilhão, valor mais de 100 vezes superior à da exportação do nióbio e de minérios a ele associados, em bruto. O mais notável é que o nióbio entra com somente 0,1% na composição das ligas de ferro-nióbio. Vê-se, assim, o enorme valor que o nióbio agrega num mero insumo industrial, de valor ínfimo em relação aos produtos finais das indústrias altamente tecnológicas que o usam como matéria-prima.
13. Note-se também que a quantidade oficialmente exportada do ferro-nióbio em 2010 foi 66.947 toneladas. O nióbio entrando com 0,1% implicaria terem saído apenas 67 toneladas de nióbio, fração ínfima da produção mundial quase toda no Brasil e do consumo mundial realizado nas principais potências industriais e militares.
Campanha nacional
14. As discrepâncias e absurdos são enormes e têm de ser elucidados e corrigidos. Para isso, há que expô-los em grande campanha nacional, que leve a acabar não só com o saqueio do nióbio, mas também com a extração descontrolada de metais estratégicos e preciosos, sem qualquer proveito para o País, o qual, ainda por cima, fica com as dívidas aumentadas.
15. O desenvolvimento dessa campanha deverá também fazer o povo entender que a roubalheira dos recursos minerais só poderá cessar se forem substituídas as atuais estruturas de poder.
* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br
- publicação autorizada, recebida em 28/02/11
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Mensalão mineiro: testemunhas ouvidas
Notícias
25/02/2011 - Terminou às 21h dessa quinta-feira, dia 24, mais uma audiência do caso que ficou conhecido como mensalão mineiro. Foram ouvidas 12 testemunhas de acusação. Os trabalhos foram presididos pela juíza Neide da Silva Martins, da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, onde tramita o processo.
O promotor João Medeiros Neto representou o Ministério Público. Estiveram presentes cinco acusados: W.S.M.G.N, C.R.M.S, E.P.G.N., F.M.S., J.A.B.B.S. Outros cinco réus estavam ausentes, sendo representados pelos seus advogados.
Entenda o caso
Os réus respondem pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Os fatos narrados na denúncia teriam acontecido durante a campanha de E.A. ao Governo de Minas Gerais, em 1998.
O processo contra E.A. tramitará no Supremo Tribunal Federal (STF), em virtude da prerrogativa de função. Pelo mesmo motivo, o acusado C.A, que no decorrer da ação tomou posse como senador no último dia 12 de janeiro, também deve responder ao processo no STF.
Em maio de 2009, o relator do processo no STF, ministro Joaquim Barbosa, ordenou o desmembramento do processo, determinando que todos, exceto Eduardo Azeredo, respondessem aos crimes na Justiça Federal de 1ª Instância.
Ocorre que, de acordo com a Constituição Federal, os crimes descritos na denúncia não são da competência da Justiça Federal, o que fez com que aquele juízo declinasse da competência, remetendo os autos para a Justiça Estadual.
Respondem pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro na Justiça Estadual, na 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, 10 acusados: W.SM.G.N, C.M.S, M.V.F.S., R.H.C, C.M.P., E.P.G.N, F.M.S., L.W.L.F., R.C.C. e J.A.B.B.S..
Assessoria de Comunicação Institucional - Ascom
Fórum Lafayette
(31) 3330-2123
ascomfor@tjmg.gov.br
Processo Nº: 0024.09.681.796-0
recebido em 25/02/11
25/02/2011 - Terminou às 21h dessa quinta-feira, dia 24, mais uma audiência do caso que ficou conhecido como mensalão mineiro. Foram ouvidas 12 testemunhas de acusação. Os trabalhos foram presididos pela juíza Neide da Silva Martins, da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, onde tramita o processo.
O promotor João Medeiros Neto representou o Ministério Público. Estiveram presentes cinco acusados: W.S.M.G.N, C.R.M.S, E.P.G.N., F.M.S., J.A.B.B.S. Outros cinco réus estavam ausentes, sendo representados pelos seus advogados.
Entenda o caso
Os réus respondem pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Os fatos narrados na denúncia teriam acontecido durante a campanha de E.A. ao Governo de Minas Gerais, em 1998.
O processo contra E.A. tramitará no Supremo Tribunal Federal (STF), em virtude da prerrogativa de função. Pelo mesmo motivo, o acusado C.A, que no decorrer da ação tomou posse como senador no último dia 12 de janeiro, também deve responder ao processo no STF.
Em maio de 2009, o relator do processo no STF, ministro Joaquim Barbosa, ordenou o desmembramento do processo, determinando que todos, exceto Eduardo Azeredo, respondessem aos crimes na Justiça Federal de 1ª Instância.
Ocorre que, de acordo com a Constituição Federal, os crimes descritos na denúncia não são da competência da Justiça Federal, o que fez com que aquele juízo declinasse da competência, remetendo os autos para a Justiça Estadual.
Respondem pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro na Justiça Estadual, na 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, 10 acusados: W.SM.G.N, C.M.S, M.V.F.S., R.H.C, C.M.P., E.P.G.N, F.M.S., L.W.L.F., R.C.C. e J.A.B.B.S..
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Processo Nº: 0024.09.681.796-0
recebido em 25/02/11
"Brasil é o 6º no ranking de homicídio de jovens", extraído do Correio do Brasil

24/2/2011 12:27, Redação, com ABr - de Brasília
O Brasil é o sexto país no ranking de homicídios entre jovens. De acordo com o estudo Mapa da Violência 2011, divulgado nesta quinta-feira pelo Ministério da Justiça, a taxa de homicídio entre jovens de 15 a 24 anos subiu de 30 mortes por 100 mil habitantes, em 1998, para 52,9, em 2008. Nesse período, o número total de homicídios registrados no país cresceu 17,8%, ao passar de 41,9 mil para 50,1 mil.
De acordo com o autor da pesquisa, Julio Jacobo, os homicídios são responsáveis por 39,7% das mortes de jovens no Brasil. O estudo aponta que as taxas mais elevadas, acima de 60 homicídios em cada grupo de 100 mil jovens, estão na faixa dos 19 aos 23 anos de idade.
– O jovem morre de forma diferente na atualidade. A partir da década de 1980, houve um novo padrão de mortalidade juvenil –, destacou o pesquisador.
Em alguns Estados, a morte de mais da metade de jovens foi provocada por homicídios. Alagoas é o Estado que tem a taxa de homicídio juvenil mais alta do país (60,3), seguido pelo Espírito Santo (56,4), por Pernambuco (50,7), pelo Pará (39,2) e Amapá (34,4).
Segundo Jacobo, os índices de homicídio nas capitais e regiões metropolitanas tiveram uma queda de 3,1% entre 1998 e 2008. No entanto, houve um crescimento considerável das taxas no interior do país.
– Chamamos isso de interiorização da violência. A partir de 2003, ocorreu uma queda das taxas de homicídios nas capitais, no entanto, as taxas de homicídio no interior estão crescendo assustadoramente.
Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esse quadro de violência entre jovens no país exige das autoridades públicas uma profunda reflexão.
– Isso coloca sobre os nossos ombros desafios, aos quais temos que responder com integração e superação de obstáculos, para que possamos ter uma política nacional de combate à violência que surta efeitos.
Cardozo anunciou que vai desenvolver um sistema de informação que mostre o mapa da violência em tempo real.
– Apesar de todo esforço dos pesquisadores, as bases de dados disponíveis são de 2008. Temos uma defasagem de três anos. Não temos uma situação atualizada em tempo real do crime. É impossível ter uma ação de segurança pública sem informação.
Segundo ele, a política de repasse de verbas aos estados será condicionada a esse sistema.
– A ideia é que isso seja transparente, ou seja, que a sociedade possa acompanhar em tempo real onde acontecem os crimes.
-extraído do Correio do Brasil (http://correiodobrasil.com.br/brasil-e-o-6%C2%BA-no-ranking-de-homicidio-de-jovens/214565/)
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
"Professores denunciam exploração gigantesca das riquezas nacionais", extraído do Correio do Brasil
23/2/2011 13:36, Por Redação, com Carta Capital - de São Paulo

Bipolaridade: a Guerra Fria dividiu o mundo em blocos capitalistas e comunistas
A remessa abusiva de lucros das multinacionais a seus países de origem é, por si só, a denúncia cabal do modelo colonial de economia ainda vigente. E esse verdadeiro muro da vergonha da exploração capitalista internacional, acabada a guerra fria e instaurada a globalização da economia, insiste em se manter em pé, perpetuando a espoliação.
Ilustra, objetivamente, esse quadro artigo assinado na última edição da revista CartaCapital por Fernando Sarti e Célio Hiratuka, professores do Instituto de Economia da Unicamp. Um aspecto que vale a pena destacar, também, é o fluxo ampliado de dinheiro público, do BNDES, a essas multinacionais. As remessas feitas ano passado equivalem a quase dez vezes os investimentos dessas filiais em no país.
Diz o texto:
“As remessas das filiais automotivas para os debilitados caixas de suas matrizes atingiram a expressiva soma de US$ 4 bilhões, em 2010, o que representou um valor quase dez vezes maior do que os investimentos externos realizados por essas filiais no mesmo período (450 milhões de dólares). Repete-se, assim, o movimento já observado durante e após a crise. Se considerarmos o período 2008-2010, as remessas de lucros e dividendos das empresas automotivas totalizaram
US$ 12,4 bilhões ante investimentos externos de apenas US$ 3,6 bilhões, o que significa um saldo líquido negativo de US$ 8,8 bilhões, em que pese o excelente desempenho das vendas e da produção na economia brasileira”.
Dizem mais os professores da Unicamp:
“Ao mesmo tempo que as remessas ao exterior se elevaram, as empresas do setor automotivo tomaram financiamentos de US$ 8,7 bilhões (aproximadamente, R$ 16,3 bilhões) ao BNDES, no período 2008-2010. Por outro lado, a média anual de investimentos produtivos foi da ordem de US$ 2 bilhões para as montadoras e de US$ 1,3 bilhões para as autopeças nos últimos anos. Isso significa que quase a totalidade dos recursos necessários para financiar seus investimentos saiu dos cofres públicos, enquanto parcela expressiva dos lucros foi transferida para as matrizes”.
Os autores do artigo também chamam atenção para a falta de contrapartidas quando dos generosos financiamentos pelo BNDES. Mas a farra do dinheiro fácil e da renúncia fiscal é faca de dois gumes, alertam os professores, que concluem: “Sem mais e melhores investimentos, o País e o próprio setor automotivo correm sério risco de perder competitividade e reduzir quantitativa e qualitativamente sua inserção na rede corporativa global”.
extraído do Correio do Brasil (http://correiodobrasil.com.br/professores-denunciam-exploracao-gigantesca-das-riquezas-nacionais/214304/)em 24.02.11

Bipolaridade: a Guerra Fria dividiu o mundo em blocos capitalistas e comunistas
A remessa abusiva de lucros das multinacionais a seus países de origem é, por si só, a denúncia cabal do modelo colonial de economia ainda vigente. E esse verdadeiro muro da vergonha da exploração capitalista internacional, acabada a guerra fria e instaurada a globalização da economia, insiste em se manter em pé, perpetuando a espoliação.
Ilustra, objetivamente, esse quadro artigo assinado na última edição da revista CartaCapital por Fernando Sarti e Célio Hiratuka, professores do Instituto de Economia da Unicamp. Um aspecto que vale a pena destacar, também, é o fluxo ampliado de dinheiro público, do BNDES, a essas multinacionais. As remessas feitas ano passado equivalem a quase dez vezes os investimentos dessas filiais em no país.
Diz o texto:
“As remessas das filiais automotivas para os debilitados caixas de suas matrizes atingiram a expressiva soma de US$ 4 bilhões, em 2010, o que representou um valor quase dez vezes maior do que os investimentos externos realizados por essas filiais no mesmo período (450 milhões de dólares). Repete-se, assim, o movimento já observado durante e após a crise. Se considerarmos o período 2008-2010, as remessas de lucros e dividendos das empresas automotivas totalizaram
US$ 12,4 bilhões ante investimentos externos de apenas US$ 3,6 bilhões, o que significa um saldo líquido negativo de US$ 8,8 bilhões, em que pese o excelente desempenho das vendas e da produção na economia brasileira”.
Dizem mais os professores da Unicamp:
“Ao mesmo tempo que as remessas ao exterior se elevaram, as empresas do setor automotivo tomaram financiamentos de US$ 8,7 bilhões (aproximadamente, R$ 16,3 bilhões) ao BNDES, no período 2008-2010. Por outro lado, a média anual de investimentos produtivos foi da ordem de US$ 2 bilhões para as montadoras e de US$ 1,3 bilhões para as autopeças nos últimos anos. Isso significa que quase a totalidade dos recursos necessários para financiar seus investimentos saiu dos cofres públicos, enquanto parcela expressiva dos lucros foi transferida para as matrizes”.
Os autores do artigo também chamam atenção para a falta de contrapartidas quando dos generosos financiamentos pelo BNDES. Mas a farra do dinheiro fácil e da renúncia fiscal é faca de dois gumes, alertam os professores, que concluem: “Sem mais e melhores investimentos, o País e o próprio setor automotivo correm sério risco de perder competitividade e reduzir quantitativa e qualitativamente sua inserção na rede corporativa global”.
extraído do Correio do Brasil (http://correiodobrasil.com.br/professores-denunciam-exploracao-gigantesca-das-riquezas-nacionais/214304/)em 24.02.11
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
"O ditador Kadafi (...)", por Hélio Fernandes
O ditador Kadafi, da crueldade, da tortura,
da corrupção, da selvageria, garante:
“Não vou renunciar, não deixarei o poder,
morrerei como mártir”.
Helio Fernandes
Essa revolução no mundo árabe, é uma das mais legítimas conquistas da internet. Começou na Tunísia, se expandiu, nao para mais. Derrubou Mubarak, que aconselhado pelos EUA e por países da Europa, renunciou em troca de favores, como a “moradia” em lugar seguro, e a garantia dos bens roubados, que serão devolvidos.
Comentei aqui, na época: “O povo não obteve nenhuma vitória, apenas trocaram de dono e senhor, suas condições de vida não melhoraram nem irão melhorar”. Tudo confirmado e garantido.
Esses protestos têm tudo para revoltar e incendiar outros países já em chamas. Só que no momento, o que está no centro de tudo é a Líbia de Kadafi, o ditador que acredita que é um mártir.
Kadafi não tem salvação. Se quiser morrer no Palácio ditatorial, não será contrariado. Apesar das informações incertas e dispersas, Kadafi escolheu seu próprio funeral e o local de onde sairá, mas não onde será enterrado e até mesmo se sobrará alguma coisa para ser soterrada. (É a palavra que ele merece, e não a outra, eterna e usada pelo mundo inteiro).
Kadafi é protagonista de fatos que jamais aconteceram. No Mundo Árabe ou no Ocidental. Sua crueldade é tanta, que pela primeira vez na História, embaixadores da Líbia em diversos países, renunciam aos cargos, se ASILAM em embaixadas de outros países.
Na ONU e em diversos países, os embaixadores da Líbia RENUNCIAM, pedem DEMISSÃO DE KADAFI, mas afirmam: “Continuamos representando o povo da Líbia”. E por que essas afirmações, convicções, determinações?
Kadafi contratou MERCENÁRIOS dos mais diversos lugares para assassinarem seu próprio povo, para atirarem contra a multidão, coisa que nem os militares seus “aliados” aceitaram fazer. É o caso dos dois pilotos, que recebendo ORDENS PARA ASSASSINAR O POVO, abandonaram os aviões, se asilaram em Malta, (no caminho) revelaram: “Não cumpriremos essas ordens de atirar contra o povo desarmado”.
Mas é preciso lembrar que no meio de tudo isso está o petróleo, como esteve em outras oportunidade, principalmente na segunda farsa contra o Iraque. A primeira com Bush pai, a segunda com Bush filho. Também esse fato indefensável e inesquecível: ano passado, por sugestão dos EUA e de países da Europa, Kadafi recebeu “homenagens” trágicas e dramáticas. Por causa do petróleo, muitos presidentes e primeiros-ministros da Europa se arrojaram aos pés do ditador.
Kadafi homenageado por países que se dizem democratas (uma democracia movida a petróleo) era diferente? Ora, não façam o mundo rir. Já havia completado 40 anos no Poder, e alguém só consegue ou “conquista” isso com muito apoio ou petróleo. Kadafi tinha os dois, já nem sabe se tem pelo menos o segundo.
***
PS – O fim dele está próximo, e a internet (a primeira a ser censurada na tentativa de liquidá-la ou intimidá-la na Líbia) pode estar bem perto de afastar ditaduras em outros países, o próximo deve ser o Bahrein, embora não fique por aí.
PS2 – Também não nos esqueçamos que a ONU, inútil, descrente, desatinada e insensata, no ano passado colocou a Líbia no Conselho dos Direitos Humanos. Como definir essa ONU que agora tenta se reabilitar (?) pedindo o fim de Kadafi?
- extraído do blog http://www.tribunadaimprensa.com.br/ em 23/02/11
da corrupção, da selvageria, garante:
“Não vou renunciar, não deixarei o poder,
morrerei como mártir”.
Helio Fernandes
Essa revolução no mundo árabe, é uma das mais legítimas conquistas da internet. Começou na Tunísia, se expandiu, nao para mais. Derrubou Mubarak, que aconselhado pelos EUA e por países da Europa, renunciou em troca de favores, como a “moradia” em lugar seguro, e a garantia dos bens roubados, que serão devolvidos.
Comentei aqui, na época: “O povo não obteve nenhuma vitória, apenas trocaram de dono e senhor, suas condições de vida não melhoraram nem irão melhorar”. Tudo confirmado e garantido.
Esses protestos têm tudo para revoltar e incendiar outros países já em chamas. Só que no momento, o que está no centro de tudo é a Líbia de Kadafi, o ditador que acredita que é um mártir.
Kadafi não tem salvação. Se quiser morrer no Palácio ditatorial, não será contrariado. Apesar das informações incertas e dispersas, Kadafi escolheu seu próprio funeral e o local de onde sairá, mas não onde será enterrado e até mesmo se sobrará alguma coisa para ser soterrada. (É a palavra que ele merece, e não a outra, eterna e usada pelo mundo inteiro).
Kadafi é protagonista de fatos que jamais aconteceram. No Mundo Árabe ou no Ocidental. Sua crueldade é tanta, que pela primeira vez na História, embaixadores da Líbia em diversos países, renunciam aos cargos, se ASILAM em embaixadas de outros países.
Na ONU e em diversos países, os embaixadores da Líbia RENUNCIAM, pedem DEMISSÃO DE KADAFI, mas afirmam: “Continuamos representando o povo da Líbia”. E por que essas afirmações, convicções, determinações?
Kadafi contratou MERCENÁRIOS dos mais diversos lugares para assassinarem seu próprio povo, para atirarem contra a multidão, coisa que nem os militares seus “aliados” aceitaram fazer. É o caso dos dois pilotos, que recebendo ORDENS PARA ASSASSINAR O POVO, abandonaram os aviões, se asilaram em Malta, (no caminho) revelaram: “Não cumpriremos essas ordens de atirar contra o povo desarmado”.
Mas é preciso lembrar que no meio de tudo isso está o petróleo, como esteve em outras oportunidade, principalmente na segunda farsa contra o Iraque. A primeira com Bush pai, a segunda com Bush filho. Também esse fato indefensável e inesquecível: ano passado, por sugestão dos EUA e de países da Europa, Kadafi recebeu “homenagens” trágicas e dramáticas. Por causa do petróleo, muitos presidentes e primeiros-ministros da Europa se arrojaram aos pés do ditador.
Kadafi homenageado por países que se dizem democratas (uma democracia movida a petróleo) era diferente? Ora, não façam o mundo rir. Já havia completado 40 anos no Poder, e alguém só consegue ou “conquista” isso com muito apoio ou petróleo. Kadafi tinha os dois, já nem sabe se tem pelo menos o segundo.
***
PS – O fim dele está próximo, e a internet (a primeira a ser censurada na tentativa de liquidá-la ou intimidá-la na Líbia) pode estar bem perto de afastar ditaduras em outros países, o próximo deve ser o Bahrein, embora não fique por aí.
PS2 – Também não nos esqueçamos que a ONU, inútil, descrente, desatinada e insensata, no ano passado colocou a Líbia no Conselho dos Direitos Humanos. Como definir essa ONU que agora tenta se reabilitar (?) pedindo o fim de Kadafi?
- extraído do blog http://www.tribunadaimprensa.com.br/ em 23/02/11
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
"Aglomerado da Serra vive mais uma noite de medo e violência", extraído do Estado de Minas
Landercy Hemerson -
Pedro Rocha Franco -
Alfredo Durães
Publicação: 21/02/2011
Moradores enfrentaram militares a pedradas e incendiaram um micro-ônibus (foto) e dois carros na noite de ontem no Aglomerado da Serra, Centro-Sul de BH. Três adultos e uma criança ficaram feridos
Uma criança ficou ferida, três homens, um deles cinegrafista, foram atingidos por balas de borracha e pelo menos três pessoas foram presas durante enfrentamento, domingo à noite, entre militares e moradores na Praça do Cardoso, na Vila Marçola, Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de BH. Por volta 21h30, um micro-ônibus da linha 103 (Pouso Alto/Cafezal) foi incendiado na Praça Bela Vista, na Vila do Cafezal. Dois carros também foram incendiados e um veículo jogado em uma ribanceira.

Um grupo pretendia fazer um protesto no local contra a ação policial na madrugada do sábado, que resultou nas mortes do auxiliar de enfermagem Renilson Veriano da Silva, de 29 anos, e do dançarino e auxiliar de padeiro Jeferson Coelho da Silva, o Jefinho, de 17. Policiais começaram a ser hostilizados por moradores, que jogaram pedras nos carros. Houve reação de um PM, que atirou para o alto, dando início ao confronto.
Vários moradores estavam na praça, inclusive famílias com crianças. A menina L., de 5 anos, estava com seus pais de bicicleta, quando os policiais começaram a lançar bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. O casal já seguia para casa, quando a criança foi atingida por um estilhaço na perna. A revolta dos moradores foi ainda maior e eles expulsaram os PMs do local a pedradas. O pai da criança, o chaveiro Adriano Santos, de 22, disse que o ferimento da filha foi leve, mas ela ficou assustada: “Está chorando muito e me perguntando o tempo todo se vai morrer”.
Em poucos minutos, os militares retornaram com reforço, dando início a outro confronto. Com escudos, os policiais passaram a disparar balas de borracha para dispersar as pessoas que reagiam jogando pedras. Um manifestante foi atingido na boca por uma balas. Parentes de dois presos, identificados como Elias Moisés e Roberto Luiz, disseram que militares os ameaçaram de morte.
Inconformados com a ação policial, o grupo de moradores que resistia aos PMs decidiu sentar-se na praça e clamar por justiça. Os protestos continuaram e um grupo seguiu para a Praça Goiabal e houve novos confrontos. Sandro de Oliveira, de 19, foi baleado na boca. Barricadas foram montadas pelos manifestantes na Avenida Cardoso. O major Luís José Francisco Pires, do 22º Batalhão da PM, informou que foi a comunidade quem começou a jogar pedras nos policiais. “Agimos apenas de forma preventiva”, garantiu o oficial.
ENTERRO Os corpos de Renilson Silva e de Jeferson foram enterrados ontem à tarde no Cemitério da Saudade, na Região Leste da capital, sob gritos de revolta de parentes e amigos por justiça. Os dois foram baleados na madrugada de sábado na Vila Marçola, no Aglomerado da Serra, numa suposta troca de tiros com militares do Batalhão Rotam. Um morador da vila, que teria assistido de casa à ação dos PMs, foi identificado por agentes da Divisão de Crimes contra Vida (DCcV), da Polícia Civil, e apresentou versão diferente do relato dos militares. Além da DCcV, a Corregedoria da Polícia Militar abriu inquérito para apurar os crimes.
Informações oficiais da PM são de que Renilson e Jeferson foram abordados pela equipe da Rotam. Eles estariam entre um grupo de homens armados que vestiam fardas da corporação e que receberam os policiais a tiros. Um dos PMs teria sido atingido por um tiro, mas a bala ficou retida em seu colete. Os militares alegam que foram recebidos a tiros por cerca de 15 a 20 homens, em motos e a pé, que usavam fardas da PM. Os dois mortos estariam com as fardas embrulhadas debaixo do braço, dois revólveres em péssimo estado de conservação e munições.
A versão revoltou os moradores do aglomerado, em função de as vítimas serem conhecidas como trabalhadores, sem passagem pela polícia. Para os moradores, os dois foram executados. Revoltada, no sábado a comunidade incendiou dois ônibus. Ontem, centenas de policiais dos 1º, 16º e 22º batalhões, além de integrantes do Batalhão Rotam, todos armados, ocuparam pontos estratégicos do aglomerado, para evitar novas manifestações.
Morador denuncia abusos de policiais
No enterro de Renilson e Jeferson, ontem, no Cemitério da Saudade, centenas de pessoas prestaram as últimas homenagens às vítimas e aos gritos pediam por justiça. O pai de Jeferson e irmão de Renilson, o cabo da Polícia Militar Denilson Veriano da Silva, que está na corporação há 16 anos, revoltado, disse que vai pedir licença e não sabe qual será seu futuro. Ele garantiu que não está sofrendo pressão por parte do comando da PM. Afirmou que espera por justiça.
Vários moradores do aglomerado procuraram jornalistas para denunciar abusos de autoridade cometidos por militares. Um deles, o produtor cultural Marcelo Emiliano Júnio Veloso, de 27, conhecido como DJ Marcelo Mattos, afirmou que na noite do sábado um ônibus com moradores que seguia para o velório foi parado por PMs. Alguns deles subiram no veículo e disseram que vão retaliar qualquer tipo de denúncia.
O comandante do Batalhão Rotam, tenente-coronel Newton Antônio Lisboa, informou ontem que somente a assessoria de imprensa da PM poderá dar declarações sobre o caso. Esta, por sua vez, afirmou que a corporação só deve se manifestar hoje.
Uma fonte da Polícia Civil garantiu ontem que agentes da Delegacia de Homicídios já identificaram uma testemunha da morte de Renilson e Jeferson, que contradiz a versão dos PMs. Trata-se de um morador do aglomerado, cuja casa fica bem perto do local dos tiros. Segundo a polícia, a testemunha teria sido levada para um lugar seguro e deverá depor oficialmente hoje.
extraído do "Estado de Minas" (http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/02/21/interna_gerais,211081/aglomerado-da-serra-vive-mais-uma-noite-de-medo-e-violencia.shtml)
Pedro Rocha Franco -
Alfredo Durães
Publicação: 21/02/2011
Moradores enfrentaram militares a pedradas e incendiaram um micro-ônibus (foto) e dois carros na noite de ontem no Aglomerado da Serra, Centro-Sul de BH. Três adultos e uma criança ficaram feridos
Uma criança ficou ferida, três homens, um deles cinegrafista, foram atingidos por balas de borracha e pelo menos três pessoas foram presas durante enfrentamento, domingo à noite, entre militares e moradores na Praça do Cardoso, na Vila Marçola, Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de BH. Por volta 21h30, um micro-ônibus da linha 103 (Pouso Alto/Cafezal) foi incendiado na Praça Bela Vista, na Vila do Cafezal. Dois carros também foram incendiados e um veículo jogado em uma ribanceira.

Um grupo pretendia fazer um protesto no local contra a ação policial na madrugada do sábado, que resultou nas mortes do auxiliar de enfermagem Renilson Veriano da Silva, de 29 anos, e do dançarino e auxiliar de padeiro Jeferson Coelho da Silva, o Jefinho, de 17. Policiais começaram a ser hostilizados por moradores, que jogaram pedras nos carros. Houve reação de um PM, que atirou para o alto, dando início ao confronto.
Vários moradores estavam na praça, inclusive famílias com crianças. A menina L., de 5 anos, estava com seus pais de bicicleta, quando os policiais começaram a lançar bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. O casal já seguia para casa, quando a criança foi atingida por um estilhaço na perna. A revolta dos moradores foi ainda maior e eles expulsaram os PMs do local a pedradas. O pai da criança, o chaveiro Adriano Santos, de 22, disse que o ferimento da filha foi leve, mas ela ficou assustada: “Está chorando muito e me perguntando o tempo todo se vai morrer”.
Em poucos minutos, os militares retornaram com reforço, dando início a outro confronto. Com escudos, os policiais passaram a disparar balas de borracha para dispersar as pessoas que reagiam jogando pedras. Um manifestante foi atingido na boca por uma balas. Parentes de dois presos, identificados como Elias Moisés e Roberto Luiz, disseram que militares os ameaçaram de morte.
Inconformados com a ação policial, o grupo de moradores que resistia aos PMs decidiu sentar-se na praça e clamar por justiça. Os protestos continuaram e um grupo seguiu para a Praça Goiabal e houve novos confrontos. Sandro de Oliveira, de 19, foi baleado na boca. Barricadas foram montadas pelos manifestantes na Avenida Cardoso. O major Luís José Francisco Pires, do 22º Batalhão da PM, informou que foi a comunidade quem começou a jogar pedras nos policiais. “Agimos apenas de forma preventiva”, garantiu o oficial.
ENTERRO Os corpos de Renilson Silva e de Jeferson foram enterrados ontem à tarde no Cemitério da Saudade, na Região Leste da capital, sob gritos de revolta de parentes e amigos por justiça. Os dois foram baleados na madrugada de sábado na Vila Marçola, no Aglomerado da Serra, numa suposta troca de tiros com militares do Batalhão Rotam. Um morador da vila, que teria assistido de casa à ação dos PMs, foi identificado por agentes da Divisão de Crimes contra Vida (DCcV), da Polícia Civil, e apresentou versão diferente do relato dos militares. Além da DCcV, a Corregedoria da Polícia Militar abriu inquérito para apurar os crimes.
Informações oficiais da PM são de que Renilson e Jeferson foram abordados pela equipe da Rotam. Eles estariam entre um grupo de homens armados que vestiam fardas da corporação e que receberam os policiais a tiros. Um dos PMs teria sido atingido por um tiro, mas a bala ficou retida em seu colete. Os militares alegam que foram recebidos a tiros por cerca de 15 a 20 homens, em motos e a pé, que usavam fardas da PM. Os dois mortos estariam com as fardas embrulhadas debaixo do braço, dois revólveres em péssimo estado de conservação e munições.
A versão revoltou os moradores do aglomerado, em função de as vítimas serem conhecidas como trabalhadores, sem passagem pela polícia. Para os moradores, os dois foram executados. Revoltada, no sábado a comunidade incendiou dois ônibus. Ontem, centenas de policiais dos 1º, 16º e 22º batalhões, além de integrantes do Batalhão Rotam, todos armados, ocuparam pontos estratégicos do aglomerado, para evitar novas manifestações.
Morador denuncia abusos de policiais
No enterro de Renilson e Jeferson, ontem, no Cemitério da Saudade, centenas de pessoas prestaram as últimas homenagens às vítimas e aos gritos pediam por justiça. O pai de Jeferson e irmão de Renilson, o cabo da Polícia Militar Denilson Veriano da Silva, que está na corporação há 16 anos, revoltado, disse que vai pedir licença e não sabe qual será seu futuro. Ele garantiu que não está sofrendo pressão por parte do comando da PM. Afirmou que espera por justiça.
Vários moradores do aglomerado procuraram jornalistas para denunciar abusos de autoridade cometidos por militares. Um deles, o produtor cultural Marcelo Emiliano Júnio Veloso, de 27, conhecido como DJ Marcelo Mattos, afirmou que na noite do sábado um ônibus com moradores que seguia para o velório foi parado por PMs. Alguns deles subiram no veículo e disseram que vão retaliar qualquer tipo de denúncia.
O comandante do Batalhão Rotam, tenente-coronel Newton Antônio Lisboa, informou ontem que somente a assessoria de imprensa da PM poderá dar declarações sobre o caso. Esta, por sua vez, afirmou que a corporação só deve se manifestar hoje.
Uma fonte da Polícia Civil garantiu ontem que agentes da Delegacia de Homicídios já identificaram uma testemunha da morte de Renilson e Jeferson, que contradiz a versão dos PMs. Trata-se de um morador do aglomerado, cuja casa fica bem perto do local dos tiros. Segundo a polícia, a testemunha teria sido levada para um lugar seguro e deverá depor oficialmente hoje.
extraído do "Estado de Minas" (http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/02/21/interna_gerais,211081/aglomerado-da-serra-vive-mais-uma-noite-de-medo-e-violencia.shtml)
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Brasil prepara lançamento inédito de foguete em 2012, extraído doCorreio do Brasil
Brasil prepara lançamento inédito de foguete em 2012
17/2/2011 14:44, Redação, com BBC
O Cyclone-4 deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara
O Brasil prepara, para 2012, um feito inédito em seu programa espacial: pela primeira vez, irá colocar no espaço, a partir do seu próprio solo, um foguete com um satélite a bordo.
Trata-se do Cyclone-4, foguete de fabricação ucraniana que deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara (MA), em uma parceria que começou a ser orquestrada em 2003. Pelo acordo, o Brasil entra com a base, e a Ucrânia, com a tecnologia do foguete.
Um lançamento bem-sucedido pode elevar o status dos dois países no cenário espacial global. No entanto, um dos dilemas do programa é quanto ao uso que o Brasil poderá dar ao Cyclone-4. Alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil consideram “altamente questionável” sua viabilidade comercial.
Uma questão-chave é a capacidade limitada de carga do Cyclone-4: para a chamada órbita geoestacionária, em que o satélite fica a 36 mil km de altitude e parado em relação a um ponto na superfície da Terra, o foguete só consegue levar carga de 1,6 mil quilos, o que é considerado insuficiente para muitos satélites de comunicação.
– O programa foi inicialmente proposto como uma empreitada de cunho comercial, e que deveria se sustentar com a venda dos serviços de lançamentos de satélites. Mas sua evolução não corrobora essa hipótese –, disse José Nivaldo Hinckel, coordenador do departamento de mecânica espacial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Fontes ligadas à ACS, empresa binacional criada pela parceria Brasil-Ucrânia, admitem que será necessário encontrar um “nicho de mercado” para o Cyclone-4, já que muitos satélites públicos e privados não cabem no foguete. Mas a empresa diz que já está participando de concorrências internacionais e que negocia qual satélite participará do lançamento inicial do foguete.
Vantagem geográfica
Para Carlos Ganem, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), o programa com a Ucrânia “inaugura um tempo novo” para o Brasil e permitirá que o país usufrua de sua vantagem geográfica.
Como Alcântara fica próxima à Linha do Equador, lançamentos feitos ali permitem o uso eficiente do movimento de rotação da Terra, gastando 30% a menos de combustível no envio de foguetes ao espaço.
Além de serem considerados importantes pelo uso em telecomunicações, os satélites são muito usados para coletar informações sobre clima, navegação, ocupação de solo e monitoramento da região amazônica.
– São essenciais para que o Brasil exerça sua autonomia –, opinou Ganem, dizendo que o país ambiciona ter satélites feitos em parceria com Argentina e África do Sul que possam ser lançados em Alcântara.
Para Hinckel, do Inpe, porém, “é difícil justificar um programa espacial autônomo (como o do Cyclone) sem que o segmento de comunicações geoestacionárias seja contemplado”.
Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, disse achar importante o desenvolvimento proporcionado à base de Alcântara, mas considera improvável que o lançador traga lucros de curto prazo para o Brasil ou que elimine a dependência do país para lançamentos de satélites.
Preparativos
Do lado brasileiro, a ACS diz que está preparando a parte estrutural de Alcântara para o lançamento do Cyclone-4.
Já do lado da Ucrânia, 16 empresas estão contribuindo para a construção do foguete, na cidade de Dnipropetrovsk (centro-leste do país). Segundo os projetistas, essa versão do Cyclone terá alta precisão e um aumento de 30% na capacidade de carregar combustível. O artefato terá vida útil estimada de entre 15 e 20 anos.
Para Ganem, trata-se de “um lançador confiável, da escola soviética”.
Para Catalano, é um foguete não muito grande nem muito caro, e a família Cyclone, existente desde 1969, tem um histórico bem-sucedido (em 226 testes de lançamento, houve apenas seis falhas).
Segundo a ACS, outro ponto importante é que não haverá contato humano com o foguete na base. Isso impediria a repetição do ocorrido em 2003, quando uma explosão no VLS (Veículo Lançador de Satélites) resultou na morte de 21 técnicos em Alcântara.
No entanto, Hinckel cita preocupações com o combustível propelente “altamente tóxico” que será usado no lançamento. A ACS alega que não haverá manuseio do combustível – que virá da China, via navio –, apenas de seu recipiente.
Tecnologia
Em aparente mostra da preocupação com a viabilidade comercial do projeto, telegramas diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks apontaram recentemente que a Ucrânia sugeriu aos Estados Unidos que lançassem seus satélites a partir de Alcântara.
Os documentos indicam que os americanos condicionaram seu interesse pela base à não transferência de tecnologia ucraniana de foguetes ao Brasil.
O embaixador ucraniano em Brasília, Ihor Hrushko, disse à BBC Brasil (em entrevista prévia ao vazamento do WikiLeaks) que formalmente não há acordo para a transferência de tecnologia no Cyclone-4, mas sim expectativa de que a parceria bilateral continue “para que trabalhemos em conjunto em outros processos”.
Ele disse que transferir tecnologia não é algo de um dia para o outro, “é um processo duradouro, de anos”.
Mas ele afirmou que o Brasil é o “sócio mais importante” da Ucrânia no continente – tanto que, em 10 de janeiro, o presidente do país, Viktor Yanukovich, telefonou à presidente Dilma Rousseff para falar sobre a expectativa de criar uma “parceria estratégica” com o Brasil a partir do foguete. Os dois presidentes esperam estar presentes no lançamento do artefato.
A ACS, por sua vez, afirmou que a expectativa de transferência de tecnologia existe, mas ressaltou que não é esse o objetivo do tratado binacional.
Ainda que o intercâmbio tecnológico seja considerado importante para os especialistas consultados pela BBC Brasil, alguns destacam que a não transferência acabou estimulando o desenvolvimento de tecnologias brasileiras.
É o caso do satélite CBERS-3, que será lançado na China em outubro, com o objetivo de monitoramento ambiental e controle da Amazônia: suas câmeras foram produzidas em São Carlos (SP), com tecnologia nacional da empresa Opto.
extraído do "Correio do Brasil" (http://correiodobrasil.com.br/brasil-prepara-lancamento-inedito-de-foguete-em-2012/213003/) em 17/02/11
17/2/2011 14:44, Redação, com BBC
O Cyclone-4 deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara
O Brasil prepara, para 2012, um feito inédito em seu programa espacial: pela primeira vez, irá colocar no espaço, a partir do seu próprio solo, um foguete com um satélite a bordo.
Trata-se do Cyclone-4, foguete de fabricação ucraniana que deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara (MA), em uma parceria que começou a ser orquestrada em 2003. Pelo acordo, o Brasil entra com a base, e a Ucrânia, com a tecnologia do foguete.
Um lançamento bem-sucedido pode elevar o status dos dois países no cenário espacial global. No entanto, um dos dilemas do programa é quanto ao uso que o Brasil poderá dar ao Cyclone-4. Alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil consideram “altamente questionável” sua viabilidade comercial.
Uma questão-chave é a capacidade limitada de carga do Cyclone-4: para a chamada órbita geoestacionária, em que o satélite fica a 36 mil km de altitude e parado em relação a um ponto na superfície da Terra, o foguete só consegue levar carga de 1,6 mil quilos, o que é considerado insuficiente para muitos satélites de comunicação.
– O programa foi inicialmente proposto como uma empreitada de cunho comercial, e que deveria se sustentar com a venda dos serviços de lançamentos de satélites. Mas sua evolução não corrobora essa hipótese –, disse José Nivaldo Hinckel, coordenador do departamento de mecânica espacial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Fontes ligadas à ACS, empresa binacional criada pela parceria Brasil-Ucrânia, admitem que será necessário encontrar um “nicho de mercado” para o Cyclone-4, já que muitos satélites públicos e privados não cabem no foguete. Mas a empresa diz que já está participando de concorrências internacionais e que negocia qual satélite participará do lançamento inicial do foguete.
Vantagem geográfica
Para Carlos Ganem, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), o programa com a Ucrânia “inaugura um tempo novo” para o Brasil e permitirá que o país usufrua de sua vantagem geográfica.
Como Alcântara fica próxima à Linha do Equador, lançamentos feitos ali permitem o uso eficiente do movimento de rotação da Terra, gastando 30% a menos de combustível no envio de foguetes ao espaço.
Além de serem considerados importantes pelo uso em telecomunicações, os satélites são muito usados para coletar informações sobre clima, navegação, ocupação de solo e monitoramento da região amazônica.
– São essenciais para que o Brasil exerça sua autonomia –, opinou Ganem, dizendo que o país ambiciona ter satélites feitos em parceria com Argentina e África do Sul que possam ser lançados em Alcântara.
Para Hinckel, do Inpe, porém, “é difícil justificar um programa espacial autônomo (como o do Cyclone) sem que o segmento de comunicações geoestacionárias seja contemplado”.
Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, disse achar importante o desenvolvimento proporcionado à base de Alcântara, mas considera improvável que o lançador traga lucros de curto prazo para o Brasil ou que elimine a dependência do país para lançamentos de satélites.
Preparativos
Do lado brasileiro, a ACS diz que está preparando a parte estrutural de Alcântara para o lançamento do Cyclone-4.
Já do lado da Ucrânia, 16 empresas estão contribuindo para a construção do foguete, na cidade de Dnipropetrovsk (centro-leste do país). Segundo os projetistas, essa versão do Cyclone terá alta precisão e um aumento de 30% na capacidade de carregar combustível. O artefato terá vida útil estimada de entre 15 e 20 anos.
Para Ganem, trata-se de “um lançador confiável, da escola soviética”.
Para Catalano, é um foguete não muito grande nem muito caro, e a família Cyclone, existente desde 1969, tem um histórico bem-sucedido (em 226 testes de lançamento, houve apenas seis falhas).
Segundo a ACS, outro ponto importante é que não haverá contato humano com o foguete na base. Isso impediria a repetição do ocorrido em 2003, quando uma explosão no VLS (Veículo Lançador de Satélites) resultou na morte de 21 técnicos em Alcântara.
No entanto, Hinckel cita preocupações com o combustível propelente “altamente tóxico” que será usado no lançamento. A ACS alega que não haverá manuseio do combustível – que virá da China, via navio –, apenas de seu recipiente.
Tecnologia
Em aparente mostra da preocupação com a viabilidade comercial do projeto, telegramas diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks apontaram recentemente que a Ucrânia sugeriu aos Estados Unidos que lançassem seus satélites a partir de Alcântara.
Os documentos indicam que os americanos condicionaram seu interesse pela base à não transferência de tecnologia ucraniana de foguetes ao Brasil.
O embaixador ucraniano em Brasília, Ihor Hrushko, disse à BBC Brasil (em entrevista prévia ao vazamento do WikiLeaks) que formalmente não há acordo para a transferência de tecnologia no Cyclone-4, mas sim expectativa de que a parceria bilateral continue “para que trabalhemos em conjunto em outros processos”.
Ele disse que transferir tecnologia não é algo de um dia para o outro, “é um processo duradouro, de anos”.
Mas ele afirmou que o Brasil é o “sócio mais importante” da Ucrânia no continente – tanto que, em 10 de janeiro, o presidente do país, Viktor Yanukovich, telefonou à presidente Dilma Rousseff para falar sobre a expectativa de criar uma “parceria estratégica” com o Brasil a partir do foguete. Os dois presidentes esperam estar presentes no lançamento do artefato.
A ACS, por sua vez, afirmou que a expectativa de transferência de tecnologia existe, mas ressaltou que não é esse o objetivo do tratado binacional.
Ainda que o intercâmbio tecnológico seja considerado importante para os especialistas consultados pela BBC Brasil, alguns destacam que a não transferência acabou estimulando o desenvolvimento de tecnologias brasileiras.
É o caso do satélite CBERS-3, que será lançado na China em outubro, com o objetivo de monitoramento ambiental e controle da Amazônia: suas câmeras foram produzidas em São Carlos (SP), com tecnologia nacional da empresa Opto.
extraído do "Correio do Brasil" (http://correiodobrasil.com.br/brasil-prepara-lancamento-inedito-de-foguete-em-2012/213003/) em 17/02/11
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
QUANDO A QUESTÃO É DA MATÉRIA..., por Mateus Alves da Silva
QUANDO A QUESTÃO É DA MATÉRIA...
À medida que o tempo vai indo, vou confirmando duas suspeitas que tive desde muito cedo: de que sou avesso a regras e de que estas pouco valem para o mundo. Talvez valham aquelas das leis naturais, se é que valem, se é que existem, como as concebemos. O próprio universo é uma manifestação quântica, somente. Há quem lhe dê valor. Há quem tente compreendê-lo. Pois sim. Sou avesso a regras e acho que devemos evitar criá-las e, na medida do possível, até mesmo reconhecê-las. Basta-nos o consenso.
Puxo esse assunto, para falar sobre acidente de trânsito grave e recente, repetente, aliás, em via concorrida de Belo Horizonte, no chamado Anel Rodoviário, com muitas vítimas. E para discutir soluções...
No calor do trauma, o que se esboça é apenas a tomada de medidas de urgência, a começar pela colocação de fartos radares eletrônicos.
Que ficasse claro tratar-se de medida de emergência somente!...Radares não resolvem o problema central do caso. Evitarão mortes?! Quem sabe.
O que se sabe é que o tal Anel é ligação entre Vitória (e parte do Nordeste) e São Paulo, na passagem por Belo Horizonte. Comporta, por isso, um tráfego enorme de veículos pesados e, é bom dizer, pesados mesmo. Há caminhões em trânsito que, sozinhos, são verdadeiros comboios, os tais “tritrens”, além dos “bitrens” e das inúmeras carretas de cargas as mais variadas.
Além disso, qualquer motorista conhece o efeito psicológico de estar-se em rodovia e atravessar cidade. A tendência de manter velocidade elevada, nesse caso, é grande. Tem-se, portanto, veículos pesados atravessando a cidade com velocidades significativas. Os radares, de fato, poderiam tocar nesse aspecto do problema, e o analista afoito dirá logo que, para se salvar uma vida que seja, vale a pena tomar qualquer medida e rápido. Ou pelo menos renderiam muitas multas. Mas há outros fatores cruciais para a solução do caso, sequer mencionados pela mídia.
O principal deles é o fato de tratar-se de uma rodovia que, em determinadas horas (quase todas, aliás,) tem um volume de trânsito além do normal, intenso demais para as suas simplórias condições, incluindo curvas, áreas de aceleração natural em declives e de redução forçada em aclives, entradas de outras vias importantes etc. Há até pedestres e, pasmem, carroças.
O segundo problema, o fato de ser o que já dissemos acima, um misto de via urbana e rodovia de passagem. O que é que tem isso? Tem, de complicado, por exemplo, a mistura de veículos que trafegam ainda como se em rodovia intermunicipal com outros em trânsito urbano (e alguns urbanos até demais como é o caso dessas carroças). Na prática, quero dizer, ainda por exemplo, da mistura que ocorre entre a vovó que, digamos assim, saiu do Barreiro para visitar o neto em Venda Nova e o motorista da scania trucada que saiu de São Paulo e espera chegar no Porto de Vitória, para recarregar “ainda hoje”, e seguir rumo. Não que sejam incompatíveis estes cidadãos. Podem dar até um belo e maduro par, dependendo das condições. Mas Uno Mile de marcha travada e scania de 16 mil kilos solta não combinam.
E tem mais. Para os que amam o tecniquês, não se sabe ao certo os percentuais de mortes que os radares e as regras, direta ou indiretamente, evitarão ou causarão. Evitarão algumas, com certeza. Mas e aquelas que esses incômodos irão causando diariamente, em doses homeopáticas e horas determinadas, de tédio, de ansiedade, de tristeza, ao submeter a moçada que depende de se mover a mais engarrafamentos ainda que os já rotineiros do caótico trânsito da Capital Mineira, os quais serão inevitáveis pela presença de redutores de velocidade em pista cheia e hora de rush.
Estruturado como é o trânsito de Belo Horizonte, sem transporte público bastante ou com um minguado e de qualidade discutível transporte público, estruturadas como estão a cidade e suas relações econômicas, sociais, trabalhistas etc, estruturados como, em suma, estamos, creio, sinceramente, que não precisamos de mais regras ou radares. Precisamos de transporte rápido, seguro e confortável. Deve ser coletivo e pode ser público, mas deve ser rápido.
Para quê? Para não precisarmos continuar passando 3 horas diárias ou mais em deslocamentos “casa/trabalho e só”. “Casa/trabalho/trânsito/túmulo, e só”. Um trajeto Betim/Belo Horizonte, por exemplo, dependendo da hora, come 2 horas do seu dia. Serão, portanto, 4 de ida e volta. É muito. O Sr. Governador e o Sr. Prefeito deveriam pensar nisso um pouquinho. Ou deveriam morar em Betim, ou em Ribeirão das Neves, sem direito a helicóptero.
Nas atuais circunstâncias, o jeito de minorar minimamente isso, que nos sobra, na contramão da ecologia, é o carro. Já que não se cogita de redução de horários de compromissos e, sobretudo, de trabalho, já que não nos dispensam de comparecer em tantos lugares quase ao mesmo tempo às vezes.
A questão do Anel Rodoviário, a nosso ver é simples. Temos muitos carros e teremos mais ainda, pela falta de transporte público coletivo eficiente que, com certeza, permanecerá enquanto houver indústria do petróleo e do automóvel. O jeito é criar espaço. Não adianta criar regra. O jeito é fazer mais estrada, um segundo anel, uma passagem quase exclusiva para esses caminhões que vêm e vão para o porto. E que não precisam atravessar a cidade. Muito menos cruzar com ou matar nossa querida Vovó que estava só trazendo o bolo.
Será que vão desembolsar algum e fazer essa estrada de desafogamento necessária e urgente? Ou vão preferir gastar nossa paciência com mais uma regrinha, ou furar nosso bolso com mais um radar?!...E continuar discutindo, episodicamente, não raras vezes no frescor do sangue derramado, daqueles incompatíveis na prática daquela via noticienta, se a culpa é municipal, estadual ou federal. Quem viver (longe do Anel Rodoviário de BH) saberá.
- para o "Coletivo Brasil 3000", em 12/02/11
À medida que o tempo vai indo, vou confirmando duas suspeitas que tive desde muito cedo: de que sou avesso a regras e de que estas pouco valem para o mundo. Talvez valham aquelas das leis naturais, se é que valem, se é que existem, como as concebemos. O próprio universo é uma manifestação quântica, somente. Há quem lhe dê valor. Há quem tente compreendê-lo. Pois sim. Sou avesso a regras e acho que devemos evitar criá-las e, na medida do possível, até mesmo reconhecê-las. Basta-nos o consenso.
Puxo esse assunto, para falar sobre acidente de trânsito grave e recente, repetente, aliás, em via concorrida de Belo Horizonte, no chamado Anel Rodoviário, com muitas vítimas. E para discutir soluções...
No calor do trauma, o que se esboça é apenas a tomada de medidas de urgência, a começar pela colocação de fartos radares eletrônicos.
Que ficasse claro tratar-se de medida de emergência somente!...Radares não resolvem o problema central do caso. Evitarão mortes?! Quem sabe.
O que se sabe é que o tal Anel é ligação entre Vitória (e parte do Nordeste) e São Paulo, na passagem por Belo Horizonte. Comporta, por isso, um tráfego enorme de veículos pesados e, é bom dizer, pesados mesmo. Há caminhões em trânsito que, sozinhos, são verdadeiros comboios, os tais “tritrens”, além dos “bitrens” e das inúmeras carretas de cargas as mais variadas.
Além disso, qualquer motorista conhece o efeito psicológico de estar-se em rodovia e atravessar cidade. A tendência de manter velocidade elevada, nesse caso, é grande. Tem-se, portanto, veículos pesados atravessando a cidade com velocidades significativas. Os radares, de fato, poderiam tocar nesse aspecto do problema, e o analista afoito dirá logo que, para se salvar uma vida que seja, vale a pena tomar qualquer medida e rápido. Ou pelo menos renderiam muitas multas. Mas há outros fatores cruciais para a solução do caso, sequer mencionados pela mídia.
O principal deles é o fato de tratar-se de uma rodovia que, em determinadas horas (quase todas, aliás,) tem um volume de trânsito além do normal, intenso demais para as suas simplórias condições, incluindo curvas, áreas de aceleração natural em declives e de redução forçada em aclives, entradas de outras vias importantes etc. Há até pedestres e, pasmem, carroças.
O segundo problema, o fato de ser o que já dissemos acima, um misto de via urbana e rodovia de passagem. O que é que tem isso? Tem, de complicado, por exemplo, a mistura de veículos que trafegam ainda como se em rodovia intermunicipal com outros em trânsito urbano (e alguns urbanos até demais como é o caso dessas carroças). Na prática, quero dizer, ainda por exemplo, da mistura que ocorre entre a vovó que, digamos assim, saiu do Barreiro para visitar o neto em Venda Nova e o motorista da scania trucada que saiu de São Paulo e espera chegar no Porto de Vitória, para recarregar “ainda hoje”, e seguir rumo. Não que sejam incompatíveis estes cidadãos. Podem dar até um belo e maduro par, dependendo das condições. Mas Uno Mile de marcha travada e scania de 16 mil kilos solta não combinam.
E tem mais. Para os que amam o tecniquês, não se sabe ao certo os percentuais de mortes que os radares e as regras, direta ou indiretamente, evitarão ou causarão. Evitarão algumas, com certeza. Mas e aquelas que esses incômodos irão causando diariamente, em doses homeopáticas e horas determinadas, de tédio, de ansiedade, de tristeza, ao submeter a moçada que depende de se mover a mais engarrafamentos ainda que os já rotineiros do caótico trânsito da Capital Mineira, os quais serão inevitáveis pela presença de redutores de velocidade em pista cheia e hora de rush.
Estruturado como é o trânsito de Belo Horizonte, sem transporte público bastante ou com um minguado e de qualidade discutível transporte público, estruturadas como estão a cidade e suas relações econômicas, sociais, trabalhistas etc, estruturados como, em suma, estamos, creio, sinceramente, que não precisamos de mais regras ou radares. Precisamos de transporte rápido, seguro e confortável. Deve ser coletivo e pode ser público, mas deve ser rápido.
Para quê? Para não precisarmos continuar passando 3 horas diárias ou mais em deslocamentos “casa/trabalho e só”. “Casa/trabalho/trânsito/túmulo, e só”. Um trajeto Betim/Belo Horizonte, por exemplo, dependendo da hora, come 2 horas do seu dia. Serão, portanto, 4 de ida e volta. É muito. O Sr. Governador e o Sr. Prefeito deveriam pensar nisso um pouquinho. Ou deveriam morar em Betim, ou em Ribeirão das Neves, sem direito a helicóptero.
Nas atuais circunstâncias, o jeito de minorar minimamente isso, que nos sobra, na contramão da ecologia, é o carro. Já que não se cogita de redução de horários de compromissos e, sobretudo, de trabalho, já que não nos dispensam de comparecer em tantos lugares quase ao mesmo tempo às vezes.
A questão do Anel Rodoviário, a nosso ver é simples. Temos muitos carros e teremos mais ainda, pela falta de transporte público coletivo eficiente que, com certeza, permanecerá enquanto houver indústria do petróleo e do automóvel. O jeito é criar espaço. Não adianta criar regra. O jeito é fazer mais estrada, um segundo anel, uma passagem quase exclusiva para esses caminhões que vêm e vão para o porto. E que não precisam atravessar a cidade. Muito menos cruzar com ou matar nossa querida Vovó que estava só trazendo o bolo.
Será que vão desembolsar algum e fazer essa estrada de desafogamento necessária e urgente? Ou vão preferir gastar nossa paciência com mais uma regrinha, ou furar nosso bolso com mais um radar?!...E continuar discutindo, episodicamente, não raras vezes no frescor do sangue derramado, daqueles incompatíveis na prática daquela via noticienta, se a culpa é municipal, estadual ou federal. Quem viver (longe do Anel Rodoviário de BH) saberá.
- para o "Coletivo Brasil 3000", em 12/02/11
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Caiu o ditador. Ué, Mubarak era ditador? A mídia não dizia isso até outro dia, por Pedro Porfírio
Barricada dos egípcios desmascara a hipocrisia semântica que manipula nossos corações e mentes.

Eles se amavam tanto e Obama e tinha como PRESIDENTE amigo
(Isso antes da massa tomar a praça e revelar que o amigo era ditador)
“A corrupção ao estilo americano pode resultar em "prendas" de trilhões de dólares para companhias farmacêuticas, a compra de eleições com maciças contribuições de campanha e redução de impostos para milionários, enquanto a assistência médica aos mais pobres é cortada".
Joseph Eugene Stiglitz, economista norte-americano, analisando “o catalisador tunisiano”.
Antes de especular sobre o amanhã egípcio, gostaria de lhe fazer uma pergunta: desde quando você sabia que Muhammad Hosni Said Mubarak era um ditador? Isto mesmo, concito-o a revirar os jornais de dois meses atrás (ou um mês, talvez): como o governante de 30 anos no poder era chamado pela mídia que lhe embasbaca diariamente em doses cavalares?
Até agora, aqui e além-mar, nas ocidentais usinas de desinformação, Mubarak era tratado como presidente eleito e reeleito, um líder legítimo, incontestável, lúcido e tudo o mais que o jargão colonial exala. Ditador, não.
Ditador, para essa indústria de mentiras e hipocrisias, é quem contraria os interesses dos trustes, quem cai no desagrado dos Estados Unidos da América.
Hugo Rafael Chávez Frias foi eleito e reeleito nos moldes formatados pelos engenheiros da democracia representativa. No pleito de 2006, ninguém me contou: eu estava lá e vi com os próprios olhos que a terra há de comer adversários poderosos, mídia majoritariamente contrária, urnas muito mais confiáveis do que as nossas, com impressão do voto, controle biométrico dos eleitores, enfim, tecnologia de última geração para garantir a vontade dos cidadãos venezuelanos.
No entanto, essa imprensa que até ontem chamavam Mubarak de senhor presidente, usa e abusa da má fé, referindo-se a Hugo Chávez como um ditador, dizendo a você, um descuidado inocente útil, que há uma ditadura na Venezuela, embora a grande mídia reacionária deite e role.
Não me venha de lorotas que eu o desminto na lata. Se quer tirar os noves foras, vá na internet e acesse os sites dos jornais El Nacional e El Universal, os dois maiores jornalões da Venezuela.
Eu fui "agente do Al-Fatah" e não sabia
Pode ser que você esteja mais ansioso num palpite sobre o novo Egito. Como não sou leviano, nem metido a pitonisa, prefiro pegar a deixa para fazer minha própria manifestação sobre a hipocrisia semântica que faz diariamente a lavagem cerebral dos cidadãos de boa fé, como você.
E não preciso ir muito longe, não: nossa grande mídia fala hoje que houve uma ditadura militar no Brasil. E esconde que colaborava apaixonadamente com ela: sem seu nada a opor, ou o seu tudo a ver, provavelmente a ditadura teria durado menos e feito menor número de vítimas.
Mas, não: em 27 de junho de 1969, quando era o CHEFE DE REDAÇÃO da censuradíssima TRIBUNA DA IMPRENSA, fui seqüestrado de madrugada e levado para lugar ignorado. Todo mundo sabia que estavam me metendo o cacete, mas nem a notícia da minha “prisão”. No dia 16 de julho, o Cenimar (Servilço secreto da Marinha) exibiu 38 prisioneiros - eu, inclusive - apresentando-nos como os terroristas que queriam derrubar a ditadura de 180 mil soldados das três armas.
Samuel Wainer, que já estava de volta mediante negociações com os generais, pôs a minha foto na primeira página da ÚLTIMA HORA, o jornal onde dei os primeiros passos profissionais, com a legenda: “AGENTE DO AL-FATAH”. Isso mesmo, para agradar os senhores do poder, o ex-exilado não fez por menos. Arranjou-me um epíteto de agente internacional de organização revolucionária, por minhas simpatias à causa palestina. Pior: entre os subordinados do patrão oportunista havia ex-colegas meus, que, bem, cala-te boca....
Aqui, tivemos ditadura, mas não se fala em ditador
Aliás, há algo muito despropositado na nossa mídia. Ela agora se refere à ditadura militar, via de regra a criminaliza, mas de forma original: não vi em nenhum órgão da imprensa escrita, falada ou televisada alguém se referir aos generais d’antão como ditadores. Concito-o a achar nessa mídia uma referência ao ditador Castelo Branco ou ao ditador Figueiredo, ou aos outros. Registra-se que tivemos ditadura, mas não se nomina nenhum general como ditador.
Afinal, quem é e quem não é ditador?
Insisto: quem é e quem não é ditador no mundo? Onde realmente se pode falar em democracia, no sentido original do termo, umbilicalmente ligado à idéia de liberdade, patrimônio existencial da humanidade?
Liberdade é o quê, caro parceiro? É essa pirâmide social desumana em que 10% dos brasileiros detêm 75,4% de toda a riqueza? Pobre goza doexercício da liberdade? Como? Pendurando-se nas migalhas dos programas sociais compensatórios? Se tem liberdade, o pobre é burro? Sim, porque 80% dos parlamentares eleitos não têm nada de pobre. Fazem parte, paradoxalmente, do topo da pirâmide, daqueles 10% que estão por cima da carne seca.
Segundo Márcio Pochmann, presidente do IPEA, órgão do governo federal, o Brasil, a despeito das mudanças políticas, continua sem alterações nas desigualdades estruturais. O rico continua pagando pouco imposto.
Democracia das elites é uma mentira
Trocando em miúdos, quem paga a conta nesta democracia onde reina a minoria é a maioria que vive com a corda nos pescoço. Dizer que um país socialmente piramidal vive numa democracia é uma grosseira fraude semântica.
Ou então a democracia é um regime de aparências, fundado na desigualdade e na lei do (bolso) mais forte.
Mas não é só nestas praias que a ressaca da realidade desautoriza o palavreado hipócrita. Joseph Eugene Stiglitz, badalado economista dos EUA (foi chefe da equipe econômica de Clinton), escreveu esta semana sobre o “catalisador tunisiano”:
“Apesar das virtudes da democracia - e a Tunísia mostrou que ela é muito melhor que a alternativa - não devemos esquecer das falhas daqueles que reivindicam seu manto, e que há muito mais na democracia do que eleições periódicas, mesmo quando conduzidas limpamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a democracia foi acompanhada por uma desigualdade crescente, a tal ponto que os que estão entre os 1% mais ricos abocanham cerca de 25% da renda nacional”.
Bem, perguntar-me-ão os parceiros, e o Egito, como é que fica? Já que se descobriu agora que estava mergulhado numa ditadura há 30 anos, o que virá com a renúncia de Mubarak, finalmente apontado no dicionário midiático como ditador?
O que quer afinal a multidão egípcia que ganhou a praça, inspirada talvez por Castro Alves? Que lição o mundo tirará desse levante dos cidadãos desarmados que em 18 dias derrubaram no grito um governante armado e cheirado pelos EUA há exatos 10 mil 950 dias?
Qual será o próximo “presidente” a sucumbir à jihad que devasta os tentáculos da corrupção, da cumplicidade e da hipocrisia?
É certo que essa unanimidade festiva sobre a queda de hoje é da boca pra fora. Todo mundo está na maior saia justa, porque, como os 10 milhões de tunisianos se livraram do “presidente” Bem Alli, o véu de mistério cobre as mil e uma noites dos 80 milhões de egípcios e pode transmitir outras novidades mágicas ao mundo, além dessa barricada que desmascarou a hipocrisia semântica e pôs alguns pingos nos is.
É esse amanhã que vai sinalizar uma nova referência para o mundo.
-extraído do blog "Porfírio Livre" (http://www.porfiriolivre.info/2011/02/caiu-o-ditador-ue-mubarak-era-ditador.html)em 12/02/11

Eles se amavam tanto e Obama e tinha como PRESIDENTE amigo
(Isso antes da massa tomar a praça e revelar que o amigo era ditador)
“A corrupção ao estilo americano pode resultar em "prendas" de trilhões de dólares para companhias farmacêuticas, a compra de eleições com maciças contribuições de campanha e redução de impostos para milionários, enquanto a assistência médica aos mais pobres é cortada".
Joseph Eugene Stiglitz, economista norte-americano, analisando “o catalisador tunisiano”.
Antes de especular sobre o amanhã egípcio, gostaria de lhe fazer uma pergunta: desde quando você sabia que Muhammad Hosni Said Mubarak era um ditador? Isto mesmo, concito-o a revirar os jornais de dois meses atrás (ou um mês, talvez): como o governante de 30 anos no poder era chamado pela mídia que lhe embasbaca diariamente em doses cavalares?
Até agora, aqui e além-mar, nas ocidentais usinas de desinformação, Mubarak era tratado como presidente eleito e reeleito, um líder legítimo, incontestável, lúcido e tudo o mais que o jargão colonial exala. Ditador, não.
Ditador, para essa indústria de mentiras e hipocrisias, é quem contraria os interesses dos trustes, quem cai no desagrado dos Estados Unidos da América.
Hugo Rafael Chávez Frias foi eleito e reeleito nos moldes formatados pelos engenheiros da democracia representativa. No pleito de 2006, ninguém me contou: eu estava lá e vi com os próprios olhos que a terra há de comer adversários poderosos, mídia majoritariamente contrária, urnas muito mais confiáveis do que as nossas, com impressão do voto, controle biométrico dos eleitores, enfim, tecnologia de última geração para garantir a vontade dos cidadãos venezuelanos.
No entanto, essa imprensa que até ontem chamavam Mubarak de senhor presidente, usa e abusa da má fé, referindo-se a Hugo Chávez como um ditador, dizendo a você, um descuidado inocente útil, que há uma ditadura na Venezuela, embora a grande mídia reacionária deite e role.
Não me venha de lorotas que eu o desminto na lata. Se quer tirar os noves foras, vá na internet e acesse os sites dos jornais El Nacional e El Universal, os dois maiores jornalões da Venezuela.
Eu fui "agente do Al-Fatah" e não sabia
Pode ser que você esteja mais ansioso num palpite sobre o novo Egito. Como não sou leviano, nem metido a pitonisa, prefiro pegar a deixa para fazer minha própria manifestação sobre a hipocrisia semântica que faz diariamente a lavagem cerebral dos cidadãos de boa fé, como você.
E não preciso ir muito longe, não: nossa grande mídia fala hoje que houve uma ditadura militar no Brasil. E esconde que colaborava apaixonadamente com ela: sem seu nada a opor, ou o seu tudo a ver, provavelmente a ditadura teria durado menos e feito menor número de vítimas.
Mas, não: em 27 de junho de 1969, quando era o CHEFE DE REDAÇÃO da censuradíssima TRIBUNA DA IMPRENSA, fui seqüestrado de madrugada e levado para lugar ignorado. Todo mundo sabia que estavam me metendo o cacete, mas nem a notícia da minha “prisão”. No dia 16 de julho, o Cenimar (Servilço secreto da Marinha) exibiu 38 prisioneiros - eu, inclusive - apresentando-nos como os terroristas que queriam derrubar a ditadura de 180 mil soldados das três armas.
Samuel Wainer, que já estava de volta mediante negociações com os generais, pôs a minha foto na primeira página da ÚLTIMA HORA, o jornal onde dei os primeiros passos profissionais, com a legenda: “AGENTE DO AL-FATAH”. Isso mesmo, para agradar os senhores do poder, o ex-exilado não fez por menos. Arranjou-me um epíteto de agente internacional de organização revolucionária, por minhas simpatias à causa palestina. Pior: entre os subordinados do patrão oportunista havia ex-colegas meus, que, bem, cala-te boca....
Aqui, tivemos ditadura, mas não se fala em ditador
Aliás, há algo muito despropositado na nossa mídia. Ela agora se refere à ditadura militar, via de regra a criminaliza, mas de forma original: não vi em nenhum órgão da imprensa escrita, falada ou televisada alguém se referir aos generais d’antão como ditadores. Concito-o a achar nessa mídia uma referência ao ditador Castelo Branco ou ao ditador Figueiredo, ou aos outros. Registra-se que tivemos ditadura, mas não se nomina nenhum general como ditador.
Afinal, quem é e quem não é ditador?
Insisto: quem é e quem não é ditador no mundo? Onde realmente se pode falar em democracia, no sentido original do termo, umbilicalmente ligado à idéia de liberdade, patrimônio existencial da humanidade?
Liberdade é o quê, caro parceiro? É essa pirâmide social desumana em que 10% dos brasileiros detêm 75,4% de toda a riqueza? Pobre goza doexercício da liberdade? Como? Pendurando-se nas migalhas dos programas sociais compensatórios? Se tem liberdade, o pobre é burro? Sim, porque 80% dos parlamentares eleitos não têm nada de pobre. Fazem parte, paradoxalmente, do topo da pirâmide, daqueles 10% que estão por cima da carne seca.
Segundo Márcio Pochmann, presidente do IPEA, órgão do governo federal, o Brasil, a despeito das mudanças políticas, continua sem alterações nas desigualdades estruturais. O rico continua pagando pouco imposto.
Democracia das elites é uma mentira
Trocando em miúdos, quem paga a conta nesta democracia onde reina a minoria é a maioria que vive com a corda nos pescoço. Dizer que um país socialmente piramidal vive numa democracia é uma grosseira fraude semântica.
Ou então a democracia é um regime de aparências, fundado na desigualdade e na lei do (bolso) mais forte.
Mas não é só nestas praias que a ressaca da realidade desautoriza o palavreado hipócrita. Joseph Eugene Stiglitz, badalado economista dos EUA (foi chefe da equipe econômica de Clinton), escreveu esta semana sobre o “catalisador tunisiano”:
“Apesar das virtudes da democracia - e a Tunísia mostrou que ela é muito melhor que a alternativa - não devemos esquecer das falhas daqueles que reivindicam seu manto, e que há muito mais na democracia do que eleições periódicas, mesmo quando conduzidas limpamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a democracia foi acompanhada por uma desigualdade crescente, a tal ponto que os que estão entre os 1% mais ricos abocanham cerca de 25% da renda nacional”.
Bem, perguntar-me-ão os parceiros, e o Egito, como é que fica? Já que se descobriu agora que estava mergulhado numa ditadura há 30 anos, o que virá com a renúncia de Mubarak, finalmente apontado no dicionário midiático como ditador?
O que quer afinal a multidão egípcia que ganhou a praça, inspirada talvez por Castro Alves? Que lição o mundo tirará desse levante dos cidadãos desarmados que em 18 dias derrubaram no grito um governante armado e cheirado pelos EUA há exatos 10 mil 950 dias?
Qual será o próximo “presidente” a sucumbir à jihad que devasta os tentáculos da corrupção, da cumplicidade e da hipocrisia?
É certo que essa unanimidade festiva sobre a queda de hoje é da boca pra fora. Todo mundo está na maior saia justa, porque, como os 10 milhões de tunisianos se livraram do “presidente” Bem Alli, o véu de mistério cobre as mil e uma noites dos 80 milhões de egípcios e pode transmitir outras novidades mágicas ao mundo, além dessa barricada que desmascarou a hipocrisia semântica e pôs alguns pingos nos is.
É esse amanhã que vai sinalizar uma nova referência para o mundo.
-extraído do blog "Porfírio Livre" (http://www.porfiriolivre.info/2011/02/caiu-o-ditador-ue-mubarak-era-ditador.html)em 12/02/11
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Restrição à propriedade cruzada é medida urgente, por Laurindo Lalo Leal Filho
Publicado em 09-Fev-2011

É uma falácia afirmar que a convergência de mídias tornou obsoleta a discussão sobre propriedade cruzada. Formas de produção e circulação de dados e noticiários em diferentes plataformas não têm nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A mídia derrotada nas eleições presidenciais prossegue em campanha para pautar o novo governo segundo seus interesses. A última é do Estadão de quinta-feira (27), informando em manchete de primeira página que o governo desistiu de incluir a propriedade cruzada no projeto de regulação da mídia.
O blogueiro Eduardo Guimarães perguntou logo cedo ao ministro Paulo Bernardo, via twitter, se isso era verdade. Resposta: “Bom dia, meu caro! Basta ler a matéria para concluir que não decidimos nada. Quando houver decisão enviaremos ao Congresso”.
É verdade, não há nenhum dado concreto que confirme a manchete da capa: “Convergência de mídias leva governo a desistir de veto à propriedade cruzada”.
O texto, além disso estabelece uma confusão entre meios impressos e eletrônicos. Chega a dizer que “propriedade cruzada é o domínio, pelo mesmo grupo de comunicação, de concessões para operar diferentes plataformas (TV, jornal e portais)”.
Mistura na mesma frase meios que legalmente são concedidos pelo Estado em nome da sociedade (TV, e também o rádio) com aqueles que operam em circuitos privados, sem interferência direta do poder público, como jornais, revistas e portais na internet.
No Brasil uma nova lei de meios tem que dar conta, entre outras coisas, de dois tipos de regulação. Uma específica para o rádio e a TV cujos concessionários ocupam o espectro eletromagnético, escasso e finito. Outra dando conta da mídia em geral.
No primeiro caso, trata-se de um bem público (o espectro eletromagnético) utilizado por particulares que, por isso, devem se submeter a regras precisas de controle social.
Nada ilegal ou arbitrário. Ao se candidatarem a uma concessão os interessados deveriam deixar claro que tipo de serviço será prestado à sociedade e de que forma.
Assinariam um compromisso com o Estado, conhecido em alguns países como “caderno de encargos”, onde estariam detalhados seus direitos e deveres. Ao final, o contrato deveria ser avaliado pelo órgão regulador (hoje inexistente) podendo vir a ser renovado ou não.
A lei atual, benevolente, estabelece um período de dez anos para as concessões de rádio e de quinze para a televisão. E as renovações são praticamente automáticas passando por trâmites burocráticos, ainda que submetidas ao Congresso nacional.
O segundo caso, referente aos jornais e revistas não tem nada a ver com isso. São empreendimentos particulares que trafegam por canais privados. Não se submetem a concessões como sugere o Estadão.
Mas nem por isso podem deixar de se submeter à leis específicas, como a de imprensa que garantia o direito de resposta e foi suprimida.
E também aos limites da propriedade cruzada. O Estadão afirma que “o desenvolvimento tecnológico tornou a discussão (sobre propriedade cruzada) obsoleta” e que “o conceito de convergência de mídias, que consolidou o tráfego simultâneo de dados e noticiários em todas as plataformas - da impressa à digital -, pôs na mesa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um projeto de concessão única”.
Nada mais falacioso. Primeiro porque formas de produção e circulação de dados e noticiários em diferentes plataformas não tem nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A lei atual, ainda que burlada, determina um máximo de cinco concessões de TV para o mesmo grupo, em cidades diferentes, sendo cinco em VHF e cinco em UHF. Mas não impede que esses concessionários sejam proprietários de jornais ou revistas, por exemplo.
Pela lei implacável do mercado, a tendência é que alguns grupos se tornem gradativamente hegemônicos em suas regiões e mesmo no país.
Com isso passam a monopolizar todas as formas de comunicação existentes, impedindo o confronto de idéias e restringindo a diversidade cultural.
Os limites à propriedade cruzada, portanto, devem ter como referência o tamanho do público atingido pelas empresas de comunicações, sejam ouvintes, leitores, telespectadores e até mesmo internautas. Junto com restrições mais rigorosas à propriedade de diferentes meios nas mesmas áreas geográficas.
É o que ocorre em países democráticos como forma de evitar que o pensamento único se consolide. Trata-se de garantir a liberdade através da multiplicação de vozes e não de restringi-la como alardeiam os interessados em manter tudo como está. Apelando algumas vezes, como se viu, para a confusão.
(Artigo publicado originalmente no portal Carta Maior)
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).
@lalolealfilho
extraído do blog do Zé Dirceu (http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=28&Itemid=87)

É uma falácia afirmar que a convergência de mídias tornou obsoleta a discussão sobre propriedade cruzada. Formas de produção e circulação de dados e noticiários em diferentes plataformas não têm nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A mídia derrotada nas eleições presidenciais prossegue em campanha para pautar o novo governo segundo seus interesses. A última é do Estadão de quinta-feira (27), informando em manchete de primeira página que o governo desistiu de incluir a propriedade cruzada no projeto de regulação da mídia.
O blogueiro Eduardo Guimarães perguntou logo cedo ao ministro Paulo Bernardo, via twitter, se isso era verdade. Resposta: “Bom dia, meu caro! Basta ler a matéria para concluir que não decidimos nada. Quando houver decisão enviaremos ao Congresso”.
É verdade, não há nenhum dado concreto que confirme a manchete da capa: “Convergência de mídias leva governo a desistir de veto à propriedade cruzada”.
O texto, além disso estabelece uma confusão entre meios impressos e eletrônicos. Chega a dizer que “propriedade cruzada é o domínio, pelo mesmo grupo de comunicação, de concessões para operar diferentes plataformas (TV, jornal e portais)”.
Mistura na mesma frase meios que legalmente são concedidos pelo Estado em nome da sociedade (TV, e também o rádio) com aqueles que operam em circuitos privados, sem interferência direta do poder público, como jornais, revistas e portais na internet.
No Brasil uma nova lei de meios tem que dar conta, entre outras coisas, de dois tipos de regulação. Uma específica para o rádio e a TV cujos concessionários ocupam o espectro eletromagnético, escasso e finito. Outra dando conta da mídia em geral.
No primeiro caso, trata-se de um bem público (o espectro eletromagnético) utilizado por particulares que, por isso, devem se submeter a regras precisas de controle social.
Nada ilegal ou arbitrário. Ao se candidatarem a uma concessão os interessados deveriam deixar claro que tipo de serviço será prestado à sociedade e de que forma.
Assinariam um compromisso com o Estado, conhecido em alguns países como “caderno de encargos”, onde estariam detalhados seus direitos e deveres. Ao final, o contrato deveria ser avaliado pelo órgão regulador (hoje inexistente) podendo vir a ser renovado ou não.
A lei atual, benevolente, estabelece um período de dez anos para as concessões de rádio e de quinze para a televisão. E as renovações são praticamente automáticas passando por trâmites burocráticos, ainda que submetidas ao Congresso nacional.
O segundo caso, referente aos jornais e revistas não tem nada a ver com isso. São empreendimentos particulares que trafegam por canais privados. Não se submetem a concessões como sugere o Estadão.
Mas nem por isso podem deixar de se submeter à leis específicas, como a de imprensa que garantia o direito de resposta e foi suprimida.
E também aos limites da propriedade cruzada. O Estadão afirma que “o desenvolvimento tecnológico tornou a discussão (sobre propriedade cruzada) obsoleta” e que “o conceito de convergência de mídias, que consolidou o tráfego simultâneo de dados e noticiários em todas as plataformas - da impressa à digital -, pôs na mesa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um projeto de concessão única”.
Nada mais falacioso. Primeiro porque formas de produção e circulação de dados e noticiários em diferentes plataformas não tem nada a ver com a propriedade cruzada. Esta diz respeito a organização societária dos conglomerados e, o mais importante, a sua abrangência sobre a sociedade.
A lei atual, ainda que burlada, determina um máximo de cinco concessões de TV para o mesmo grupo, em cidades diferentes, sendo cinco em VHF e cinco em UHF. Mas não impede que esses concessionários sejam proprietários de jornais ou revistas, por exemplo.
Pela lei implacável do mercado, a tendência é que alguns grupos se tornem gradativamente hegemônicos em suas regiões e mesmo no país.
Com isso passam a monopolizar todas as formas de comunicação existentes, impedindo o confronto de idéias e restringindo a diversidade cultural.
Os limites à propriedade cruzada, portanto, devem ter como referência o tamanho do público atingido pelas empresas de comunicações, sejam ouvintes, leitores, telespectadores e até mesmo internautas. Junto com restrições mais rigorosas à propriedade de diferentes meios nas mesmas áreas geográficas.
É o que ocorre em países democráticos como forma de evitar que o pensamento único se consolide. Trata-se de garantir a liberdade através da multiplicação de vozes e não de restringi-la como alardeiam os interessados em manter tudo como está. Apelando algumas vezes, como se viu, para a confusão.
(Artigo publicado originalmente no portal Carta Maior)
Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).
@lalolealfilho
extraído do blog do Zé Dirceu (http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=28&Itemid=87)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Entrevista com Luis Nassif, feita por José Dirceu.
Publicado em 17-Dez-2010
Oposição levará anos para se refazer no país
A conclusão é do jornalista de economia e blogueiro progressista Luis Nassif

Oposição levará anos para se refazer no país
A conclusão é do jornalista especializado em economia Luis Nassif, em sua análise sobre a disputa presidencial deste ano e, sobretudo, da campanha suja explorada pela oposição e seu candidato derrotado José Serra (PSDB-DEM-PPS) em 2010.
Em uma avaliação suscinta, nesta entrevista, Nassif aponta o que deve ser mudado no panorama econômico do país, em especial nas áreas de câmbio e juros. Traça, também, um perfil da mídia brasileira no decorrer dos últimos anos e do papel lamentável a que se prestam alguns jornalistas.
Para Nassif, a imprensa hoje é linha auxiliar de partidos políticos, uma realidade que pode e deve ser combatida com concorrência e, sobretudo, um marco regulatório para que direitos elementares, como o de resposta, sejam garantidos à sociedade.
Um dos blogueiros mais respeitados do país (acesse o blog do Nassif), ganhador de vários prêmios, como o de "Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita" dado pelo site Comunique-se em 2003 e 2005, Nassif também fala da força da Internet hoje em termos da liberdade de imprensa e de garantia de maior democracia.
[ Dirceu ] Nassif, gostaria que você fizesse um balanço da campanha eleitoral deste ano, em especial, do papel assumido pela oposição ao governo Lula e pelo candidato derrotado nas urnas, José Serra.
[ Nassif ] Do ponto de vista estratégico, a partir do momento em que ficou claro o projeto político e econômico do governo Lula, de somar todas as forças, solucionar os conflitos entre as classes e priorizar o desenvolvimentismo, a oposição ficou absolutamente sem discurso. E a crise de 2008 foi fundamental para isso.
Eles entraram na campanha com certa unidade em torno de questões como o aparelhamento e a redução do Estado. Um discurso do ideário neoliberal, vazio, mas tido como aglutinador das “bandeiras” da oposição. Este poderia ter sido o contraponto ao projeto do governo. Mas, a partir do momento em que José Serra assumiu a candidatura oposicionista, não se tem mais oposição, apenas impulsos. Serra tornou-se uma biruta de aeroporto. A impressão que dá é que ele hibernou no começo dos anos 90 e somente agora acordou. Ele não tem nenhuma proposta inovadora e nenhum tema. A única questão apresentada - e que não é dele, é coletiva – foi a da política do câmbio. Mas nem esta o Serra soube desenvolver.
Assassinato de reputações
Sem discurso e incapaz de se posicionar no Centro-Direita - que lhe seria o mais adequado – o tucano partiu para a única coisa eficiente feita por eles nesta disputa: a campanha pela internet. Apesar de, com ela, ter estigmatizado toda a oposição. Um grupo de franco atiradores começou a ser montado há quatro anos para isso. Na realidade, um partido de milicianos de Santa Catarina, que já tinha uma estrutura a oferecer, foi o responsável por uma das páginas mais sujas da história política brasileira, de ataques difamatórios e tentativas explícitas de assassinato de reputações.
Não é à toa que quando terminou a eleição, a grande preocupação não foi com a oposição, mas como reconstruí-la. Oposição é fundamental em qualquer governo, desde que seja legítima. O mal que o Serra fez à oposição brasileira é imensurável. Ela levará anos para se refazer.
Reforma para dar eficiência ao Estado
[ Dirceu ] A vitória da presidente eleita Dilma Rousseff ocorreu com o compromisso de que ela dará continuidade ao modelo de desenvolvimento implantado pelo governo Lula. Na sua visão, o que deve continuar e o que deve mudar já?
[ Nassif ] Nos últimos anos, tivemos mudanças importantes na ação federativa. Havia alguns insights no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de como montar políticas ouvindo todas as partes. Com o PAC, o programa "Minha Casa, Minha Vida" e o trabalho no saneamento etc, conseguiu-se montar um modelo federativo com projetos que se aplicam independentes de questões partidárias.
Agora, precisamos de uma reforma para dar eficiência administrativa ao Estado. Se pegarmos a estrutura pública, ao longo dos últimos oito anos, vemos que houve uma reconstrução de estruturas técnicas. Por ser tudo gambiarra, elas se concentravam na Casa Civil, até para ter efetividade nas ações. Precisamos, portanto, de uma reforma moderna do Estado, à semelhança do que [Nelson] Rockefeller fez nos Estados Unidos nos anos 50. Este é o primeiro ponto.
O segundo ponto, sem dúvidas, é o Banco Central. Mudar essa ideia de termos quatro anos para reduzir a relação dívida/PIB. Até porque a equipe [econômica] para reduzir os juros vai ser atropelada pelos fatos. A minha esperança é que o discurso de que tudo será gradativo seja simplesmente tático, porque você não pode anunciar previamente o que será feito, já que a área é nervosa. Mas, reduzir mais rapidamente essa relação dívida/PIB é fundamental. A herança maldita do governo FHC para o governo Lula foi o desastre da desindustrialização; já a do Lula para o governo Dilma é a manutenção desta política cambial. Todos os avanços que tivemos foram fantásticos, mas esta questão atrasou o Brasil em quinze anos, no mínimo.
[ Dirceu ] Como você avalia a atuação do BC na era Meirelles? O que esperar do novo presidente Alexandre Tombini?

[ Nassif ] O [Henrique] Meirelles é um fanfarrão. Antes de assumir o Banco Central, em algumas palestras nos Estados Unidos, ele comentava sobre a importância do câmbio para garantir o crescimento. Depois, assumiu a presidência e uma posição de dificultar a redução dos juros. O Tombini é tecnicamente muito mais sólido. Como é seguro tecnicamente, ele se dá ao direito de ser mais flexível no sentido de não tratar dogmaticamente a política monetária. Temos que mudá-la em muitas coisas. Se deixar como está, hoje, a existência de metas de inflação e só juros para segurar eventuais descontroles, em qualquer hipótese, não tem contas públicas que resistam. Há outras ferramentas que podem ser utilizadas sem concentrar renda.
Querem manter os juros elevados com a justificativa de alta da inflação provocada, principalmente, pelos alimentos. Alimento não tem nada a ver com demanda ou excesso de demanda, que é onde a política monetária atua. Mas, há todo um coro neste sentido, para que eles possam aumentar os juros. Temos que mudar o sistema de metas de inflação e, principalmente, tem que aumentar o escopo, o número das pessoas que definem a política monetária. Não podemos concentrar isso só em dois diretores do Banco Central, como é hoje, porque isso é uma loucura.
Em dezembro de 2008, eles falavam de economia sólida. Quando se tem grandes inflexões na vida econômica do Brasil, os indicadores só aparecem dois, três, quatro meses depois. Então, o negócio estava desmanchando aqui e eles diziam “não, o mercado ainda tem confiança”. Mas os dados (que posicionavam o mercado) eram de dois meses antes.
Na realidade, essa sensibilidade para entender a economia depende de uma mudança na composição do Comitê de Política Monetária, o COPOM. É preciso ter como nos Estados Unidos, análises regionais. E incorporar industriais, sindicatos, supermercados e economistas de outras linhas também. Não para ter um embate teórico, mas visões diferentes sobre uma mesma realidade econômica. Fora isso, o Banco Central tem que recuperar instrumentos tradicionais de política monetária. Hoje é tudo jogado nas costas dos juros.
Se tem excesso de demanda, como eu posso reduzí-la? Aumentar o compulsório é uma maneira. Reduzir prazos de financiamento, outra. Usar o IOF uma terceira. Então, você não carrega nos juros. Mas como estes criaram toda uma legião de beneficiados, nós temos todo o carnaval de analistas, que conhecemos bem, fazendo o mesmo discurso: para que joguem tudo nos juros.
Banco Central: só é penalizado se errar por baixo
[ Dirceu ] Daí que o nosso Banco Central, ao contrário do que acontece nos EUA, não tem metas para emprego, para que nossa política econômica gere determinado número de empregos/ano, por exemplo.
[ Nassif ] Não tem. Com isso, acontece um negócio maluco. Se você estabelece uma meta inflacionária e erra os juros por cima, não é penalizado. Só é penalizado se errar por baixo. É o mesmo que pegar, digamos, o exemplo de um médico. Uma criança tem uma infecção e se esta não ceder, o médico é culpado. Mas, se ela ceder o médico é inocente mesmo que tenha aplicado excesso de antibióticos que irá afetar outros órgãos da criança. É isso o que acontece. Você não tem penalização para erros por cima dos juros. Com isso, neste ano, o BC saiu do controle do Meirelles. O Tombini passou a atuar mais depois que reconheceu esses erros. Inclusive, no começo do ano, quando tinha uma inflação de (preços dos) alimentos. A inflação era nitidamente decorrente da alta dos alimentos, mas todo mundo pressionava o BC querendo aumentar juros. Isso para chegar em março e ter deflação.
Então, não adianta pegar um presidente do Banco Central com maior preparo, tem que mudar o sistema de apuração de dados. Mas, a internet fará essa mudança. Qual o modelo hoje de mapeamento de juros altos? Você tem lá alguns economistas de mercado que repetem os mesmos modelos. Pega o (ex-ministro da Fazenda) Mailson da Nóbrega que, em termos teóricos, repete o mesmo bordão. O Estadão, que tem a melhor cobertura dos jornalões na parte de economia, mostra dados dogmáticos. Por que ele mostra todo um processo de desindustrialização? Porque no final, ele tem que pagar o lobby para o mercado. Colocam o Eduardo Gianetti da Fonseca que não é macroeconomista, e o Mailson para dizer que o responsável são os gastos públicos. É uma maluquice. Ouçam o Roberto Gianetti da Fonseca que conhece lei industrial.
Há economistas que repetem esses bordões, fazem um carnaval e são eles que vão para os jornalões. O mercado, mesmo não acreditando, endossa o que é dito, porque o negócio do mercado não é acertar a inflação, mas o que o BC está pensando sobre ela. Então, caímos num modelo viciado. Não adianta aprimorar este modelo. Ele, em si, é furado.
[ Dirceu ] No Brasil nunca se aplaude a redução de juros.
[ Nassif ] Nunca. É uma coisa maluca. Em 1995, os juros foram para 45% ao ano porque o Brasil estava com as contas desequilibradas. Entra o Gustavo Loyola falando o seguinte: “nós precisamos descer gradativamente, porque se precisar subir, fica parecendo recuo”. Mas que gradativamente? Não existe isso! Você tem uma crise, joga os juros lá pra cima; acaba a crise, precisa baixar.
Ele falava de um jeito que parecia que tinha ciência atrás desta informação. E, pior, ele passava à opinião pública aquela ideia. Como nós fizemos magia com vários planos econômicos que não deram certo, ele passava para a opinião pública que uma “redução gradativa” significava caminhar lenta e firmemente em direção ao futuro. O que era uma bobagem. Na verdade, significou caminhar “lenta e firmemente” em direção à maior dívida pública da história - a maior. Vejam, os [governos] militares tinham uma dívida pública, mas tinham também ativos, das indústrias que foram criadas, das ferrovias. Então, [depois deles] se pegarmos em termos líquidos, criou-se esta dívida, mas sem contrapartida de ativos. Pelo contrário, reduziam os ativos, vendiam estatais e tudo, para pagar esses juros.
[ Dirceu ] Dobraram a dívida interna ao invés de reduzi-la em US$ 100 bi. Venderam US$ 100 bi (em estatais) e essa venda pagou juros. O Gustavo Franco [na presidência do Banco Central do 1º governo FHC] pagou 27,5% de juros reais durante três anos sobre a dívida pública.
[ Nassif ] Um absurdo.
Em 2002, no ano da eleição do Lula, eu publiquei um artigo descendo o pau nos juros. O Mailson [da Nóbrega], em um artigo, na realidade baseado em trabalho da Secretaria do Tesouro, dizia que a maior razão do aumento da dívida interna foi a incorporação das dívidas dos Estados. No artigo, ele desafiava: agora quero ver criticarem a Secretaria do Tesouro! Vocês sabem o que a Secretaria do Tesouro fez naquela época? Pegou a dívida dos Estados, mas antes de incorporá-las não considerou o aumento que esse endividamento havia sofrido em decorrência dos juros do Banco Central.
O caso de São Paulo era muito interessante. São Paulo devia R$ 50 bi para a União. Começou a negociar, mas um tempo depois de começar, na data de corte (fechamento da negociação) a dívida estava em R$ 100 bi – R$ 50 bi eram juros do BC. Como demorou mais, não sei quanto tempo para fechar a negociação, fechou-a em R$ 150 bi. Aí, eles consideraram e foram incluídos R$ 100 bi como dívida estadual, e não como resultado dos juros, quando eram decorrentes de juros. E, mais, pegaram R$ 150 bi e todos os juros que incidiram sobre essa dívida para dizer que se tratava de dívida de Estado e não [decorrente de] uma política do Banco Central.
Quando li aquilo, liguei para a Secretaria de Tesouro para ver quem fez o trabalho. Demorei três dias tentando encontrar o cara (responsável) pelo trabalho. Quando encontrei ele reconheceu: “é, nós discutimos aqui, achamos que poderia dar margem para dúvidas...” Eu respondi: “que margem para dúvidas? Vocês manipularam, está errado!” As dívidas dos Estados eram sempre a dívida dos títulos da União, mas com juros muito altos. E todos os Estados estavam com dívidas. Com isso, a União chegou a cobrar 45% em certo período - nos Estados chegou a 60% ao ano. Uma loucura. Esse foi o maior crime de política econômica já cometido. Tanto que amarrou o Brasil por quantos anos? E está aí ainda.
[ Dirceu ] Estamos pagando 10,75%. É uma pancada. Somados dão mais do que o orçamento da Educação.

[ Nassif ] Agora, foram deduzindo os juros, mas a base estava lá em cima. Ainda hoje dizem: "se não fossem os juros, não teríamos segurado a inflação”. Mentira! Eu fiz um trabalho por baixo em março/abril de 1995 em que dizia que aquela inflação já era fato passado e nós precisávamos cuidar do desenvolvimento. A manutenção de juros até 1999 foi exclusivamente para consolidar um modelo político que o Fernando Henrique implantou com o Gustavo Franco. Um modelo que criou e fez uma brutal transferência de renda para que novos grupos conduzissem a reformulação da economia. Quando você pega Ignácio Rangel [economista, considerado um dos maiores analistas do processo econômico brasileiro] vê que todos esses períodos de inflação, essa jogada de mercado, permitem enriquecimento de um pessoal mais ativo que leva a um salto na economia. A ideia desses mandraques, na realidade, era política: criar grandes grupos para consolidar o poder independente do Estado. Com isso, eles jogaram o projeto deles fora – não foram mais eleitos - mas atrasaram o país durante anos.
[ Dirceu ] A respeito da crise européia, quais lições podermos tirar das medidas de socorro? O que o Brasil deve evitar neste caminho da Europa?
[ Nassif ] Um ponto em que o BC atuou quase bem – mas não foi bem de tudo – foi na regulação bancária para impedir grandes loucuras. Apesar dele próprio ter praticado uma loucura, que quase leva essas medidas abaixo, que foi permitir aquele swap reverso, aquelas operações especulativas bancadas por ele. Quando você começa a jogar o câmbio para baixo. Quem ganha? Quem tem voz política. As grandes empresas exportadoras. Para abafar essa voz política, eles criaram o swap reverso. Quando o câmbio caia ps exportadores perdiam na operação principal e ganhavam na operação financeira. Isso é loucura. Os jornais enchem o saco quando falam do subsídio, mas quando reverte o câmbio você tem toda essa quebradeira.
Fora esse pecado, o BC atuou muito em termos de regulação para impedir grandes loucuras. Agora, quando se pega o próprio FMI e aquele apoio dado em 1998 ao Brasil, você tem um jogo especulativo de grandes ganhos por parte dos grandes investidores. Esses ganhos embutem uma parte de risco e quanto maior o ganho, maior o risco. A questão é que estas operações quando entram para valer reduzem o risco e a perda dos grandes investidores, além de jogar a conta no ajuste fiscal - este pega a população de calça curta. Isso é complicado.
Quando você pega o mercado, eles dizem que a política é o que amarra o país. É o contrário, a política é um instrumento mobilizador. E ela que irá estabelecer, daqui para frente, os limites à ação deletéria dos mercados. No fundo, o próprio Fernando Henrique acabou perdendo o poder ao achar que ia montar uma estrutura em que o mercado ganhava e a população perdia.
Na Europa, o que estamos vendo é uma gambiarra. Terão que fazer a penalização dos credores, como fez a Argentina.
[ Dirceu ] Não está havendo nenhuma penalização, pelo contrário. Para salvar os bancos europeus, a Alemanha, como tinha condições, resolveu os problemas. Já tinha pactuado o modelo de baixar a participação do trabalho na renda nacional, aumentar a produtividade e não o salário, e diminuir o custo de programas sociais. Agora, eles farão o corte e, nestes países, será dos benefícios sociais. Depois o imposto aumenta para todo mundo e não só para os mais ricos. Todo mundo paga.
[ Nassif ] Vamos pegar os EUA. Não o da crise, agora, mas o modelo norte-americano das últimas décadas. Houve a entrada de uma nova indústria, uma nova economia - de serviços, informática etc.
O que aconteceu é que eles pegaram todos os setores atrasados, terceirizaram a mão-de-obra de obra, abrindo espaço para que as empresas pudessem ir para outros países. O modelo é interessante porque ficaram só com os grandes empregos. Mas quando chegaram no final do processo, aquele modelo não garantiu a empregabilidade. Sem garanti-la não existe mais mercado interno. Então, os países que ficaram com as indústrias de “menor qualidade” foram aqueles onde se formou o mercado interno. São eles os grandes vencedores da crise.
O modelo americano que levou os EUA a se tornarem o que foram, no final das contas, foi um modelo que privilegiou o mercado interno, a incorporação de novas marcas e que permitiu a criação de uma sociedade de consumo lá no século XIX e transformou o país na maior potência no mundo.
Outro ponto: a Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) está querendo mudar os critérios da contabilidade de dívidas no Brasil. Diz que é para ser mais transparente. Mas eles não têm transparência nenhuma. Europeu querer ensinar a gente a ser transparente em termos fiscais, como quer a OCDE, é piada... O José Roberto Afonso, o pai da lei de reforma fiscal, foi para a Alemanha, há dez anos, para ver como era a contabilidade de estados e municípios lá. Voltou espantado. Nós damos de 10 a 0 em termos de transparência. No Brasil, a questão da responsabilidade fiscal sempre foi um calcanhar de Aquiles, obrigou-nos a um esforço de transparência fiscal que hoje é mais rigorosa do que em muitos outros países.
O PROER [programa de socorro a bancos do governo FHC] foi importante em si, mas aquela crise bancária que ele ajudou a passar, foi fruto da política monetária do 2º semestre de 1994. De qualquer modo, todas as crises bancárias obrigaram o Brasil a ter um sistema bancário rígido, no qual, quando estoura a crise, tem conseqüências.
[ Dirceu ] Mudando de assunto, o que aconteceu com a grande imprensa brasileira? O que a levou a tomar esse rumo e a tornar-se um verdadeiro partido político?
[ Nassif ] Quando você pensa em termos globais, a internet cria uma extraordinária zona de segurança para a mídia. Quem são os grupos que terão audiência? Os grandes grupos midiáticos, obviamente, e também toda uma constelação de blogs, de sites que produzirão conteúdo. Quando a velha mídia percebeu que ia entrar grandes players neste mercado, grupos de telefonia, entretenimento, tudo...
No Brasil, a imprensa é auxiliar de partido político. Na realidade, na América Latina, com a redemocratização, a imprensa se transformou no ator político mais relevante dos últimos 20 anos. Derrubava presidentes, senadores, demonizava pessoas – você é o exemplo vivo disso; o Sérgio Motta [ministro de Comunicação de FHC], o exemplo morto.
Ao longo da história do Brasil, a imprensa se comportou da mesma maneira que setores políticos. Nosso país já está em uma nova conjuntura, mas ainda preserva o poder político da etapa anterior. Então, eles (os jornalões) tentam transformar o poder político em um diferencial para impedir a competição.
Em 2005, especificamente, eles acharam que poderiam voltar aos tempos de glória do impeachment [Fernando Collor de Melo] derrubando o presidente Lula. Montaram um pacto em torno do Fernando Henrique e do Serra. E achavam que poderiam eleger o Serra ou um outro presidente que através de medidas de regulamentação [da mídia] os ajudassem a fazer a travessia para o novo modelo.
Também tentaram repetir o próprio impeachment que deu certo em 1992. Qual era o modelo? Criar um escândalo por dia. Como não têm capacidade de criar um escândalo consistente, transformam algo banal em um escândalo ou inventam um. Com o tempo, esperavam uma eclosão dos caras-pintadas - estes iriam para a rua derrubar o governo. A ideia foi essa. Mas, não tiveram pique para derrubar o Lula em 2005, e em 2006 o Lula já começou a recuperar a popularidade. Com isso, perderam o rumo.
Nós tivemos uma grande sorte porque o pessoal que conduziu essa operação, talvez, seja a mais medíocre geração de diretores de redação desde que eu entrei no jornalismo. A sorte é que era um bando de amadores deslumbrados, que começaram a mostrar sua vulnerabilidade quando ficaram no poder nas redações. Começaram a querer virar intelectuais, montaram esquemas com editoras para vender livros. O Ali Kamel escreveu um livro que consideraram “um dos dez livros mais importantes da década”. Total perda do senso de ridículo.
O Diogo Mainardi e o Reinaldo Azevedo foram colocados para atuar como franco atiradores. Você os coloca ali, levanta a bola deles... E o que vimos foram coisas fantásticas. Houve até um que foi considerado o novo Carlos Lacerda. Outro escreveu que o livro do Reinaldo deveria ser adotado pelas cadeiras de ética de todas as faculdades. Na realidade, não entenderam que o Brasil é maior. Acharam que depois dos ataques desqualificadores iam intimidar a todos. Mas meia dúzia de malucos resolveram enfrentar a fera e a internet serviu para isso também.
[ Dirceu ] Concorrência neles!
[ Nassif ] É isso mesmo, porque o medo deles não é da CONFECOM (1ª Conferência Nacional de Comunicação), mas das empresas de telefonia. Se você tirar três pernas distorcidas e ilegais que sustentam esse modelo, ele desaba: a estrutura de veiculação publicitária; a manipulação de tiragem e de audiência; e a publicidade legal, os balanços de empresas.
A primeira perna: a estrutura de veiculação publicitária. Da forma como é feita, de contratos com agências de publicidade, é crime de direito econômico, porque são os próprios veículos que remuneram as agências através dos bônus de veiculação. Hoje, quem faz essa distribuição de verbas por agências de publicidade, os diretores de marketing, fazem parte de uma estrutura de poder. Isso é uma excrescência.
Segundo ponto: manipulação de tiragem e de audiência. O Instituto Verificador de Circulação (IVC) tem um jeito de apurar a circulação dos jornais que permite manipulação. A VEJA diz que tem 1 milhão e cem mil exemplares. Não tem. Ela tem 870 mil exemplares...
[ Dirceu ] A margem de erro de audiência de televisão é altíssimo também.
[ Nassif ] Você pega o Estadão. Dois ou três anos atrás, o Estadão teve uma queda de tiragem de 25%. No mesmo período, a Folha teve de 6% e O Globo de 5%. Qual a diferença entre os três? O Estadão estava precisando limpar o cadastro, limpou e ficou 25% a menos.
Uma vez, eu fui numa associação empresarial. Eles tinham uma revista que, segundo o IVC, vendia 50 mil exemplares por edição. Entra a nova direção, foram apurar e a revista vendia dois mil. O que eles faziam? O IVC tem como método de contagem contabilizar o que sai da gráfica e o que volta. Distribuiam 2 mil, alugavam galpões e jogavam 48 mil lá. A VEJA é impossível você esconder. O que eles fazem? Dão, doam. Distribuem. Isso traz a tiragem da VEJA para o real.
E o terceiro ponto das três pernas de que falei acima é a publicidade legal. Os balanços de empresa. Não tem a mínima lógica. Se sou uma empresa de capital aberto, eu mando ao acionista o balanço por e-mail ou ele pega o PDF no site. A troco do quê tem que publicar páginas e páginas de publicidade (como balanço oficial) na Folha, no Estadão, no Valor?
São três distorções. Fora as secretarias de Educação sobre as quais eles estão avançado de forma voraz. Já oferecem produtos da Abril para as secretarias de Educação.
[ Dirceu ] Em relação à regulação da imprensa? Qual sua avaliação a respeito do que o governo está construindo? Temos condições no país para fazermos a regulação?
[ Nassif ] Não se trata de regulação de conteúdo, mas do direito de resposta. É um absurdo, nós não temos direito de resposta. Estou há três anos tentando o meu, a minha resposta. Entrei com ação de Direito de Resposta na VEJA. A juíza disse que estava errado porque falava de internet e não de Lei de Imprensa. Não estava errada. Vai para a 2ª instância - mais um ano e meio. Na 2ª, disseram que estava certo. Volta para a mesma juíza da 1ª. Aí ela decidiu não julgar porque acabou a Lei de Imprensa.
Quando se fala em competição, temos que remover essas barreiras que citei. Já na questão do conteúdo, precisa ter o que há em outros países: conteúdo nacional; permitir o avanço da produção; restrições normais em relação à propaganda infantil e à violência. Temos que remover fatores anacrônicos.
Quem compõe o quadro de colunistas é o leitor
[ Dirceu ] Qual o papel das novas mídias, da internet, em relação à democratização? Como você enxerga o futuro nesse sentido? Quais os pontos positivos que devemos avançar em termos da rede?
[ Nassif ] Todo mundo está na mesma plataforma tecnológica. Isso já traz uma mudança monumental ao jogo político. Você tem um determinado número de colunistas no jornal. A Folha, por exemplo, tinha um grupo de jornalistas que compunham um poder político. Então, quando vinha uma manchete, era como se ela tivesse o endosso de toda uma estrutura de colunistas, dando credibilidade àquela matéria. Mesmo se alguns discordassem. Ao ir para a internet, o jogo é outro. Quem compõe o quadro de colunistas é cada leitor. Eu tenho os meus favoritos, eu quero o colunista X da Folha, o W do Estado, o blogueiro tal, o político Y. Então, ao compor o que vai ler, o próprio internauta elimina a manipulação. Essa é uma situação real.
Ninguém quer que os jornais acabem. Eles vão para a internet e sobrevivem. Mas aquele poder de manipulação e de gerar instabilidade política vai para o vinagre. Cada vez que sai uma manchete e uma denúncia pela internet, todo mundo sai correndo atrás de outras opiniões que vão se cruzando nos diversos grupos de discussão. Então, cria-se uma nova realidade. Isso tem o poder fantástico de desconstruir denúncias. Vimos isso durante a campanha, por exemplo, no caso da bolinha de papel [a auto-acusação infundada de José Serra de que fora agredido com uma pancada no Rio]. Eu fui o primeiro a colocar o vídeo do SBT no meu blog.
[ Dirceu ] Foi mortal.
[ Nassif ] Com isso, agora, mesmo que os jornalões tenham audiência, quando você (na internet) rebate um grande jornal, e faz com um argumento técnico, isso se espalha para todos os lados. Esse é um aspecto. Acabou o poder dos jornalões de desestabilizar a política.
Outro aspecto é que todo agente econômico hoje - sindicatos, corporações, uma tribo amazônica - terá que se preparar para a blogosfera. Com isso você quebra o circuito viciado da velha mídia que acaba pressionando o Congresso e a política econômica.
[ Dirceu ] O Congresso do Brasil é tremendamente desprestigiado pela imprensa, se comparado com o parlamento de outros países. Claro que temos um que vota no lugar do outro; o senador Efraim Moraes (DEM-PB), por exemplo, que manipulou todas as licitações e tem dezenas de empregados pagos pelo Senado; gente que emprega família inteira lá etc... Agora, do jeito que o Congresso é apresentado para a sociedade no Brasil, nunca teremos político no país com prestígio.
[ Nassif ] Pega-se a grande disputa política dos anos 90. Tinha-se o Congresso e a mídia dizendo-se representantes da opinião pública. Daí a mídia entender que tinha que manter o outro [Congresso] completamente de joelhos para poder impor suas condições.
Você está na competição imprensa x Congresso. Tem, também, o fato de que com as ONGs, o Congresso foi perdendo cada vez mais a legitimidade. Você chega numa ONG X, o cara tem muito mais autoridade do que o deputado. E com a internet é a mídia quem perde a legitimidade. Essa é a grande mudança.
Agora, o risco que se tem [na internet] é termos uma radicalização política e começarmos a ser bairristas. Quando teve a reunião dos blogueiros (agosto pp.) eu sugeri: “nós temos uma frente aqui em torno de alguns valores, os dois principais, o combate ao monopólio e a defesa da inclusão social e dos valores da civilização que foram atropelados. Agora, nós temos também todo um universo de divergências. O que temos pela frente, quando passar essa guerra aí, é mostrar que podemos divergir civilizadamente".
O universo da blogosfera é o universo das ideias. Então, tentar criar esse ambiente civilizatório em contraposição ao da selvageria é muito interessante. Um momento mágico. Isso está acontecendo no mundo inteiro, mas no Brasil, vem no bojo de mudanças muito mais radicais, com a inclusão de novas classes sociais, regionalização do desenvolvimento, a banda larga...
- extraído, autorizadamente, do blog do Zé Dirceu http://www.zedirceu.com.br//index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=2&Itemid=3
Oposição levará anos para se refazer no país
A conclusão é do jornalista de economia e blogueiro progressista Luis Nassif

Oposição levará anos para se refazer no país
A conclusão é do jornalista especializado em economia Luis Nassif, em sua análise sobre a disputa presidencial deste ano e, sobretudo, da campanha suja explorada pela oposição e seu candidato derrotado José Serra (PSDB-DEM-PPS) em 2010.
Em uma avaliação suscinta, nesta entrevista, Nassif aponta o que deve ser mudado no panorama econômico do país, em especial nas áreas de câmbio e juros. Traça, também, um perfil da mídia brasileira no decorrer dos últimos anos e do papel lamentável a que se prestam alguns jornalistas.
Para Nassif, a imprensa hoje é linha auxiliar de partidos políticos, uma realidade que pode e deve ser combatida com concorrência e, sobretudo, um marco regulatório para que direitos elementares, como o de resposta, sejam garantidos à sociedade.
Um dos blogueiros mais respeitados do país (acesse o blog do Nassif), ganhador de vários prêmios, como o de "Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita" dado pelo site Comunique-se em 2003 e 2005, Nassif também fala da força da Internet hoje em termos da liberdade de imprensa e de garantia de maior democracia.
[ Dirceu ] Nassif, gostaria que você fizesse um balanço da campanha eleitoral deste ano, em especial, do papel assumido pela oposição ao governo Lula e pelo candidato derrotado nas urnas, José Serra.
[ Nassif ] Do ponto de vista estratégico, a partir do momento em que ficou claro o projeto político e econômico do governo Lula, de somar todas as forças, solucionar os conflitos entre as classes e priorizar o desenvolvimentismo, a oposição ficou absolutamente sem discurso. E a crise de 2008 foi fundamental para isso.
Eles entraram na campanha com certa unidade em torno de questões como o aparelhamento e a redução do Estado. Um discurso do ideário neoliberal, vazio, mas tido como aglutinador das “bandeiras” da oposição. Este poderia ter sido o contraponto ao projeto do governo. Mas, a partir do momento em que José Serra assumiu a candidatura oposicionista, não se tem mais oposição, apenas impulsos. Serra tornou-se uma biruta de aeroporto. A impressão que dá é que ele hibernou no começo dos anos 90 e somente agora acordou. Ele não tem nenhuma proposta inovadora e nenhum tema. A única questão apresentada - e que não é dele, é coletiva – foi a da política do câmbio. Mas nem esta o Serra soube desenvolver.
Assassinato de reputações
Sem discurso e incapaz de se posicionar no Centro-Direita - que lhe seria o mais adequado – o tucano partiu para a única coisa eficiente feita por eles nesta disputa: a campanha pela internet. Apesar de, com ela, ter estigmatizado toda a oposição. Um grupo de franco atiradores começou a ser montado há quatro anos para isso. Na realidade, um partido de milicianos de Santa Catarina, que já tinha uma estrutura a oferecer, foi o responsável por uma das páginas mais sujas da história política brasileira, de ataques difamatórios e tentativas explícitas de assassinato de reputações.
Não é à toa que quando terminou a eleição, a grande preocupação não foi com a oposição, mas como reconstruí-la. Oposição é fundamental em qualquer governo, desde que seja legítima. O mal que o Serra fez à oposição brasileira é imensurável. Ela levará anos para se refazer.
Reforma para dar eficiência ao Estado
[ Dirceu ] A vitória da presidente eleita Dilma Rousseff ocorreu com o compromisso de que ela dará continuidade ao modelo de desenvolvimento implantado pelo governo Lula. Na sua visão, o que deve continuar e o que deve mudar já?
[ Nassif ] Nos últimos anos, tivemos mudanças importantes na ação federativa. Havia alguns insights no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de como montar políticas ouvindo todas as partes. Com o PAC, o programa "Minha Casa, Minha Vida" e o trabalho no saneamento etc, conseguiu-se montar um modelo federativo com projetos que se aplicam independentes de questões partidárias.
Agora, precisamos de uma reforma para dar eficiência administrativa ao Estado. Se pegarmos a estrutura pública, ao longo dos últimos oito anos, vemos que houve uma reconstrução de estruturas técnicas. Por ser tudo gambiarra, elas se concentravam na Casa Civil, até para ter efetividade nas ações. Precisamos, portanto, de uma reforma moderna do Estado, à semelhança do que [Nelson] Rockefeller fez nos Estados Unidos nos anos 50. Este é o primeiro ponto.
O segundo ponto, sem dúvidas, é o Banco Central. Mudar essa ideia de termos quatro anos para reduzir a relação dívida/PIB. Até porque a equipe [econômica] para reduzir os juros vai ser atropelada pelos fatos. A minha esperança é que o discurso de que tudo será gradativo seja simplesmente tático, porque você não pode anunciar previamente o que será feito, já que a área é nervosa. Mas, reduzir mais rapidamente essa relação dívida/PIB é fundamental. A herança maldita do governo FHC para o governo Lula foi o desastre da desindustrialização; já a do Lula para o governo Dilma é a manutenção desta política cambial. Todos os avanços que tivemos foram fantásticos, mas esta questão atrasou o Brasil em quinze anos, no mínimo.
[ Dirceu ] Como você avalia a atuação do BC na era Meirelles? O que esperar do novo presidente Alexandre Tombini?

[ Nassif ] O [Henrique] Meirelles é um fanfarrão. Antes de assumir o Banco Central, em algumas palestras nos Estados Unidos, ele comentava sobre a importância do câmbio para garantir o crescimento. Depois, assumiu a presidência e uma posição de dificultar a redução dos juros. O Tombini é tecnicamente muito mais sólido. Como é seguro tecnicamente, ele se dá ao direito de ser mais flexível no sentido de não tratar dogmaticamente a política monetária. Temos que mudá-la em muitas coisas. Se deixar como está, hoje, a existência de metas de inflação e só juros para segurar eventuais descontroles, em qualquer hipótese, não tem contas públicas que resistam. Há outras ferramentas que podem ser utilizadas sem concentrar renda.
Querem manter os juros elevados com a justificativa de alta da inflação provocada, principalmente, pelos alimentos. Alimento não tem nada a ver com demanda ou excesso de demanda, que é onde a política monetária atua. Mas, há todo um coro neste sentido, para que eles possam aumentar os juros. Temos que mudar o sistema de metas de inflação e, principalmente, tem que aumentar o escopo, o número das pessoas que definem a política monetária. Não podemos concentrar isso só em dois diretores do Banco Central, como é hoje, porque isso é uma loucura.
Em dezembro de 2008, eles falavam de economia sólida. Quando se tem grandes inflexões na vida econômica do Brasil, os indicadores só aparecem dois, três, quatro meses depois. Então, o negócio estava desmanchando aqui e eles diziam “não, o mercado ainda tem confiança”. Mas os dados (que posicionavam o mercado) eram de dois meses antes.
Na realidade, essa sensibilidade para entender a economia depende de uma mudança na composição do Comitê de Política Monetária, o COPOM. É preciso ter como nos Estados Unidos, análises regionais. E incorporar industriais, sindicatos, supermercados e economistas de outras linhas também. Não para ter um embate teórico, mas visões diferentes sobre uma mesma realidade econômica. Fora isso, o Banco Central tem que recuperar instrumentos tradicionais de política monetária. Hoje é tudo jogado nas costas dos juros.
Se tem excesso de demanda, como eu posso reduzí-la? Aumentar o compulsório é uma maneira. Reduzir prazos de financiamento, outra. Usar o IOF uma terceira. Então, você não carrega nos juros. Mas como estes criaram toda uma legião de beneficiados, nós temos todo o carnaval de analistas, que conhecemos bem, fazendo o mesmo discurso: para que joguem tudo nos juros.
Banco Central: só é penalizado se errar por baixo
[ Dirceu ] Daí que o nosso Banco Central, ao contrário do que acontece nos EUA, não tem metas para emprego, para que nossa política econômica gere determinado número de empregos/ano, por exemplo.
[ Nassif ] Não tem. Com isso, acontece um negócio maluco. Se você estabelece uma meta inflacionária e erra os juros por cima, não é penalizado. Só é penalizado se errar por baixo. É o mesmo que pegar, digamos, o exemplo de um médico. Uma criança tem uma infecção e se esta não ceder, o médico é culpado. Mas, se ela ceder o médico é inocente mesmo que tenha aplicado excesso de antibióticos que irá afetar outros órgãos da criança. É isso o que acontece. Você não tem penalização para erros por cima dos juros. Com isso, neste ano, o BC saiu do controle do Meirelles. O Tombini passou a atuar mais depois que reconheceu esses erros. Inclusive, no começo do ano, quando tinha uma inflação de (preços dos) alimentos. A inflação era nitidamente decorrente da alta dos alimentos, mas todo mundo pressionava o BC querendo aumentar juros. Isso para chegar em março e ter deflação.
Então, não adianta pegar um presidente do Banco Central com maior preparo, tem que mudar o sistema de apuração de dados. Mas, a internet fará essa mudança. Qual o modelo hoje de mapeamento de juros altos? Você tem lá alguns economistas de mercado que repetem os mesmos modelos. Pega o (ex-ministro da Fazenda) Mailson da Nóbrega que, em termos teóricos, repete o mesmo bordão. O Estadão, que tem a melhor cobertura dos jornalões na parte de economia, mostra dados dogmáticos. Por que ele mostra todo um processo de desindustrialização? Porque no final, ele tem que pagar o lobby para o mercado. Colocam o Eduardo Gianetti da Fonseca que não é macroeconomista, e o Mailson para dizer que o responsável são os gastos públicos. É uma maluquice. Ouçam o Roberto Gianetti da Fonseca que conhece lei industrial.
Há economistas que repetem esses bordões, fazem um carnaval e são eles que vão para os jornalões. O mercado, mesmo não acreditando, endossa o que é dito, porque o negócio do mercado não é acertar a inflação, mas o que o BC está pensando sobre ela. Então, caímos num modelo viciado. Não adianta aprimorar este modelo. Ele, em si, é furado.
[ Dirceu ] No Brasil nunca se aplaude a redução de juros.
[ Nassif ] Nunca. É uma coisa maluca. Em 1995, os juros foram para 45% ao ano porque o Brasil estava com as contas desequilibradas. Entra o Gustavo Loyola falando o seguinte: “nós precisamos descer gradativamente, porque se precisar subir, fica parecendo recuo”. Mas que gradativamente? Não existe isso! Você tem uma crise, joga os juros lá pra cima; acaba a crise, precisa baixar.
Ele falava de um jeito que parecia que tinha ciência atrás desta informação. E, pior, ele passava à opinião pública aquela ideia. Como nós fizemos magia com vários planos econômicos que não deram certo, ele passava para a opinião pública que uma “redução gradativa” significava caminhar lenta e firmemente em direção ao futuro. O que era uma bobagem. Na verdade, significou caminhar “lenta e firmemente” em direção à maior dívida pública da história - a maior. Vejam, os [governos] militares tinham uma dívida pública, mas tinham também ativos, das indústrias que foram criadas, das ferrovias. Então, [depois deles] se pegarmos em termos líquidos, criou-se esta dívida, mas sem contrapartida de ativos. Pelo contrário, reduziam os ativos, vendiam estatais e tudo, para pagar esses juros.
[ Dirceu ] Dobraram a dívida interna ao invés de reduzi-la em US$ 100 bi. Venderam US$ 100 bi (em estatais) e essa venda pagou juros. O Gustavo Franco [na presidência do Banco Central do 1º governo FHC] pagou 27,5% de juros reais durante três anos sobre a dívida pública.
[ Nassif ] Um absurdo.
Em 2002, no ano da eleição do Lula, eu publiquei um artigo descendo o pau nos juros. O Mailson [da Nóbrega], em um artigo, na realidade baseado em trabalho da Secretaria do Tesouro, dizia que a maior razão do aumento da dívida interna foi a incorporação das dívidas dos Estados. No artigo, ele desafiava: agora quero ver criticarem a Secretaria do Tesouro! Vocês sabem o que a Secretaria do Tesouro fez naquela época? Pegou a dívida dos Estados, mas antes de incorporá-las não considerou o aumento que esse endividamento havia sofrido em decorrência dos juros do Banco Central.
O caso de São Paulo era muito interessante. São Paulo devia R$ 50 bi para a União. Começou a negociar, mas um tempo depois de começar, na data de corte (fechamento da negociação) a dívida estava em R$ 100 bi – R$ 50 bi eram juros do BC. Como demorou mais, não sei quanto tempo para fechar a negociação, fechou-a em R$ 150 bi. Aí, eles consideraram e foram incluídos R$ 100 bi como dívida estadual, e não como resultado dos juros, quando eram decorrentes de juros. E, mais, pegaram R$ 150 bi e todos os juros que incidiram sobre essa dívida para dizer que se tratava de dívida de Estado e não [decorrente de] uma política do Banco Central.
Quando li aquilo, liguei para a Secretaria de Tesouro para ver quem fez o trabalho. Demorei três dias tentando encontrar o cara (responsável) pelo trabalho. Quando encontrei ele reconheceu: “é, nós discutimos aqui, achamos que poderia dar margem para dúvidas...” Eu respondi: “que margem para dúvidas? Vocês manipularam, está errado!” As dívidas dos Estados eram sempre a dívida dos títulos da União, mas com juros muito altos. E todos os Estados estavam com dívidas. Com isso, a União chegou a cobrar 45% em certo período - nos Estados chegou a 60% ao ano. Uma loucura. Esse foi o maior crime de política econômica já cometido. Tanto que amarrou o Brasil por quantos anos? E está aí ainda.
[ Dirceu ] Estamos pagando 10,75%. É uma pancada. Somados dão mais do que o orçamento da Educação.

[ Nassif ] Agora, foram deduzindo os juros, mas a base estava lá em cima. Ainda hoje dizem: "se não fossem os juros, não teríamos segurado a inflação”. Mentira! Eu fiz um trabalho por baixo em março/abril de 1995 em que dizia que aquela inflação já era fato passado e nós precisávamos cuidar do desenvolvimento. A manutenção de juros até 1999 foi exclusivamente para consolidar um modelo político que o Fernando Henrique implantou com o Gustavo Franco. Um modelo que criou e fez uma brutal transferência de renda para que novos grupos conduzissem a reformulação da economia. Quando você pega Ignácio Rangel [economista, considerado um dos maiores analistas do processo econômico brasileiro] vê que todos esses períodos de inflação, essa jogada de mercado, permitem enriquecimento de um pessoal mais ativo que leva a um salto na economia. A ideia desses mandraques, na realidade, era política: criar grandes grupos para consolidar o poder independente do Estado. Com isso, eles jogaram o projeto deles fora – não foram mais eleitos - mas atrasaram o país durante anos.
[ Dirceu ] A respeito da crise européia, quais lições podermos tirar das medidas de socorro? O que o Brasil deve evitar neste caminho da Europa?
[ Nassif ] Um ponto em que o BC atuou quase bem – mas não foi bem de tudo – foi na regulação bancária para impedir grandes loucuras. Apesar dele próprio ter praticado uma loucura, que quase leva essas medidas abaixo, que foi permitir aquele swap reverso, aquelas operações especulativas bancadas por ele. Quando você começa a jogar o câmbio para baixo. Quem ganha? Quem tem voz política. As grandes empresas exportadoras. Para abafar essa voz política, eles criaram o swap reverso. Quando o câmbio caia ps exportadores perdiam na operação principal e ganhavam na operação financeira. Isso é loucura. Os jornais enchem o saco quando falam do subsídio, mas quando reverte o câmbio você tem toda essa quebradeira.
Fora esse pecado, o BC atuou muito em termos de regulação para impedir grandes loucuras. Agora, quando se pega o próprio FMI e aquele apoio dado em 1998 ao Brasil, você tem um jogo especulativo de grandes ganhos por parte dos grandes investidores. Esses ganhos embutem uma parte de risco e quanto maior o ganho, maior o risco. A questão é que estas operações quando entram para valer reduzem o risco e a perda dos grandes investidores, além de jogar a conta no ajuste fiscal - este pega a população de calça curta. Isso é complicado.
Quando você pega o mercado, eles dizem que a política é o que amarra o país. É o contrário, a política é um instrumento mobilizador. E ela que irá estabelecer, daqui para frente, os limites à ação deletéria dos mercados. No fundo, o próprio Fernando Henrique acabou perdendo o poder ao achar que ia montar uma estrutura em que o mercado ganhava e a população perdia.
Na Europa, o que estamos vendo é uma gambiarra. Terão que fazer a penalização dos credores, como fez a Argentina.
[ Dirceu ] Não está havendo nenhuma penalização, pelo contrário. Para salvar os bancos europeus, a Alemanha, como tinha condições, resolveu os problemas. Já tinha pactuado o modelo de baixar a participação do trabalho na renda nacional, aumentar a produtividade e não o salário, e diminuir o custo de programas sociais. Agora, eles farão o corte e, nestes países, será dos benefícios sociais. Depois o imposto aumenta para todo mundo e não só para os mais ricos. Todo mundo paga.
[ Nassif ] Vamos pegar os EUA. Não o da crise, agora, mas o modelo norte-americano das últimas décadas. Houve a entrada de uma nova indústria, uma nova economia - de serviços, informática etc.
O que aconteceu é que eles pegaram todos os setores atrasados, terceirizaram a mão-de-obra de obra, abrindo espaço para que as empresas pudessem ir para outros países. O modelo é interessante porque ficaram só com os grandes empregos. Mas quando chegaram no final do processo, aquele modelo não garantiu a empregabilidade. Sem garanti-la não existe mais mercado interno. Então, os países que ficaram com as indústrias de “menor qualidade” foram aqueles onde se formou o mercado interno. São eles os grandes vencedores da crise.
O modelo americano que levou os EUA a se tornarem o que foram, no final das contas, foi um modelo que privilegiou o mercado interno, a incorporação de novas marcas e que permitiu a criação de uma sociedade de consumo lá no século XIX e transformou o país na maior potência no mundo.
Outro ponto: a Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) está querendo mudar os critérios da contabilidade de dívidas no Brasil. Diz que é para ser mais transparente. Mas eles não têm transparência nenhuma. Europeu querer ensinar a gente a ser transparente em termos fiscais, como quer a OCDE, é piada... O José Roberto Afonso, o pai da lei de reforma fiscal, foi para a Alemanha, há dez anos, para ver como era a contabilidade de estados e municípios lá. Voltou espantado. Nós damos de 10 a 0 em termos de transparência. No Brasil, a questão da responsabilidade fiscal sempre foi um calcanhar de Aquiles, obrigou-nos a um esforço de transparência fiscal que hoje é mais rigorosa do que em muitos outros países.
O PROER [programa de socorro a bancos do governo FHC] foi importante em si, mas aquela crise bancária que ele ajudou a passar, foi fruto da política monetária do 2º semestre de 1994. De qualquer modo, todas as crises bancárias obrigaram o Brasil a ter um sistema bancário rígido, no qual, quando estoura a crise, tem conseqüências.
[ Dirceu ] Mudando de assunto, o que aconteceu com a grande imprensa brasileira? O que a levou a tomar esse rumo e a tornar-se um verdadeiro partido político?
[ Nassif ] Quando você pensa em termos globais, a internet cria uma extraordinária zona de segurança para a mídia. Quem são os grupos que terão audiência? Os grandes grupos midiáticos, obviamente, e também toda uma constelação de blogs, de sites que produzirão conteúdo. Quando a velha mídia percebeu que ia entrar grandes players neste mercado, grupos de telefonia, entretenimento, tudo...
No Brasil, a imprensa é auxiliar de partido político. Na realidade, na América Latina, com a redemocratização, a imprensa se transformou no ator político mais relevante dos últimos 20 anos. Derrubava presidentes, senadores, demonizava pessoas – você é o exemplo vivo disso; o Sérgio Motta [ministro de Comunicação de FHC], o exemplo morto.
Ao longo da história do Brasil, a imprensa se comportou da mesma maneira que setores políticos. Nosso país já está em uma nova conjuntura, mas ainda preserva o poder político da etapa anterior. Então, eles (os jornalões) tentam transformar o poder político em um diferencial para impedir a competição.
Em 2005, especificamente, eles acharam que poderiam voltar aos tempos de glória do impeachment [Fernando Collor de Melo] derrubando o presidente Lula. Montaram um pacto em torno do Fernando Henrique e do Serra. E achavam que poderiam eleger o Serra ou um outro presidente que através de medidas de regulamentação [da mídia] os ajudassem a fazer a travessia para o novo modelo.
Também tentaram repetir o próprio impeachment que deu certo em 1992. Qual era o modelo? Criar um escândalo por dia. Como não têm capacidade de criar um escândalo consistente, transformam algo banal em um escândalo ou inventam um. Com o tempo, esperavam uma eclosão dos caras-pintadas - estes iriam para a rua derrubar o governo. A ideia foi essa. Mas, não tiveram pique para derrubar o Lula em 2005, e em 2006 o Lula já começou a recuperar a popularidade. Com isso, perderam o rumo.
Nós tivemos uma grande sorte porque o pessoal que conduziu essa operação, talvez, seja a mais medíocre geração de diretores de redação desde que eu entrei no jornalismo. A sorte é que era um bando de amadores deslumbrados, que começaram a mostrar sua vulnerabilidade quando ficaram no poder nas redações. Começaram a querer virar intelectuais, montaram esquemas com editoras para vender livros. O Ali Kamel escreveu um livro que consideraram “um dos dez livros mais importantes da década”. Total perda do senso de ridículo.
O Diogo Mainardi e o Reinaldo Azevedo foram colocados para atuar como franco atiradores. Você os coloca ali, levanta a bola deles... E o que vimos foram coisas fantásticas. Houve até um que foi considerado o novo Carlos Lacerda. Outro escreveu que o livro do Reinaldo deveria ser adotado pelas cadeiras de ética de todas as faculdades. Na realidade, não entenderam que o Brasil é maior. Acharam que depois dos ataques desqualificadores iam intimidar a todos. Mas meia dúzia de malucos resolveram enfrentar a fera e a internet serviu para isso também.
[ Dirceu ] Concorrência neles!
[ Nassif ] É isso mesmo, porque o medo deles não é da CONFECOM (1ª Conferência Nacional de Comunicação), mas das empresas de telefonia. Se você tirar três pernas distorcidas e ilegais que sustentam esse modelo, ele desaba: a estrutura de veiculação publicitária; a manipulação de tiragem e de audiência; e a publicidade legal, os balanços de empresas.
A primeira perna: a estrutura de veiculação publicitária. Da forma como é feita, de contratos com agências de publicidade, é crime de direito econômico, porque são os próprios veículos que remuneram as agências através dos bônus de veiculação. Hoje, quem faz essa distribuição de verbas por agências de publicidade, os diretores de marketing, fazem parte de uma estrutura de poder. Isso é uma excrescência.
Segundo ponto: manipulação de tiragem e de audiência. O Instituto Verificador de Circulação (IVC) tem um jeito de apurar a circulação dos jornais que permite manipulação. A VEJA diz que tem 1 milhão e cem mil exemplares. Não tem. Ela tem 870 mil exemplares...
[ Dirceu ] A margem de erro de audiência de televisão é altíssimo também.
[ Nassif ] Você pega o Estadão. Dois ou três anos atrás, o Estadão teve uma queda de tiragem de 25%. No mesmo período, a Folha teve de 6% e O Globo de 5%. Qual a diferença entre os três? O Estadão estava precisando limpar o cadastro, limpou e ficou 25% a menos.
Uma vez, eu fui numa associação empresarial. Eles tinham uma revista que, segundo o IVC, vendia 50 mil exemplares por edição. Entra a nova direção, foram apurar e a revista vendia dois mil. O que eles faziam? O IVC tem como método de contagem contabilizar o que sai da gráfica e o que volta. Distribuiam 2 mil, alugavam galpões e jogavam 48 mil lá. A VEJA é impossível você esconder. O que eles fazem? Dão, doam. Distribuem. Isso traz a tiragem da VEJA para o real.
E o terceiro ponto das três pernas de que falei acima é a publicidade legal. Os balanços de empresa. Não tem a mínima lógica. Se sou uma empresa de capital aberto, eu mando ao acionista o balanço por e-mail ou ele pega o PDF no site. A troco do quê tem que publicar páginas e páginas de publicidade (como balanço oficial) na Folha, no Estadão, no Valor?
São três distorções. Fora as secretarias de Educação sobre as quais eles estão avançado de forma voraz. Já oferecem produtos da Abril para as secretarias de Educação.
[ Dirceu ] Em relação à regulação da imprensa? Qual sua avaliação a respeito do que o governo está construindo? Temos condições no país para fazermos a regulação?
[ Nassif ] Não se trata de regulação de conteúdo, mas do direito de resposta. É um absurdo, nós não temos direito de resposta. Estou há três anos tentando o meu, a minha resposta. Entrei com ação de Direito de Resposta na VEJA. A juíza disse que estava errado porque falava de internet e não de Lei de Imprensa. Não estava errada. Vai para a 2ª instância - mais um ano e meio. Na 2ª, disseram que estava certo. Volta para a mesma juíza da 1ª. Aí ela decidiu não julgar porque acabou a Lei de Imprensa.
Quando se fala em competição, temos que remover essas barreiras que citei. Já na questão do conteúdo, precisa ter o que há em outros países: conteúdo nacional; permitir o avanço da produção; restrições normais em relação à propaganda infantil e à violência. Temos que remover fatores anacrônicos.
Quem compõe o quadro de colunistas é o leitor
[ Dirceu ] Qual o papel das novas mídias, da internet, em relação à democratização? Como você enxerga o futuro nesse sentido? Quais os pontos positivos que devemos avançar em termos da rede?
[ Nassif ] Todo mundo está na mesma plataforma tecnológica. Isso já traz uma mudança monumental ao jogo político. Você tem um determinado número de colunistas no jornal. A Folha, por exemplo, tinha um grupo de jornalistas que compunham um poder político. Então, quando vinha uma manchete, era como se ela tivesse o endosso de toda uma estrutura de colunistas, dando credibilidade àquela matéria. Mesmo se alguns discordassem. Ao ir para a internet, o jogo é outro. Quem compõe o quadro de colunistas é cada leitor. Eu tenho os meus favoritos, eu quero o colunista X da Folha, o W do Estado, o blogueiro tal, o político Y. Então, ao compor o que vai ler, o próprio internauta elimina a manipulação. Essa é uma situação real.
Ninguém quer que os jornais acabem. Eles vão para a internet e sobrevivem. Mas aquele poder de manipulação e de gerar instabilidade política vai para o vinagre. Cada vez que sai uma manchete e uma denúncia pela internet, todo mundo sai correndo atrás de outras opiniões que vão se cruzando nos diversos grupos de discussão. Então, cria-se uma nova realidade. Isso tem o poder fantástico de desconstruir denúncias. Vimos isso durante a campanha, por exemplo, no caso da bolinha de papel [a auto-acusação infundada de José Serra de que fora agredido com uma pancada no Rio]. Eu fui o primeiro a colocar o vídeo do SBT no meu blog.
[ Dirceu ] Foi mortal.
[ Nassif ] Com isso, agora, mesmo que os jornalões tenham audiência, quando você (na internet) rebate um grande jornal, e faz com um argumento técnico, isso se espalha para todos os lados. Esse é um aspecto. Acabou o poder dos jornalões de desestabilizar a política.
Outro aspecto é que todo agente econômico hoje - sindicatos, corporações, uma tribo amazônica - terá que se preparar para a blogosfera. Com isso você quebra o circuito viciado da velha mídia que acaba pressionando o Congresso e a política econômica.
[ Dirceu ] O Congresso do Brasil é tremendamente desprestigiado pela imprensa, se comparado com o parlamento de outros países. Claro que temos um que vota no lugar do outro; o senador Efraim Moraes (DEM-PB), por exemplo, que manipulou todas as licitações e tem dezenas de empregados pagos pelo Senado; gente que emprega família inteira lá etc... Agora, do jeito que o Congresso é apresentado para a sociedade no Brasil, nunca teremos político no país com prestígio.
[ Nassif ] Pega-se a grande disputa política dos anos 90. Tinha-se o Congresso e a mídia dizendo-se representantes da opinião pública. Daí a mídia entender que tinha que manter o outro [Congresso] completamente de joelhos para poder impor suas condições.
Você está na competição imprensa x Congresso. Tem, também, o fato de que com as ONGs, o Congresso foi perdendo cada vez mais a legitimidade. Você chega numa ONG X, o cara tem muito mais autoridade do que o deputado. E com a internet é a mídia quem perde a legitimidade. Essa é a grande mudança.
Agora, o risco que se tem [na internet] é termos uma radicalização política e começarmos a ser bairristas. Quando teve a reunião dos blogueiros (agosto pp.) eu sugeri: “nós temos uma frente aqui em torno de alguns valores, os dois principais, o combate ao monopólio e a defesa da inclusão social e dos valores da civilização que foram atropelados. Agora, nós temos também todo um universo de divergências. O que temos pela frente, quando passar essa guerra aí, é mostrar que podemos divergir civilizadamente".
O universo da blogosfera é o universo das ideias. Então, tentar criar esse ambiente civilizatório em contraposição ao da selvageria é muito interessante. Um momento mágico. Isso está acontecendo no mundo inteiro, mas no Brasil, vem no bojo de mudanças muito mais radicais, com a inclusão de novas classes sociais, regionalização do desenvolvimento, a banda larga...
- extraído, autorizadamente, do blog do Zé Dirceu http://www.zedirceu.com.br//index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=2&Itemid=3
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Carta dos cineastas independentes, reunidos durante a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Cineastas independentes, reunidos durante a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, redigiram belo documento sobre a situação do cinema no Brasil que merece ser lido. Com precisão fazem retrato da situação do cinema hoje no Brasil e apresentam propostas para uma política pública para o setor. Vale lembrar que, entre as grandes realizações do governo popular do presidente Lula, e de Gilberto Gil, o Ministro da Cultura dele, esteve fomentar dezenas de projetos que colocaram o Brasil nas telas, como nunca antes se viu na história do país. Trabalhos assinados por geração de artistas que, como se vê na Carta de Tirandentes, está disposto a fazer avançar tanto a proposta de arte criativa, original e com compromisso social, quanto na democratização do setor.
Eis o texto, extraído de http://www.mostratiradentes.com.br/noticia-detalhe.php?menu=not&codNot=151
Recomendamos divulgação.
CARTA DE TIRADENTES
Amanhece um novo tempo no horizonte. Novas paisagens, novas questões, novos agentes,
novas imagens e sons se multiplicam por todas as regiões do país, refletindo a imensa
diversidade cultural do Brasil.
A construção de políticas públicas inclusivas, descentralizadas e transparentes – aliadas às
facilidades trazidas pelas novas tecnologias de produção audiovisual – favoreceram o
surgimento dessa nova realidade do cinema brasileiro. Moradores de municípios de menos de
20 mil habitantes passaram a fazer filmes através do programa Revelando os Brasis. Estivemos
nas telas dos grandes festivais do mundo. Um filme brasileiro liderou as bilheterias e bateu
recorde de público. Todas as vitórias pertencem ao conjunto da atividade cinematográfica e às
iniciativas do poder público. Entretanto, é preciso reconhecer que, apesar das elevadas somas
investidas através de políticas de renúncia fiscal, a indústria cinematográfica nacional ainda
não conquistou sua independência do fomento público; que a maior parte desses recursos
continuam concentrados nas mãos de poucos agentes; que nossa presença no mercado
internacional é tímida frente ao potencial do setor e aos montantes investidos.
Sabemos do lugar estratégico do cinema para o futuro do país e para sua afirmação como
nação soberana. As palavras da presidenta Dilma Rousseff em seu discurso de posse apontam
para esse avanço: “o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo
econômico ou no campo do desenvolvimento econômico pura e simplesmente. Ele pressupõe o
avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um
povo, essência de sua identidade. Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o
consumo de nossos bens culturais em todas as regiões e expandindo a exportação de nossa
música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.”
O Brasil resolveu, afinal, trilhar um caminho original e independente de desenvolvimento e
soberania – um caminho fundado no crescimento econômico com distribuição de renda e
inclusão social. O Brasil vive um momento histórico de ampliação de cidadania e participação
democrática. Setores até então excluídos ganharam imagem e voz na cena política, tornando‐
se protagonista de importantes mudanças na realidade social. No campo do audiovisual,
surgiram novos realizadores, muitos produzindo de forma absolutamente independente. A
produção cinematográfica brasileira nunca foi tão diversa e plural como hoje. A maior parte
desses filmes, no entanto, e apesar da enorme atenção que vem recebendo de prestigiados
espaços da atividade cinematográfica no Brasil e no mundo – como os festivais de Tiradentes,
Brasília, Cannes, Berlim, Veneza, Locarno e Rotterdam –, permanece alijada dos grandes
lançamentos e das salas do circuito comercial. Felizmente, com o digital e uma gigantesca
pulverização das formas de acesso aos filmes, essas obras ganharam muitas outras maneiras
de existir fora do grande circuito de exibição convencional. Elas estão nos festivais, mostras,
cineclubes, salas de aula, computadores, camelôs – em lugares que nem salas de cinema
possuem (afinal, apenas 8% dos municípios brasileiros possuem salas de exibição). Este
cinema, agora, precisa ser entendido em sua importância democratizante e simbólica. É
urgente ultrapassar o bloqueio imposto por estruturas historicamente consagradas à
manutenção de privilégios no acesso à produção e ao consumo dos bens culturais. Estes novos
filmes já funcionam como farol da nossa cultura no intercâmbio simbólico entre os povos. Eles afirmam nosso lugar no mundo. Compreendem novos modelos de produção – muitas vezes,
mais baratos. São filmes inovadores que não podem mais ser ignorados.
É chegada a hora de questionar privilégios cristalizados e de se criar mecanismos de inclusão
para que a novidade, a invenção, novos agentes e novas paisagens possam emergir no cenário
audiovisual nacional. É hora de pensar a cadeia da produção e consumo cinematográficos em
seu conjunto, de entender a rede de relações e a interdependência entre os diversos formatos
audiovisuais. Não há como pensar o mercado cinematográfico apostando na falsa contradição
entre um cinema dito comercial e outro de vocação autoral. Parte das reconhecidas
dificuldades enfrentadas atualmente pela indústria audiovisual brasileira têm sua origem em
dicotomias artificiais como essa.
Queremos uma política pública que reconheça os novos modelos de produção, que distribua
melhor os recursos já existentes de modo a ampliar o escopo do fomento, que desenvolva
políticas efetivas de distribuição e exibição, que avance na estruturação comercial do setor, na
democratização da produção e do consumo dos bens culturais, e que aposte no cinema como
janela privilegiada para o desenvolvimento e a soberania. Para isso, propomos as seguintes
ações:
1) Criar linhas específicas de fomento para formatos de produção que primem pela
inovação técnica e artística, com orçamentos de menor porte. Que estas linhas
específicas, já sinalizadas pelos Editais de Baixo Orçamento da Secretaria do
Audiovisual, possam também ser aplicadas de maneira comprometida e responsável
em outras ações de fomento como o Fundo Setorial do Audiovisual e as políticas de
fomento direto da ANCINE para empresas de produção, distribuição e exibição, como
forma de estimular e testar alternativas para a estruturação comercial do setor.
2) Desenvolver uma política de fomento específica para a distribuição e exibição de
filmes de baixo orçamento, incentivando a estruturação comercial de empresas
distribuidoras que se dediquem a este segmento. É preciso fazer experiências de
mercado com estes filmes sem subestimar seu potencial comercial. Fortalecer o
circuito alternativo de cineclubes como o Cine Mais Cultura e apostar em programas
de expansão do parque exibidor como o Cinema Perto de Você. Investir na
comercialização dessa produção é uma maneira de formar novas platéias com filmes
que têm recebido grande atenção dos principais festivais de cinema do Brasil e do
mundo.
3) Valorizar e ampliar as instâncias formuladoras de políticas para o setor, que
reconheçam a pluralidade dos modos de produção e contemplem uma maior
representatividade de todos os agentes.
4) Fortalecer e equipar os espaços de produção inclusiva e democrática, dos Pontos de
Cultura aos CTAv’s. Acreditamos na necessidade urgente de fazer do CTAv um grande
espaço para a profissionalização da finalização que agregue valor e diminua custos
para conteúdos realizados à margem das principais políticas de fomento.5) Construir uma política unificada e ousada de internacionalização de nossa produção,
que aproveite as boas experiências dos programas de apoio da ANCINE, da SAV e do
MRE, articulando um conjunto de ações para consolidar a presença internacional de
nosso cinema de modo planejado e integrado, desde o desenvolvimento dos projetos
– com o incremento dos acordos de co‐produção – até o posicionamento do filme no
mercado mundial.
Ainda em seu discurso de posse, nossa presidenta lembrou o escritor Guimarães Rosa: “O
correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e
depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Coragem para reconhecer que
existem alternativas já em curso, cuja viabilidade muitas vezes se dá à margem das principais
políticas de fomento, e que, apesar disso, encontram seu espaço nos grandes eventos
internacionais e conquistam seu público. Coragem para assumir a necessidade de distribuir de
forma conseqüente os recursos do setor, permitindo ampliar o número de agentes. Coragem
para encarar os privilégios e não se deixar seduzir por suas promessas historicamente não
cumpridas. Coragem para promover a inclusão e valorizar a diferença. Coragem para saber que
aqui a produção mais plural e independente está regulada por uma agência nacional e que o
grande capital privado opera sem uma política séria, integrada e socialmente construída de
regulação, como é o caso da TV e da publicidade. Coragem para saber que o caminho é longo,
mas passos importantes já foram dados. Coragem como quer o Brasil e requer seus Brasis.
Sergio Borges (realizador ‐ MG), Felipe Bragança (realizador ‐ RJ), Gabriel Mascaro (realizador ‐ PE),
Bruno Safadi (realizador ‐ RJ), Ricardo Targino (realizador ‐ MG), Eryk Rocha (realizador ‐ RJ), Tiago
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Lins (realizadora, professora e pesquisadora – RJ), Cezar Migliorin (realizador, professor e
pesquisador – RJ), Ivana Bentes (professora e pesquisadora – RJ), João Junior (produtor – PE), Vania
Catani (produtora), Karin Ainouz (realizador – CE).
http://www.mostratiradentes.com.br/noticia-detalhe.php?menu=not&codNot=151
Eis o texto, extraído de http://www.mostratiradentes.com.br/noticia-detalhe.php?menu=not&codNot=151
Recomendamos divulgação.
CARTA DE TIRADENTES
Amanhece um novo tempo no horizonte. Novas paisagens, novas questões, novos agentes,
novas imagens e sons se multiplicam por todas as regiões do país, refletindo a imensa
diversidade cultural do Brasil.
A construção de políticas públicas inclusivas, descentralizadas e transparentes – aliadas às
facilidades trazidas pelas novas tecnologias de produção audiovisual – favoreceram o
surgimento dessa nova realidade do cinema brasileiro. Moradores de municípios de menos de
20 mil habitantes passaram a fazer filmes através do programa Revelando os Brasis. Estivemos
nas telas dos grandes festivais do mundo. Um filme brasileiro liderou as bilheterias e bateu
recorde de público. Todas as vitórias pertencem ao conjunto da atividade cinematográfica e às
iniciativas do poder público. Entretanto, é preciso reconhecer que, apesar das elevadas somas
investidas através de políticas de renúncia fiscal, a indústria cinematográfica nacional ainda
não conquistou sua independência do fomento público; que a maior parte desses recursos
continuam concentrados nas mãos de poucos agentes; que nossa presença no mercado
internacional é tímida frente ao potencial do setor e aos montantes investidos.
Sabemos do lugar estratégico do cinema para o futuro do país e para sua afirmação como
nação soberana. As palavras da presidenta Dilma Rousseff em seu discurso de posse apontam
para esse avanço: “o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo
econômico ou no campo do desenvolvimento econômico pura e simplesmente. Ele pressupõe o
avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um
povo, essência de sua identidade. Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o
consumo de nossos bens culturais em todas as regiões e expandindo a exportação de nossa
música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.”
O Brasil resolveu, afinal, trilhar um caminho original e independente de desenvolvimento e
soberania – um caminho fundado no crescimento econômico com distribuição de renda e
inclusão social. O Brasil vive um momento histórico de ampliação de cidadania e participação
democrática. Setores até então excluídos ganharam imagem e voz na cena política, tornando‐
se protagonista de importantes mudanças na realidade social. No campo do audiovisual,
surgiram novos realizadores, muitos produzindo de forma absolutamente independente. A
produção cinematográfica brasileira nunca foi tão diversa e plural como hoje. A maior parte
desses filmes, no entanto, e apesar da enorme atenção que vem recebendo de prestigiados
espaços da atividade cinematográfica no Brasil e no mundo – como os festivais de Tiradentes,
Brasília, Cannes, Berlim, Veneza, Locarno e Rotterdam –, permanece alijada dos grandes
lançamentos e das salas do circuito comercial. Felizmente, com o digital e uma gigantesca
pulverização das formas de acesso aos filmes, essas obras ganharam muitas outras maneiras
de existir fora do grande circuito de exibição convencional. Elas estão nos festivais, mostras,
cineclubes, salas de aula, computadores, camelôs – em lugares que nem salas de cinema
possuem (afinal, apenas 8% dos municípios brasileiros possuem salas de exibição). Este
cinema, agora, precisa ser entendido em sua importância democratizante e simbólica. É
urgente ultrapassar o bloqueio imposto por estruturas historicamente consagradas à
manutenção de privilégios no acesso à produção e ao consumo dos bens culturais. Estes novos
filmes já funcionam como farol da nossa cultura no intercâmbio simbólico entre os povos. Eles afirmam nosso lugar no mundo. Compreendem novos modelos de produção – muitas vezes,
mais baratos. São filmes inovadores que não podem mais ser ignorados.
É chegada a hora de questionar privilégios cristalizados e de se criar mecanismos de inclusão
para que a novidade, a invenção, novos agentes e novas paisagens possam emergir no cenário
audiovisual nacional. É hora de pensar a cadeia da produção e consumo cinematográficos em
seu conjunto, de entender a rede de relações e a interdependência entre os diversos formatos
audiovisuais. Não há como pensar o mercado cinematográfico apostando na falsa contradição
entre um cinema dito comercial e outro de vocação autoral. Parte das reconhecidas
dificuldades enfrentadas atualmente pela indústria audiovisual brasileira têm sua origem em
dicotomias artificiais como essa.
Queremos uma política pública que reconheça os novos modelos de produção, que distribua
melhor os recursos já existentes de modo a ampliar o escopo do fomento, que desenvolva
políticas efetivas de distribuição e exibição, que avance na estruturação comercial do setor, na
democratização da produção e do consumo dos bens culturais, e que aposte no cinema como
janela privilegiada para o desenvolvimento e a soberania. Para isso, propomos as seguintes
ações:
1) Criar linhas específicas de fomento para formatos de produção que primem pela
inovação técnica e artística, com orçamentos de menor porte. Que estas linhas
específicas, já sinalizadas pelos Editais de Baixo Orçamento da Secretaria do
Audiovisual, possam também ser aplicadas de maneira comprometida e responsável
em outras ações de fomento como o Fundo Setorial do Audiovisual e as políticas de
fomento direto da ANCINE para empresas de produção, distribuição e exibição, como
forma de estimular e testar alternativas para a estruturação comercial do setor.
2) Desenvolver uma política de fomento específica para a distribuição e exibição de
filmes de baixo orçamento, incentivando a estruturação comercial de empresas
distribuidoras que se dediquem a este segmento. É preciso fazer experiências de
mercado com estes filmes sem subestimar seu potencial comercial. Fortalecer o
circuito alternativo de cineclubes como o Cine Mais Cultura e apostar em programas
de expansão do parque exibidor como o Cinema Perto de Você. Investir na
comercialização dessa produção é uma maneira de formar novas platéias com filmes
que têm recebido grande atenção dos principais festivais de cinema do Brasil e do
mundo.
3) Valorizar e ampliar as instâncias formuladoras de políticas para o setor, que
reconheçam a pluralidade dos modos de produção e contemplem uma maior
representatividade de todos os agentes.
4) Fortalecer e equipar os espaços de produção inclusiva e democrática, dos Pontos de
Cultura aos CTAv’s. Acreditamos na necessidade urgente de fazer do CTAv um grande
espaço para a profissionalização da finalização que agregue valor e diminua custos
para conteúdos realizados à margem das principais políticas de fomento.5) Construir uma política unificada e ousada de internacionalização de nossa produção,
que aproveite as boas experiências dos programas de apoio da ANCINE, da SAV e do
MRE, articulando um conjunto de ações para consolidar a presença internacional de
nosso cinema de modo planejado e integrado, desde o desenvolvimento dos projetos
– com o incremento dos acordos de co‐produção – até o posicionamento do filme no
mercado mundial.
Ainda em seu discurso de posse, nossa presidenta lembrou o escritor Guimarães Rosa: “O
correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e
depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Coragem para reconhecer que
existem alternativas já em curso, cuja viabilidade muitas vezes se dá à margem das principais
políticas de fomento, e que, apesar disso, encontram seu espaço nos grandes eventos
internacionais e conquistam seu público. Coragem para assumir a necessidade de distribuir de
forma conseqüente os recursos do setor, permitindo ampliar o número de agentes. Coragem
para encarar os privilégios e não se deixar seduzir por suas promessas historicamente não
cumpridas. Coragem para promover a inclusão e valorizar a diferença. Coragem para saber que
aqui a produção mais plural e independente está regulada por uma agência nacional e que o
grande capital privado opera sem uma política séria, integrada e socialmente construída de
regulação, como é o caso da TV e da publicidade. Coragem para saber que o caminho é longo,
mas passos importantes já foram dados. Coragem como quer o Brasil e requer seus Brasis.
Sergio Borges (realizador ‐ MG), Felipe Bragança (realizador ‐ RJ), Gabriel Mascaro (realizador ‐ PE),
Bruno Safadi (realizador ‐ RJ), Ricardo Targino (realizador ‐ MG), Eryk Rocha (realizador ‐ RJ), Tiago
Mata Machado (realizador ‐ MG), Maya Da‐Rin (realizadora ‐ RJ), Marília Rocha (realizadora ‐ MG),
Marina Meliande (realizadora ‐ RJ), Pedro Urano (realizador e diretor de fotografia ‐ RJ), Pablo
Lobato (realizador ‐ MG), Clarissa Campolina (realizadora ‐ MG), Helvécio Marins Jr. (realizador ‐
MG), Gustavo Spolidoro (realizador ‐ RS), Eduardo Valente (realizador, crítico e curador ‐ RJ), Flávia
Castro (realizadora ‐ RJ), Renata Pinheiro (realizadora e diretora de arte ‐ PE), Hilton Lacerda
(realizador e roteirista ‐ PE), Ricardo Pretti (realizador e montador ‐ CE), Fellipe Barbosa (realizador
e roteirista ‐ RJ), Leonardo Barcellos (realizador ‐ MG), Ricardo Alves Junior (realizador ‐ MG), Lara
Frigotto (produtora ‐ RJ), Sergio Oliveira (realizador e roteirista ‐ PE), Alê Castañeda (produtora ‐
RJ), Marcelo Pedroso (realizador ‐ PE), Karen Black (realizadora e cineclubista – RJ), Evandro
Dunoyer (realizador ‐ PE), Felipe Peres Calheiros (realizador ‐ PE), Marcelo Ikeda (realizador e
crítico ‐ CE), Andrea Capella (realizadora e diretora de fotografia ‐ RJ), Gustavo Beck (realizador ‐
RJ), Silvia Cruz (distribuidora ‐ SP), Allan Ribeiro (realizador ‐ RJ), Douglas Soares (realizador ‐ RJ),
Carol Durão (realizadora ‐ RJ), Lis Kogan (curadora ‐ RJ), Ângelo Defanti (realizador e produtor – RJ),
Francis Vogner dos Reis (crítico ‐ SP), Marcelo Caetano (realizador ‐ SP), Marcelo Toledo (realizador
‐ SP), Paolo Gregori (realizador ‐ SP), Andre Brasil (professor e pesquisador – MG), Patricia Moran
(realizadora, pesquisadora e professora ‐ MG), Marina Fraga (realizadora – RJ), Zeca Ferreira
(realizador ‐ RJ), Alonso Pafyeze (realizador e diretor de arte – MG), Sergio Jose de Andrade
(realizador – AM), Juliano Dornelles (realizador – PE), Eduardo Raccah (agente de vendas
internacional – RJ), Emilie Lesclaux (produtora – PE), Ava Rocha (realizadora e montadora – RJ),
Frederico Benevides (realizador e montador – CE), Luiz Pretti (realizador – CE), Daniel Queiroz
(curador – MG), Claudio Marques (realizador – BA), Marília Hughes (realizadora – BA), Eva
Randolph (realizadora e montadora – RJ), Dellani Lima (realizador – MG), Gustavo Pizzi (realizador –
RJ), Cavi Borges (realizador – RJ), Leonardo Sette (realizador – PE), Ivo Lopes Araujo (realizador e
diretor de fotografia – CE), , Philipi Bandeira (realizador – CE), Guilherme Withaker (produtor – RJ),
Alisson Ávila (produtor ‐ RS), Jaqueline Beltrame (produtor – RS), Morgana Rissinger (produtor –
RS), Ramiro Azevedo (produtor – RS), Débora Butruce (cineclubista e preservadora audiovisual),
Gabriela Amaral Almeida (realizadora ‐ BA), Michael Wahrmann (realizador – SP), Matheus Rocha (realizador e diretor de fotografia – BA), André Lavaquial (realizador – RJ), Andre Novais (realizador
– MG), Maurílio Martins (realizador – MG), Gabriel Martins (realizador – MG), Paula Gaitán
(realizadora – RJ), Daniel Lisboa (realizador – BA), Fabiano de Souza (realizador – RS), Milton do
Prado (produtor – RS), Karen Akerman (realizadora e montadora – RJ), Carla Maia (produtora –
MG), Guto Parente (realizador – CE), Pedro Diógenes (realizador – CE), Max Eluard (realizador),
Anna Azevedo (realizadora – RJ), Tião (realizador – PE), Marcelo Lordello (realizador – PE), Consuelo
Lins (realizadora, professora e pesquisadora – RJ), Cezar Migliorin (realizador, professor e
pesquisador – RJ), Ivana Bentes (professora e pesquisadora – RJ), João Junior (produtor – PE), Vania
Catani (produtora), Karin Ainouz (realizador – CE).
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
WikiLeaks é indicado para o Prêmio Nobel da Paz, extraído do "Terra Notícias"
02 de fevereiro de 2011 • 15h09 • atualizado às 18h48
Foto: AFP
Site criado pelo australiano Julian Assange enfrenta a ira dos EUA
O site WikiLeaks foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2011, disse nesta quarta-feira o parlamentar norueguês Snorre Valen, autor da proposta, um dia depois de encerrado o prazo para as candidaturas.
O Comitê do Nobel norueguês aceita até 1º de fevereiro as indicações para o prêmio considerado por muitos como a principal honraria do mundo, embora os cinco membros do painel tenham até o fim do mês para fazer as suas propostas.
Valen disse que o WikiLeaks é "uma das contribuições mais importantes para a liberdade de expressão e transparência" no século XXI. "Ao divulgar informações sobre corrupção, violações dos direitos humanos e crimes de guerra, o WikiLeaks é um candidato natural ao Prêmio Nobel da Paz", afirmou Valen.
Parlamentares, professores de direito ou de ciência política e laureados pelo prêmio em anos anteriores estão entre os que podem fazer indicações. O comitê não quis fazer comentários sobre a indicação do WikiLeaks nem de outras nomeações.
O governo dos EUA está furioso com o WikiLeaks e com o seu fundador, Julian Assange, pela divulgação de dezenas de milhares de documentos secretos e telegramas diplomáticos que, segundo Washington, prejudicou os interesses norte-americanos no exterior, incluindo os esforços de paz.
O australiano Assange pode ser extraditado da Grã-Bretanha para a Suécia para ser interrogado num caso de suposto abuso sexual que, segundo ele e seus simpatizantes, é uma campanha destinada a fechar o WikiLeaks, uma organização sem fins lucrativos fundada por grupos de direitos humanos e pela sociedade civil.
Uma premiação do WikiLeaks provavelmente provocaria críticas ao Comitê do Nobel, que já causou polêmica com suas duas escolhas mais recentes - o ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo e o presidente dos EUA, Barack Obama, alguns meses após ter vencido a eleição.
O prêmio foi criado pelo sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, que disse em seu testamento que o laureado deveria ser aquele "que fez o melhor e maior trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução dos Exércitos existentes e para a manutenção e promoção dos congressos da paz".
-extraído do "Terra Notícias" http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4925820-EI294,00-WikiLeaks+e+indicado+para+o+Premio+Nobel+da+Paz.html em 02/02/11

Site criado pelo australiano Julian Assange enfrenta a ira dos EUA
O site WikiLeaks foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2011, disse nesta quarta-feira o parlamentar norueguês Snorre Valen, autor da proposta, um dia depois de encerrado o prazo para as candidaturas.
O Comitê do Nobel norueguês aceita até 1º de fevereiro as indicações para o prêmio considerado por muitos como a principal honraria do mundo, embora os cinco membros do painel tenham até o fim do mês para fazer as suas propostas.
Valen disse que o WikiLeaks é "uma das contribuições mais importantes para a liberdade de expressão e transparência" no século XXI. "Ao divulgar informações sobre corrupção, violações dos direitos humanos e crimes de guerra, o WikiLeaks é um candidato natural ao Prêmio Nobel da Paz", afirmou Valen.
Parlamentares, professores de direito ou de ciência política e laureados pelo prêmio em anos anteriores estão entre os que podem fazer indicações. O comitê não quis fazer comentários sobre a indicação do WikiLeaks nem de outras nomeações.
O governo dos EUA está furioso com o WikiLeaks e com o seu fundador, Julian Assange, pela divulgação de dezenas de milhares de documentos secretos e telegramas diplomáticos que, segundo Washington, prejudicou os interesses norte-americanos no exterior, incluindo os esforços de paz.
O australiano Assange pode ser extraditado da Grã-Bretanha para a Suécia para ser interrogado num caso de suposto abuso sexual que, segundo ele e seus simpatizantes, é uma campanha destinada a fechar o WikiLeaks, uma organização sem fins lucrativos fundada por grupos de direitos humanos e pela sociedade civil.
Uma premiação do WikiLeaks provavelmente provocaria críticas ao Comitê do Nobel, que já causou polêmica com suas duas escolhas mais recentes - o ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo e o presidente dos EUA, Barack Obama, alguns meses após ter vencido a eleição.
O prêmio foi criado pelo sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, que disse em seu testamento que o laureado deveria ser aquele "que fez o melhor e maior trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução dos Exércitos existentes e para a manutenção e promoção dos congressos da paz".
-extraído do "Terra Notícias" http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4925820-EI294,00-WikiLeaks+e+indicado+para+o+Premio+Nobel+da+Paz.html em 02/02/11
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